Política Titulo Região
Em 18 anos, Consórcio tem desempenho abaixo do esperado

Entidade regional completa maioridade em dezembro, mas não cumpre objetivo idealizado por Celso Daniel

Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
23/11/2008 | 07:38
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O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC completa 18 anos no próximo 19 de dezembro sem ter o que comemorar. A entidade, dirigida pelos prefeitos das sete cidades da região, atinge a maioridade com realizações aquém do esperado e com futuro incerto.

A instituição foi idealizada pelo prefeito de Santo André Celso Daniel, em 1991, com o propósito de promover formas articuladas de desenvolvimento local, principalmente no quesito preservação do meio ambiente. As metas iniciais visavam a despoluição do Rio Tamanduateí e da Represa Billings, a realização de obras de abastecimento de água, saneamento básico, prevenção de enchentes, além de coleta, tratamento e destinação do lixo.

Entretanto, o cenário atual continua quase o mesmo de 18 anos atrás. Avanços concretos foram obtidos somente na área de contenção de alagamentos, com a implementação dos piscinões para reter a água das chuvas.

O descrédito causado pela ausência gradativa dos chefes de Executivo nas reuniões ordinárias e a falta de poder de execução de projetos são alguns dos fatores que levaram o Consórcio à morosidade.

Nos quatro últimos encontros do conselho de municípios, por exemplo, compareceram somente os prefeitos de Santo André, João Avamileno (PT), atual presidente da entidade; de Mauá, Leonel Damo (PV), vice-presidente; e de Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira (PSDB). Os comandantes das outras quatro cidades enviaram representantes.

O tucano, que esteve à frente do órgão no ano passado, minimiza o desinteresse dos demais chefes do Executivo. "São pessoas com a agenda muito ocupada. Quando necessário, nos encontros importantes, eles estavam lá", pondera, ao citar compromissos com secretarias do governo estadual.

Modelo - O modelo administrativo do Consórcio Intermunicipal surgiu como exemplo para os demais centros urbanos do Brasil. Porém, da mesma forma que empolgou, iludiu. Exemplo mais recente da penúria pela qual passa a instituição é a passividade com que é tratada a verba de R$ 400 mil liberada pelo governo federal, desde setembro de 2007. Até o momento, a produção de um plano de turismo para o Grande ABC, para o qual os recursos foram destinados, não foi desenvolvida.

Além disso, o suprapartidarismo disseminado também não é levado à risca. Das 18 gestões anuais, nove delas tiveram prefeitos petistas presidentes do Consórcio (veja arte abaixo). E Ribeirão Pires, uma das cidades de menor expressão da região, foi a que mais indicou líderes à entidade: cinco.

Entidades permanecem fora do Consórcio

O prefeito de Santo André, João Avamileno (PT), assumiu a presidência do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC no início do ano com um desafio: abrir espaço para representantes da sociedade civil participarem das discussões em busca de soluções para os problemas da região. Mas a intenção não foi adiante.

A resistência dos demais prefeitos em deixar de fora as entidades é o principal obstáculo a ser superado. O argumento para não dar voz às instituições no Consórcio é que já há um organismo para receber as demandas sociais: a Câmara Regional.

O dispositivo foi criado em 1997 para trabalhar as questões que excediam o escopo inicial do Consórcio. A Câmara concentra os setores político, privado e da sociedade civil para avançar nos aspectos econômico e social. Mesmo com a participação de organizações da comunidade, o quadro também é preocupante.

Desde sua concepção, foram firmados 75 acordos com o governo estadual e outras instituições públicas. Somente 33 foram concluídos, conforme relatório preliminar da entidade. Os últimos acordos foram efetuados em fevereiro de 2004 - alguns estão em andamento e outros foram simplesmente paralisados ou encerrados.

Em muitas ocasiões, os deputados são mais rápidos e eficientes do que as ações promovidas pelo Consórcio. Neste ano, quatro parlamentares angariaram R$ 70 milhões do orçamento federal para a construção de um hospital municipal em São Bernardo. Enquanto isso, o Consórcio recebeu abaixo-assinado da população e tenta junto ao governo do Estado a liberação de recursos para implementação de uma grande unidade de Saúde para atender as demandas de Mauá e Ribeirão Pires.

Futuro - Na avaliação de especialistas e políticos da região, o diagnóstico para que o Consórcio obtenha o vigor desejado é a modernização do sistema atual. A saída seria incrementar o orçamento da entidade, a qual deveria ostentar poder de execução. Seria como uma autoridade maior que o município e menor do que o Estado. Mas essa iniciativa esbarra na lei dos consórcios, que não prevê esse tipo de capacidade.

"Não é fácil fazer o Consórcio funcionar, pois não há função impositiva. Tudo tem de ser tratado na base do acordo. Com personalidade própria haveria mais avanços", analisa o cientista político Rui Tavares Maluf.

O coro pela mudança do perfil do órgão é engrossado pelo ex-prefeito de São Bernardo Maurício Soares. "Uma administração profissionalizada seria a melhor opção."

O chefe do Executivo de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV), também sugere uma nova Era na instituição. "O passo à frente é a execução de projetos próprios", destaca. "Gostaria de maior independência", completa o comandante de Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira (PSDB).




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