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Sepultura 'sem lei' na era pós-Cavalera
12/08/2008 | 07:03
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A saga da maior banda de rock vinda do Terceiro Mundo poderia ter tido seu último capítulo em dezembro de 1996. Naquele mês, Max Cavalera deixava o Sepultura. Os três integrantes remanescentes teriam de tomar uma decisão: chutariam tudo para o alto ou se manteriam ativos mesmo sem o cabeça do time?

O primeiro Cavalera a deixar a banda rumou com o Soulfly numa carreira solo que, se não causou suspiros, o fez continuar a se apresentar em festivais americanos e europeus por seguidos verões. Enquanto isso, o que restou do Sepultura via de maneira íntima o boicote de sua ex-gravadora (a Roadrunner), as portas serem fechadas e o descrédito de parte de crítica e público que o haviam colocado no topo do heavy metal em meados dos anos 1990.

A seqüência dessa história, de mais baixos que altos, chega ao dia 7 de agosto de 2008, data marcada para a primeira audição do novo álbum do Sepultura. Baseado no romance Laranja Mecânica (1962), de Anthony Burgess, A-Lex será o segundo álbum consecutivo do grupo a reproduzir uma obra literária - após Dante XXI, fundamentado na Divina Comédia, de Dante Alighieri. E o primeiro sem nenhum dos irmãos Cavalera, fundadores do grupo em 1983. O baterista Iggor se demitiu do posto em 2006, voltando a gravar com o irmão Max sob a alcunha de Cavalera Conspiracy.

O ‘novo' Sepultura recebeu a imprensa paulistana com clima de urgência. "O Sepultura não morreu", fala Andreas Kisser, guitarrista e atual porta-voz do quarteto, que tem ainda na sua escalação Paulo Xisto no baixo, Derrick Green no vocal e Jean Dolabella na bateria.

Jogo limpo - A idéia de apresentar um disco que só chegará às lojas e a internet na primeira semana de novembro, segundo Kisser, é para deixar claro às pessoas que, mesmo com a saída de Iggor Cavalera, o Sepultura continua. "Não mandamos ninguém embora. Ele (Iggor) saiu porque quis. Estamos jogando limpo", justifica o guitarrista.

Andreas, hoje, é quem dá a cara para bater. Enquanto as outras três partes preferem ficar em silêncio, Alemão (seu apelido) não deixa se intimidar por assunto algum.

"Não morremos só porque não estamos tocando no circuito europeu ou nos Estados Unidos. Mais uma vez, não somos escravos de circuito nenhum, o Sepultura é conhecido e querido no mundo todo", aponta. Para sustentar sua afirmação, Andreas lembra de dois eventos que fizeram a banda voltar à grande mídia nos últimos tempos: os shows na Índia e em Cuba. Entretanto, no Brasil, a realidade é dura.

Os próximos shows do grupo acontecem no Sesc de Araraquara e no bar Kazebre, na Capital. A motivação tão necessária para tal empreitada vem naturalmente para o músico: "Eu amo o que faço, amo o Sepultura, amo tocar guitarra, toco com a maior galera... Independente do estilo. Já conheci muita gente através da musica, conheci muitos países. Quem escolheu sair, saiu".

Kubrick - Encher uma hora de um CD com 18 músicas baseadas em uma obra conhecida poderia ser interpretado, no mínimo, como falta de idéia.

Andreas, que completa 40 anos no próximo dia 24, rebate: "Ficar falando de amor, ódio, satã, acaba te deixando prisioneiro dos mesmo assuntos, tudo tem a chance de virar um clichê. Deu pra perceber que quando você foca em um tema, você se impõe um limite e fica muito mais criativo".

Assim como Dante XXI, A-Lex (do russo ‘Sem Lei') será dividido em partes - desta vez serão quatro. Cada uma delas acompanha o desenvolvimento do personagem Alex. Há a violência do início do livro gerando composições mais pesadas, as alucinações e o mergulho nas drogas e a redenção que usurpa Alex em sua parte final.

Orquestra - A trilha sonora da adaptação de Stanley Kubrick para o cinema (de Wendy Carlos) ganhou atenção especial. Teclados e sintetizadores discorreram no estúdio de gravação e foram tocados pelo trilheiro Eduardo Queiroz (de Bellini e a Esfinge).

Uma orquestra de 20 peças foi escalada para tocar o tema Ludwig Van. Fundi-la com o heavy metal dá vazão para outro assunto polêmico. "A Nona de Beethoven é um lance muito importante e ficou fantástica", exclama Andreas. Sua produção não assustou o músico, que tem como um de seus projetos gravar músicas autorais para orquestra no ano que vem.

A primeira vez do Sepultura sem Iggor não poderia deixar de incluir o assunto Cavalera Conspiracy. Kisser achou o projeto precipitado: "Eles jogaram pela janela uma chance de ouro. Achei uma coisa meio ‘vamos pegar umas coisas do Soulfly aí e por o Iggor na batera', sabe?".

O músico, que irá participar da turnê do Scorpions no Brasil em setembro, ainda tem tempo de filosofar: "Tenho uma família com três filhos para sustentar, mas não sou escravo do Sepultura. Você recria o dia-a-dia sempre. Hoje, gosto de me inspirar muito mais em literatura do que num Metallica, por exemplo. Quando você vive o presente, o futuro está garantido".




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