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Grêmio Mauaense pode sair de cena
Nelson Cilo
Do Diário do Grande ABC
16/08/2009 | 07:38
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O último a sair que apague a luz. Afinal, o Grêmio Mauaense pode fechar as portas do time depois da última e inútil batalha contra o Taubaté, às 10h de hoje, no Vale do Paraíba, no encerramento da segunda fase pelo Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Pior do que arrastar a lanterna é o risco do clube de sumir do circuito profissional para servir apenas como laboratório de talentos, como Diego Seixas, a caminho do futebol alemão.

O primo pobre do futebol do Grande ABC despencou para o abismo de tantas humilhações.

Houve de tudo nos últimos tempos. Os jogadores viram a cor do dinheiro só no pagamento de abril. De lá para cá, nenhum tostão. No máximo, receberam vales ocasionais do técnico Zé Maria e do médico Hairton Campos. Às vezes, o doutor, 47 anos, trocava o bisturi para vestir a camisa número cinco de volante. E não é que alguns torcedores quiseram agredir Zé Maria na recente derrota para o Elosport?

Depois de assumir equipes do tamanho do Corinthians e da Portuguesa nas temporadas de 1989/1990, ele protagonizou cena inusitada no ambiente do Grêmio Mauaense.

O personagem que um dia orientou Ronaldo, Neto, Marcelo Djan, Tupãzinho, Dinei, Jacenir, Viola, Mauro, Giba, Márcio Bittencourt e Wilson Mano chorou antes de iniciar a palestra no meio do gramado. Logo ele, que um dia revelou os tetracampeões Viola e Paulo Sérgio, além de Rodrigo Fabri, Tico, Bentinho e Denner (já falecido).

Ele admite, porém, que não tinha experiência para comandar um grupo de feras. "A pressão me incomodava. A nossa cultura esportiva não permite duas ou três derrotas", constata.

Zé Maria conta que resistiu às rotineiras cobranças de uma exigente Fiel. Isso até que contabilizasse 36 vitórias - façanha recompensada pela Taça dos Invictos. Às vésperas do Campeonato Brasileiro de 1990, passou o cargo a Nelsinho Baptista, que conduziria o Alvinegro ao título nacional.

O empresário bem-sucedido no ramo de automóveis (é sócio de uma loja na área central de São Paulo) confessa que acumula prejuízos no futebol. "É a paixão que me prende aqui", justifica, ao falar de uma insuportável crise traduzida pelos três meses de salários atrasados.

Zé Maria procura destacar a cumplicidade absoluta daqueles que tocaram o barco nas tempestades: o presidente Joaquim Ferreira, os preparadores físicos Eriberto dos Reis Lima e Marcos Franco, o gerente Paulo Canhoto e os diretores Josmir Ferraz e Nelson Caveirinha - este como frequentador de um triste cenário na tentativa de achar os futuros Kakás e Ronaldinhos.

Se o Grêmio sair mesmo de cena, os persistentes alunos de Zé Maria ficarão sem rumo na vida. Além de Adelmo, 28 anos, o líder da turma, lá estão Henrique, Felipe, Renato Raposo, Gri, Marcelo Mutante, Eduardo, Márcio, Danilo Souza, Ferrari, Luís Fabiano, Danilo Mota, Silvinho, Marquinhos, Diego Seixas, Carlos Bispo, Boy Maravilha, Cidão, Maceió, Marlon, Nelinho e outros que perseguem os imprevisíveis caminhos da fama.

Clube ainda aposta no possível socorro do Santo André

Ninguém confirma ou desmente a hipótese de o Santo André, atual parceiro do Palestra de São Bernardo, também assumir o Grêmio Mauaense na próxima temporada. O vice-presidente da Gestão Empresarial do clube, Romualdo Magro Júnior, comentou na sexta-feira que o drama do clube de Mauá preocupa o presidente Ronan Maria Pinto. "Recentemente, ele (Ronan) falou qualquer coisa a respeito disso, mas não voltamos a tocar mais no assunto", afirmou.

No mesmo dia, o presidente do Grêmio, Joaquim Ferreira Neto, contou que um representante do Santo André chegou a procurá-lo para manifestar o interesse dos vizinhos do Grande ABC em firmar uma eventual parceria no futuro. Segundo ele, não houve maiores desdobramentos da conversa.

"Tudo se resumiu ao primeiro contato. Mas espero que dê certo. Seria nossa única esperança", observa o dirigente, que não acredita mais no apoio das autoridades de Mauá. "Aqui, não enxergam o esporte como algo de inclusão social", desabafou.




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