Com valores corrigidos, renda familiar diminuiu de R$ 3.600
para R$ 3.463; isso significa que o poder de compra reduziu
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A renda média mensal das famílias do Grande ABC diminuiu 3,81% em 2012. Entre as maiores influências para esse decréscimo está a desaceleração da economia que resfriou a indústria. O setor é o que paga melhor na região, mas teve um ano difícil, tanto que 23 mil vagas foram fechadas nas sete cidades. Desta maneira, o ramo de serviços seguiu em caminho oposto, apresentou alta de 9,45% no rendimento, que passou a representar 92% do salário médio dos metalúrgicos, contra 78% em 2011.
Com valores corrigidos para fevereiro, a renda média familiar diminuiu de R$ 3.600 para R$ 3.463. Isso significa que o poder de compra dos consumidores reduziu. "Basicamente quer dizer que os preços subiram mais do que o aumento do rendimento. Desta maneira, houve um decréscimo na capacidade do consumidor pagar pelo mesmo número de produtos e serviços que comprava no ano anterior", explicou o professor de Economia Volney Gouveia, da Fundação Santo André.
São Caetano foi a cidade cujo rendimento médio das famílias teve a maior queda, de 8,79%, o equivalente a R$ 414 a menos. Em 2011, por mês, entrava R$ 4.717 em cada domicílio, em média. No ano passado, o valor reduziu para R$ 4.303.
Em seguida aparece Diadema, com decréscimo de 8,30%, passando de R$ 2.405 para R$ 2.205. Depois está listada São Bernardo, cujo valor diminuiu de R$ 4.367 para R$ 4.020. E por fim, Santo André, com queda de 4,34% na renda média familiar, que encolheu de R$ 4.352 para R$ 4.163.
Por outro lado, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra apresentaram expansão nos ganhos das famílias de, respectivamente, 6,02%, 3,01% e 8,71%.
As informações são da mais recente Pesquisa Socioeconômica do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano). A coleta das entrevistas que compõem os resultados ocorreu em agosto de 2012 e foi comparada com o mesmo período do ano anterior. Para chegar aos valores corrigidos, foi utilizado o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
CENÁRIO - Coordenador do Inpes/USCS, Leandro Prearo avaliou que o resultado é um espelho do mau período que a indústria percorreu em 2012, que teve queda na renda média e derrubou a média da região. "Enquanto isso, os setores de serviços e de comércio conquistaram acréscimos significativos."
O instalador LA (técnico em telecomunicação) Francir Lopes Pinheiro não está muito contente com o incremento que seu salário teve no dissídio de 2011 para 2012. Mas revelou que o aumento foi o suficiente para, após algumas contas em casa, financiar uma moto. "Eu consegui só em 2012 porque em 2011 eu ganhava menos", comenta.
Menos pessoas pertencem à classe A no Grande ABC
A renda média das famílias da classe de consumo A no Grande ABC aumentou 5,52% na comparação com 2011 e 2012. No entanto, participação desse grupo na população caiu de 5,4% para 4,7%. Por outro lado, o rendimento médio da classe B diminuiu 9,16%. Porém, a presença desses consumidores subiu, passando de 50% para 51,4% dos habitantes das sete cidades. A renda da classe de consumo C retraiu 5,56% e dos grupos D e E expandiu 6,54%.
Os resultados são da mais recente Pesquisa Socioeconômica do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano). Na avaliação do coordenador do instituto, Leandro Prearo, uma hipótese para este fenômeno também está ligada ao impacto que a indústria causou na renda média familiar do Grande ABC.
"Se a família mandou embora a empregada doméstica, por exemplo, ela perde muitos pontos no critério de classificação da classe de consumo. Esse pode ser um dos motivos para que algumas que estavam no limite base da renda da classe A passassem para a classe B, desta maneira o rendimento médio dos mais abastados também subiu", explica Prearo.
A pesquisa socioeconômica tem como base o Critério Brasil para definir a classe de consumo das famílias. Essa metodologia atribui pontos para alguns bens e serviços que os consumidores têm. Neste caso, além da empregada doméstica, se a família teve que vender um carro, por exemplo, também perde pontos e desce na escala.
Indústria cai e serviços ganham força
O emprego na indústria recuou 1,4% em 2012 no País. A produção do setor diminuiu 2,7%, sendo que no Estado de São Paulo, 3,9%. O valor adicionado no PIB (Produto Interno Bruto) por essas empresas caiu 0,8%. Esses são fatores que ajudam a explicar um capítulo amargo na vida dos metalúrgicos. A renda média deles no Grande ABC encolheu 7,28% em 2012, descontando a inflação, passando para R$ 1.922,66. Um ano antes, o valor estava em R$ 2.073,58.
Essa foi a tradução da redução de 23 mil postos de trabalho no setor, na região, em 2012. E ainda há a hipótese de que aqueles que tentaram uma recolocação conseguiram salários menores, sem a gordura ganha pelos dissídios dos anos trabalhados. "Pensando em mercado de trabalho, essa é uma possibilidade real, tendo em vista o aumento do saldo negativo de empregos que a indústria apresentou", analisa o professor de Economia da Fundação Santo André Volney Gouveia.
"Do outro lado, o resultado foi positivo no setor de serviços, mas os salários ainda não sustentam uma alta média da renda na região", concluiu. Realmente os trabalhadores prestadores de serviços foram os protagonistas. A renda média, nas sete cidades, subiu 9,45%. No ano passado, eles recebiam R$ 1.782,43. Doze meses antes, era R$ 1.628,52.
Isso fez com que a desigualdade de renda diminuísse entre os dois setores. Os salários de serviços encerraram 2012 representando 92% dos rendimentos dos metalúrgicos. Em 2011, a parcela era de 78%. O mecânico Edmar Alves está nessa lista. Foi demitido de uma indústria de plástico em junho. Mas não lamenta. "Achei que estava na hora de entrar em outro ramo." No mesmo mês ele foi efetivado no emprego atual e comemora: "Ganho a mesma coisa que ganhava no antigo trabalho."
A demanda por serviços está aquecida no País. Os indicadores de inflação têm revelado isso. A procura é grande e a oferta, muitas vezes, não supre à altura, o que faz com que os preços subam. No caso do proprietário da oficina Joda's, em São Bernardo, João Dasio dos Santos, a procura por seus serviços elevou, mas os seus preços não. "O ano passado foi muito movimentado. A procura é grande. Mas os meus gastos aumentaram, não subi o preço e a margem diminuiu", disse. Ele brinca ainda que já está ficando velho. "Estou com quase 60. Já tive nove funcionários. Mas agora só mantenho dois, porque senão é muito serviço, muita dor de cabeça", explicou.
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