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'O PT subestimou o PTB', afirma Dinah
Leandro Laranjeira
Do Diário do Grande ABC
03/11/2008 | 07:34
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Vereadora em Santo André há 16 anos, dos quais a maioria como oposição ao governo petista, Dinah Zekcer (PTB) é uma das pessoas mais respeitadas na política andreense. Partidária, a contragosto abriu mão de disputar a reeleição para integrar um projeto maior: ser candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo colega de bancada Aidan Ravin.

O esforço foi recompensado. Dinah, que havia iniciado projeto de recolocar o PTB em um local de destaque na cidade, foi eleita e ajudou a eleger vereador o marido e médico pediatra Israel Zekcer. Pessoa de posições fortes, sem papas na língua, Dinah está radiante: "Antes que alguém reclame, com razão, do fato de não ter uma única mulher na Câmara a partir do próximo ano, é bom ficar claro que não terá aqui, mas terá lá (na Prefeitura)."

Após uma eleição difícil, que contrariou todas as previsões, Dinah acredita que o PTB foi subestimado pelo PT e outros partidos.

A nova vice-prefeita afirma estar ciente de que a principal missão do seu governo será na área da Saúde. Ela garante que não será uma vice ausente. Quer ajudar, "na medida do possível", todos os projetos da Prefeitura. Mas não fala em assumir nenhuma secretaria em específico, embora já seja cotada para ser a titular da Pasta de Governo.

Além de comemorar o fato de ter integrado uma chapa que acabou com a hegemonia do PT na cidade, que durava 12 anos, Dinah vibra com o crescimento do PTB no Grande ABC. Das sete cidades da região, o partido elegeu prefeitos em Santo André e em São Caetano, e os vices em Santo André, São Bernardo, São Caetano e Rio Grande da Serra.

DIÁRIO - A sra. já afirmou que não será uma vice-prefeita inerte. Tem a intenção de assumir alguma secretaria em específico?
DINAH ZEKCER - Essa questão não foi definida. Eu e o Aidan (Ravin, prefeito eleito) vamos discutir. Faremos uma administração em conjunto. Claro que sei que não será tudo junto, até porque ele é o prefeito. Mas, no que eu puder, quero participar e colaborar com o governo.

DIÁRIO - Mas já se especula nos bastidores a possibilidade de a sra. assumir a Secretaria de Governo.
DINAH - Não fiz nenhum pedido ao Aidan. Nada foi conversado a esse respeito. Se já estão falando esse tipo de coisa é porque querem tumultuar o ambiente. É invenção.

DIÁRIO - Qual deve ser uma das primeiras ações do futuro governo? O que precisa ser mudado rapidamente?
DINAH - Certamente a Saúde. A maneira como o sistema está sendo trabalhado. Temos de implantar o nosso projeto do Poupatempo da Saúde, que é parecido com o modelo da Ama (Assistência Médica Ambulatorial, do governo paulistano). Trabalhar para montá-lo o mais rapidamente possível, pois trata-se de algo que não é tão caro nem tão difícil. Não construiremos nada agora, apenas aproveitaremos as estruturas já existentes.

DIÁRIO - A Saúde não é preocupação exclusivamente do povo de Santo André. Não teme uma pressão mais forte em cima do próximo governo, considerando que a sra. é empresária do ramo e o Aidan é médico?
DINAH - As cobranças serão maiores. Mas isso não assusta, especialmente se montarmos o que imaginamos. Faz um ano e pouco que o Poupatempo da Saúde está sendo estudado, não é de agora. Já temos tudo pronto e, assim que assumirmos, voltaremos a atenção para a Saúde. Além disso, na minha opinião, que não sou médica, temos de fazer trabalho preventivo, pois diminui o custo do Poder Público e ajuda a população. O trabalho preventivo vale mais do que a construção de hospitais. Não podemos deixar que casos simples evoluam para doenças crônicas.

DIÁRIO - Por mais de uma década a sra. manteve relação de amizade com o vereador Luiz Zacarias, do PR, na Câmara. No segundo turno, ele teve a chance de apoiá-la, mas foi para o lado do PT, contrariando a própria história. Como a sra. se sente em relação a essa situação?
DINAH - (Após silêncio lacônico) Realmente fiquei muito abalada. São muitos anos juntos e, de repente, vê-lo com aquele adesivo no peito (do candidato petista Vanderlei Siraque). Aquilo me marcou muito. Não entendo, até porque ele foi convidado diversas vezes para vir para o PTB. Acho que foi um ato de desespero. As pessoas, às vezes, tomam rumo errado, e acabam sendo prejudicadas. Ainda estou magoada, aborrecida e decepcionada. Tínhamos os mesmos projetos, assuntos. Precisarei de um tempo para entender o que aconteceu. Mas tentarei separar a amizade da política.

DIÁRIO - O PT subestimou o PTB nesta eleição?
DINAH - Com certeza. O PT e outros partidos, de alguma forma, fizeram isso com a gente. Acharam que não tínhamos a menor chance. É difícil acreditar em um partido com apenas 32 candidatos a vereador, sem dinheiro para a campanha, trabalhando contra duas máquinas, uma do (candidato democrata Raimundo) Salles e outra do Vanderlei Siraque. Mas não desistimos. Acreditamos até o fim. Nos dividimos para nos multiplicar. Era impressionante a vontade do pessoal na rua. Apenas quando conseguimos ir para o segundo turno é que recebemos ajuda de São Caetano, Rio Grande da Serra, mais fortemente de São Paulo, e conseguimos fazer campanha a prefeito. No primeiro turno tivemos divulgação de candidatura a vereador.

DIÁRIO - O resultado da eleição mostrou um anti-petismo exagerado em função do desgaste de 12 anos de governo ou realmente uma aposta no projeto do PTB?
DINAH - Foi mais isso do que anti-petismo. Eles tiveram 150 mil votos (175 mil), não é de se jogar fora. Além disso, a maneira como o Aidan conversa com as pessoas. Ele é muito carismático. É a coisa mais impressionante que já vi na vida.

DIÁRIO - Essa é a explicação para o fenômeno de votos no qual Aidan se tornou?
DINAH - Sim. O Celso Daniel (prefeito petista assassinado em 2002 e considerado a última grande liderança da região) também era assim. Mas ele vinha de uma família tradicional da cidade. As pessoas votavam nele porque o conheciam. Havia também um entusiasmo em função de o PT ser um partido novo. Então, era diferente. Nós vínhamos de uma decadência do PTB, que comecei a levantar como presidente recentemente.

DIÁRIO - Mas o PTB voltou a ser uma das maiores forças políticas do Grande ABC?
DINAH - Não esperávamos esse crescimento tão rapidamente. Tivemos apoio muito importante da executiva estadual, o que nos motivou. Agora, temos dois prefeitos (Santo André e São Caetano) e quatro vices (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Rio Grande da Serra). Isso é bom até para o Consórcio Intermunicipal. Quem sabe agora não conseguimos de fato fazer um trabalho regional?

DIÁRIO - O que será mais difícil na troca do Legislativo pelo Executivo após 16 anos?
DINAH - Já estou com saudades. Gosto demais do que faço. Agora é outra situação. Acredito que acharei meu caminho lá também.

DIÁRIO - O PT ficará isolado como oposição na Câmara?
DINAH - Embora tenha ficado surpresa com a declaração de apoio do Sargento Juliano (presidente do PMDB), não acredito nisso. Ah! E antes que alguém reclame, com razão, do fato de não ter uma única mulher na Câmara a partir do próximo ano, é bom ficar claro que não terá aqui mas terá lá (na Prefeitura). Isso é o mais importante (risos).




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