Cultura & Lazer Titulo Teatro
Em modo de espera
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
23/02/2013 | 10:00
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À espera de que algo aconteça, mas sem perceber-se como agente transformador da própria história, uma legião de personagens toma conta do palco em ; ... : da [IN]capacidade de Colocar Ponto Final, processo que a Oficina de Teatro da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) apresenta a partir de hoje.

A montagem, dirigida por Kleber di Lázzare, saiu baseada em dois textos expoentes do Teatro do Absurdo: Esperando Godot, de Samuel Beckett, e As Cadeiras, de Eugène Ionesco. O tema de partida para a dramaturgia, que foi feita colaborativamente e finalizada por Lázzare, era "o mínimo da expressão", a busca por algo que fosse particular de cada participante do processo e representasse o máximo de suas verdades.

A questão da espera foi um forte ponto de ligação entre os ensejos de cada um. A espera por um mundo melhor, pela compreensão de si pelo outro, e vice-versa, além da espera de corresponder àquilo que se quer. O recorte estabelecido em cena busca uma ruptura entre expectativa, passividade e a percepção de que as rédeas dos acontecimentos da história de cada um estão em suas próprias mãos.

Cinco homens se revezam em um orelhão público a aguardar um telefonema. Nenhum deles sabe o motivo da missão, desconhecem quem ligará ou quando o telefone tocará, mas todos creem fervorosamente que a ligação atendida será a solução de suas vidas, por isso seguem como cordeiros esperando que algo aconteça.

No ápice do desespero, cada um dos cinco descortina-se em novo horizonte, vira uma outra história, um recorte mítico que, entre enredos sobre tempo, vingança, identidade, memória e perda, traz novo viés para a abordagem principal do texto.

"Somos treinados a pensar pouco, a não querer interferência nas coisas que estão postas. A crítica que se dá no painel dessas histórias é sobre o preocupante estado de inércia em que vivemos. Algo que não está apenas calcado na ignorância. Às vezes você tem noção do que está acontecendo, do que precisa fazer, mas por questões como conforto ou medo você nunca ultrapassa a linha, não sai do estágio em que está e não causa transformação", acredita o diretor.

"É um rompante que quase desassocia da estrutura dos personagens, cada um deixa de esperar um pouquinho para se colocar na vida", completa Lázzare, que justifica o nome da peça dizendo que é composta por pessoas que tropeçam nos pontos e vírgulas, param nas reticências, mas nunca conseguem se encontrar, transpor esses estágios intermediários e pôr um ponto final no que já passou para começar a viver o capítulo de agora em diante de suas trajetórias.

Entre as histórias que serão apresentadas está a de um homem que encontrou um bebê na beira do rio. Apesar dos conselhos de todas as pessoas próximas, de que a criança é amaldiçoada e vai destruir tudo ao redor, o velho a adota. Outra exibe uma reviravolta em uma trama familiar: o pai matou a mãe, um filho vai atrás do assassino e o outro fica em casa, torcendo para que a saga do irmão ponha fim ao drama, só que muito tempo passa, alguma coisa muda e um inesperado acontecimento faz com que um dos personagens mude sua opinião sobre esse enredo de vingança.

; ... : da [IN]capacidade de Colocar Ponto Final - Teatro. No Teatro da USCS - Av. Goiás, 3.400 - Barcelona , São Caetano. Tel.: 4239-3218. Sáb., às 20h, e dom., às 19h. Ingr.: R$ 10. Até dia 17.




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