Economia Titulo Geração de riquezas
Previsão do PIB divide opiniões

Especialistas discutem sobre projeção de crescimento da economia do governo de 0,9%

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
24/09/2014 | 07:24
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Diferença de 0,6 ponto percentual entre uma previsão e outra. Essa é a distância entre a projeção para a variação do PIB (Produto Interno Bruto) do governo federal e a do mercado. E é também motivo para divergência de opiniões entre especialistas em economia. Há quem defenda que o governo tomou postura mais realista, que especulações pessimistas do setor privado influenciaram ou, ainda, que a variação deste ano será zero.

Na segunda-feira, o Ministério do Planejamento informou que a estimativa para o crescimento da atividade econômica foi reduzida pela metade, de 1,8% para 0,9% - a menor desde 2009. Por outro lado, o mercado financeiro, por meio do boletim Focus, do BC (Banco Central), diminuiu pela 17ª semana consecutiva sua expectativa, de 0,33% para 0,3%.

No começo de 2014, o governo federal estava bem mais otimista, com projeção de acréscimo de 2,5%. As empresas, no entanto, esperavam 1,95%, já indicando certa desconfiança no cenário.

O assunto está em evidência. A oposição, por exemplo, utiliza o cenário econômico como crítica para a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT). Por outro lado, há muita incerteza sobre o futuro da economia, caso candidatos adversários da atual presidente assumam o comando do País.

“Este é um ano atípico. Já tivemos a Copa do Mundo. A economia com um todo teve uma retração. E coincide com o processo eleitoral, que, ao que tudo indica, será acirrado e intenso. Não tem como saber qual dos candidatos que definirá a política econômica do País para os próximos anos. Desta maneira, os empresários também seguram os investimentos. Mas, de todo modo, a previsão do governo parece mais realista do que antes. E, para pensar em política econômica, é necessário ser realista”, avaliou o coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio.

Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Bruno De Conti, não há como evitar influência política em resultados de indicadores. “Em época de campanha eleitoral, principalmente, as avaliações são neutras, mas sofrem contaminação da política”, observou. “Está meio claro para mim, pelo Focus, que o mercado, em geral, tem se mostrado pouco mais favorável à Marina (Silva - PSB) e ao Aécio (Neves - PSDB).”

De Conti destacou que não realiza projeções. Mas opinou que a projeção apresentada pelo governo federal não está incoerente. “Se levarmos em consideração os dois primeiros trimestres de 2013, a economia brasileira estava dando sinais de dinamismo e recuperação. Porém, em junho e julho houve todas aquelas manifestações e deu certo corte no dinamismo. Nos dois últimos trimestres a economia estava mais desacelerada, portanto, teremos um crescimento sobre algo que já era baixo. Pela influência estatística, eu tenderia a dizer que (a variação do PIB) não será tão catastrófica quanto o mercado vem mostrando.”

O professor doutor do departamento de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e presidente da Ordem dos Economistas do Brasil e do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia), Manuel Enriquez Garcia, conhecido como Manolo, discordou. “A probabilidade é muito alta, talvez perto de 70%, de que o crescimento da economia seja zero neste ano. As boas empresas (que participam do Focus) já mostram 0,3% ou menos.”

Manolo destacou que 103 casas contribuem para o Focus. “Será que uma entidade sozinha, como o Ministério da Fazenda, ou uma instituição, como o BC, têm departamentos econômicos comparáveis aos 103 do mercado que fazem apenas previsões? São mais de duas centenas de profissionais trabalhando. Os melhores economistas estão no setor privado, onde são bem melhor remunerados.” Ele assinalou ainda que o governo deve parar de se comparar e se pautar na economia dos Estados Unidos para falar sobre o Brasil. 




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