Carlos Boschetti Titulo Cenário
Empreendedorismo e terceirização

Segundo o Serasa, mais de 944 mil empresas foram criadas até o fim de julho; isso representa crescimento de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

Carlos Boschetti
14/08/2014 | 07:19
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Nos últimos dias, o Brasil vem recebendo uma série de notícias desconfortáveis em relação ao desempenho de nossa economia. As contínuas revisões indicam crescimento abaixo de 1% em 2014. A inflação nos últimos 12 meses já ultrapassou o centro da meta prevista em 4,5% e também o teto, de 6,5%. As tarifas públicas com preços controlados pelo governo, tais como energia elétrica, diesel, gasolina e etanol pressionam ainda mais as incertezas.

Todavia, uma nova situação surge no mercado, que é a abertura de empresas no primeiro semestre. Segundo o Serasa, mais de 944 mil empresas foram criadas até o fim de julho. Isso representa crescimento de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Os MEIs (Microempreendedores Individuais) são responsáveis por 72,3% das novas empresas.

O setor de serviços é disparado o mais ativo na abertura das MEIs. E esse crescimento acelerado no surgimento de microempresa está ligado às demissões que vêm acontecendo nos últimos anos, principalmente na indústria, no setor alcooleiro, e no comércio, em que muitos colaboradores, ao não encontrar novo emprego, constituíram pequenos negócios e foram contratados pelos antigos empregadores para manter a especialização, não mais como funcionário CLT, mas como fornecedor de serviços com contrato anual com cláusulas de renovação quando de comum acordo.

A terceirização (outsourcing) é uma realidade crescente em nosso País, principalmente na região Sudeste, onde a concentração do PIB (Produto Interno Bruto) é superior a 60%. Este processo aumenta a competitividade, principalmente com os asiáticos, pois reduz custos, como os da oneração da folha de pagamento, com tantos encargos sociais, considerados impostos indiretos e que aumentam dramaticamente os gastos das empresas.

A criação de companhias leva em conta crescimento na oferta de serviços, principalmente no comércio, no ramo de franquias. A maioria dos novos entrantes nesse mercado não tem a visão de empreendedor. Eles iniciam seus negócios na maior das boas intenções, mas com mentalidade de empregado e não de empresário. Aí está o grande abismo, responsável por taxa de mortalidade muito alta nos primeiros três anos de vida das empresas brasileiras.

Existe relação direta entre o desemprego e os novos microempreendimentos, o que demonstra a eliminação de vagas de alto e médio valor nas empresas e a criação de muitos postos de baixo valor agregado e de especialização.

Com a desindustrialização acelerada que vem acontecendo, que transfere a contratação de serviços de alto valor agregado e complexidade para o mercado internacional devido à falta habilidades e competitividade local, vemo-nos cada vez mais distantes de setores de alta tecnologia. Vemos também o aumento do pagamento de royalties para os centros desenvolvedores de alta tecnologias. Quase sem investimentos públicos, faltam estímulos para os poucos centros de pesquisa e desenvolvimento no País, para que nossos empreendedores se comprometam com a inovação e criem novas oportunidades para perpetuarem as iniciativas empreendedoras.
 




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