Pioneiro no questionamento de tabus sexuais na MPB, intérprete performático e artista acolhido pela crítica e pelo público. Aos 66 anos, Ney de Souza Pereira, ou Ney Matogrosso, como é nacionalmente conhecido desde o início dos anos 1970, poderia ser definido dessas e de muitas outras maneiras.

 Mas como fica explícito no show Inclassificáveis, que ele realiza hoje, às 22h, no Citibank Hall, em São Paulo, o cantor sempre demonstrou desprezo por rótulos simplistas.

 O espetáculo, que também será apresentado nos próximos dias 3, 4 e 5, no mesmo local, é baseado no homônimo e recém-lançado CD, em que Ney reveste com elegância obras de compositores de gerações posteriores à sua.

REPERTÓRIO

 Entre os destaques do disco, composto por 16 faixas, está a bela regravação de O Tempo Não Pára, de Arnaldo Brandão e Cazuza, e Veja Bem, Meu Bem, do “hermano em recesso por tempo indeterminado”, Marcelo Camelo. Outro bom momento do álbum, que se caracteriza por arranjos com acento pop-rock, é a inventiva faixa-título, escrita por Arnaldo Antunes. “Aqui somos mestiços, mulatos, cafuzos, pardos, tapuias, tupinamblocos, americarataís, yorubárbaros”, diz um dos trechos da canção, que exalta a pluralidade cultural.

 “Esse foi um repertório que eu vim montando muito vagarosamente. Já sabia que ia gravar O Tempo Não Pára. Tinha gravado para um especial da Globo, mas não era o meu arranjo. Também me mandaram várias músicas”, explica Ney, que excursiona com o show Inclassificáveis desde outubro de 2007.

 O cantor não se esqueceu de seus contemporâneos e regravou Divino Maravilhoso (de Gilberto Gil e Caetano Veloso) e Ode aos Ratos, de Edu Lobo e Chico Buarque.

SECOS E MOLHADOS

 Ney retomou a parceria com o pianista e arranjador Emílio Carrera. Antigo colaborador do Secos & Molhados, grupo em que o cantor iniciou a carreira, Emílio assina a direção musical do disco e do show. “A maior qualidade dele é dar liberdade de criação coletiva. Gosto muito dessa maneira de trabalhar.”