Economia Titulo No Grande ABC
Calote argentino deve
derrubar as exportações

Vendas das sete cidades ao Exterior, que já vêm
em queda, podem ser ainda mais afetadas agora

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
01/08/2014 | 07:02
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Divulgação


A falta de acordo com fundos especulativos para o pagamento de títulos da dívida pública argentina, cujo prazo final de negociação era ontem, deve derrubar ainda mais as exportações do Grande ABC, que já vêm em queda (de quase 20%) no primeiro semestre ante mesmo período de 2013. E por que isso impacta tanto a região? É que há grande dependência em relação a esse mercado, que representa 40% (em valores) das vendas externas das empresas dos sete municípios, e, agora, com o chamado default (calote) ‘seletivo’, especialistas avaliam que haverá impacto direto nas encomendas para esse destino.

Foi a segunda vez em 13 anos que o país vizinho deu o calote, desta vez, de forma involuntária. Isso porque a Justiça norte-americana, em junho, bloqueou os recursos argentinos para o pagamento de parcela de US$ 539 milhões – que venceria ontem, aos credores que aceitaram a renegociação da dívida, em 2001, de mais de US$ 100 bilhões –, se não houvesse o pagamento também dos fundos especulativos, chamados pelos argentinos de “abutres”. O problema é que estes credores, a minoria, não querem aceitar o valor reduzido, exigem o pagamento integral.

Essa situação de impasse criará dificuldades para os exportadores, por vários motivos. “Ninguém vai conseguir carta de crédito para a importação argentina, porque os preços vão ficar proibitivos e porque os bancos não vão ter interesse em conceder”, diz o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.

Ainda segundo o dirigente, como a Argentina tem tão poucas reservas (cerca de US$ 30 bilhões), muitas pequenas empresas exportadoras vão querer o pagamento antecipado, e as grandes, embora continuem exportando (fabricantes automotivas fazem muitos negócios intercompany, de subsidiária daqui para filial de lá), também terão dificuldades, impostas pelo governo da presidente Cristina Kirchner. Entre outros motivos, porque haverá necessidade de os vizinhos ampliarem o superavit comercial. No primeiro semestre, nossos hermanos tiveram saldo positivo (vendas externas maiores que as compras de itens do Exterior) de US$ 8 bilhões, 28% menos que no mesmo período de 2013.

O calote técnico também impactará no consumo argentino, avalia o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Pedro Raffy Vartanian. Ele calcula que a falta de acordo terá efeito sobre a taxa de câmbio, com a desvalorização do peso e o consequente encarecimento dos produtos brasileiros naquele mercado, e pode gerar também retração em investimentos diretos.

A situação é dramática para o país vizinho, que vive atualmente em estagflação (ou seja, inflação alta e estagnação econômica), diz o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero. “E deve se aprofundar esse cenário, que já é desolador”, afirma. Isso já pode ser sentido na Merval (a Bolsa de Valores de Buenos Aires), que teve queda ontem de 8,38%.

Juiz convoca audiência para definir situação a partir de agora

As conversas entre o governo argentino e os fundos especulativos ainda podem tomar um novo rumo hoje. O juiz norte-americano Thomas Griesa convocou audiência, às 12 horas (de Brasília), para definir “aonde vão as partes a partir de agora”, nas palavras de um assessor do juiz. Griesa preside as batalhas judiciais entre a Argentina e seus credores há mais de uma década. Há rumores de que representantes dos bancos privados ainda estão negociando com os fundos “abutres”, para tentar comprar 100% dos títulos, o que poderia trazer uma solução para a crise da dívida argentina.

Em contato da equipe do Diário com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o presidente da entidade, Luiz Moan, informou que a associação está na expectativa da reunião de hoje e “na torcida por uma decisão favorável”.

O governo argentino afirmou que vai utilizar todos os instrumentos legais para resolver a questão. “Temos de defender nossos interesses”, afirmou a presidente Cristina Kirchner, em pronunciamento em rede nacional de TV. Uma das possibilidades aventadas é recorrer à Corte Internacional de Justiça de Haia e à ONU (Organização das Nações Unidas). (com agências) 




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