Na tentativa de atender dois patrões - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a opinião pública - a bancada de senadores do PT deve se reunir hoje para cumprir a orientação presidencial de apoiar a permanência do senador José Sarney (PMDB-AP) no cargo de presidente do Senado, ao mesmo tempo em que mantém o discurso de que a licença do peemedebista seria a melhor saída para a Casa.

Além de argumentar que a licença é um ato de decisão pessoal que não se pode impor a quem quer que seja, a bancada petista deve repetir que nunca defendeu a renúncia do presidente e que exigirá o compromisso de Sarney com uma reforma profunda do Senado.

Temerosos do impacto negativo dessa parceria com o PMDB, no entanto, os senadores querem dividir a responsabilidade do apoio a Sarney com a direção partidária. É por esta razão que todos os integrantes da executiva nacional petista, a começar pelo presidente nacional do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), estão sendo convidados a comparecer à reunião dos senadores. "Estamos chamando o Berzoini para se pronunciar, e quem mais da executiva que puder vir. A crise impõe que possamos dividir isto (a responsabilidade pela decisão) entre o governo, a bancada e o partido", explicou o senador João Pedro (PT-AM).

A expectativa é de que, antes da decisão, o líder da bancada, Aloizio Mercadante (SP), apresente um relato sobre a conversa de Sarney com o presidente Lula. Os petistas dizem que precisam ser atualizados sobre as últimas conversas. Lembram que, depois do jantar da bancada com Lula no Palácio da Alvorada, na quinta-feira, o presidente encontrou-se com Sarney para tratar da crise do Senado. E querem saber como foi a conversa em que o senador confirmou ao presidente sua disposição de continuar à frente do Planalto, desde que tenha o apoio do PT e da base governista.

Em discurso na tribuna do Senado, o líder Mercadante destacou que nem o PT nem os demais partidos governistas ou de oposição falaram em renúncia do presidente do Senado. Os senadores petistas também concordam com o presidente Lula na avaliação de que a renúncia seria a pior solução. Do que Mercadante não abre mão é de expressar publicamente a posição majoritária de sua bancada em favor da licença do presidente para aplacar a crise, até que as responsabilidades sejam apuradas e os responsáveis, punidos.

O senador Paulo Paim (PT-RS), lembra que o líder fez questão de dizer a Lula que, se não puder conduzir a bancada com autonomia, preferia renunciar. "Você vai renunciar ao mandato de senador só por causa disso?", brincou Lula. Mercadante explicitou: "Renunciaria à liderança, presidente."

Lula e a maioria dos petistas entendem que, se Sarney sair do comando do Senado, não haverá substituo no PMDB capaz de aglutinar a bancada em torno dele e do governo.