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Dunga volta à Seleção e tenta corrigir erros que o derrubaram

Técnico quer melhorar relação com a imprensa e reconhece que Brasil precisa recuperar prestígio

Thiago Bassan
23/07/2014 | 07:20
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Estadão Conteúdo


Como já era esperado, o presidente da CBF, José Maria Marin, apresentou ontem pela manhã Dunga como novo técnico da Seleção Brasileira, em entrevista coletiva realizada na sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O treinador reassume a equipe quatro anos após ser demitido pelo ex-presidente Ricardo Teixeira em consequência da modesta sexta posição na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

Dunga falou e tocou em feridas abertas desde a sua demissão, como o péssimo relacionamento que manteve com a imprensa e a fama de retranqueiro. O treinador se amparou no excelente aproveitamento de 76,7% (42 vitórias, 12 empates e seis derrotas) que conseguiu à frente da Seleção Brasileira para justificar sua escolha e disse que estudou e conversou com muitos treinadores e ex-jogadores nos últimos quatro anos para reciclar seu conhecimento.

“Vocês(imprensa) sabem que dificilmente as pessoas mudam, quanto à ética, trabalho e profissionalismo. Sei que tenho de melhorar no contato com os jornalistas. Foquei mais no trabalho dentro de campo. Os resultados estão aí. Agora é normal que tenha de aprimorar o meu relacionamento com a imprensa. É minha culpa pela relação que tivemos. Trabalhei para me aprimorar”, garantiu o treinador, que durante a Copa de 2010 chegou a proibir os jogadores de dar entrevistas, até mesmo nos dias de folga. 

Sobre o fato de historicamente preferir formações defensivas, Dunga diz que boa parte dos times jogam dessa maneira. “Todos falam em futebol ofensivo e pensam que é colocar quatro ou cinco atacantes. As equipes marcam cinco, dez metros atrás da linha do meio de campo. Você cria espaços para atacar. Se em 2010 nós tivéssemos essa atitude todos falariam que seria futebol defensivista”, disse. 

Dunga deu passo atrás e reconheceu que o futebol brasileiro não ganha mais jogos apenas com a tradição da Seleção. “Não podemos passar para o torcedor que somos os melhores. A camisa brasileira é respeitada, é verdade, mas todos querem ganhar de nós de qualquer forma. Temos de ser mais compactos, ter mais comprometimento. Precisamos ter essa percepção e não achar que vamos ganhar a Copa antes de a Copa acontecer”, comentou.

Apesar de dizer que já tem esboço do time que pretende convocar para o amistoso diante da Colômbia, dia 5 de setembro, em Miami, nos Estados Unidos, o técnico evitou revelar se pretende mudar muito o elenco em relação aos jogadores convocados por Felipão para a última Copa do Mundo. “Vamos mostrar ao torcedor que queremos o melhor. Já temos um esboço e vocês (imprensa) me conhecem. Não vou vender um sonho, vou vender uma realidade. E a realidade precisa de trabalho”, despistou Dunga.

Ao contrário do que era esperado, apenas o treinador foi anunciado pela CBF. Os demais integrantes da comissão técnica estão em fase de conversas e devem ser anunciados nos próximos dias. Um dos nomes que deve compor o time é do ex-goleiro Taffarel, que assim como Dunga e o coordenador de Seleções Gilmar Rinaldi fez parte do grupo tetracampeão mundial. Atualmente treinador de goleiros do Galatasaray, da Turquia, ele deve ser observador. 

Gallo vai comandar equipe na Olimpíada 

Cotado para assumir o cargo de técnico da Seleção, Alexandre Gallo não foi o escolhido, mas segue prestigiado pelos mandatários da CBF. O ex-treinador do Santo André foi confirmado como o comandante do time que terá missão de buscar o único título que falta na galeria do futebol brasileiro: o de campeão dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016. 

A confirmação veio pelo presidente da CBF, José Maria Marin, e do coordenador geral de Seleções da entidade, Gilmar Rinaldi. “Aproveito a oportunidade para anunciar que o Gallo vai ser o treinador do Brasil na Olimpíada de 2016. Vamos dar o suporte necessário e acompanhar o trabalho dele de perto”, comentou Rinaldi.

Em sua primeira passagem pela Seleção, entre o segundo semestre de 2006 e o fim da Copa de 2010, Dunga comandou o time nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Na ocasião, levou o selecionado brasileiro ao terceiro lugar – o Brasil caiu nas semifinais diante da Argentina de Messi. 

CONVOCAÇÃO

Ontem, Gallo anunciou a relação de 22 jogadores convocados para a disputa do Torneio de Cotif, em Valência, na Espanha. Apesar de a competição ser sub-20, ele chamou apenas atletas nascidos até 1995, pensando no elenco do Sul-Americano da categoria em 2015.

Entre os principais nomes da lista estão do zagueiro Lucão e do meia Boschilia, ambos do São Paulo, além dos atacantes Gabriel, do Santos, e de Yuri Mamute, do Botafogo.

O Brasil está no Grupo B com Catar, Equador, China e do time sub-20 do Valencia. Na outra chave estão Barcelona, Mauritânia, Argentina, Indonésia e Arábia Saudita. (das Agências) 


Escolha de Dunga divide opiniões entre treinadores

Técnicos do Grande ABC divergem sobre nome escolhido para dirigir o Brasil nos próximos anos 

A volta de Dunga ao comando técnico da Seleção Brasileira dividiu opiniões entre os treinadores do Grande ABC. De um lado estão os profissionais que acreditam no jeito rígido e exigente do comandante como um dos fatores para que o Brasil recupere seu lugar de destaque no futebol mundial. Outros, porém, afirmam que o estilo do gaúcho está totalmente ultrapassado. 

Um dos maiores defensores da maneira de Dunga dirigir uma equipe é o técnico do Mauaense, Flávio Matias. “Ele é o melhor nome para comandar a Seleção Brasileira neste momento. Sempre jogou pelo Brasil, seja nas categorias inferiores ou no profissional. Ele entende como as coisas funcionam. Tem muita personalidade e sabe lidar com os jogadores. Só precisa ser um pouco diferente com a imprensa. Ser humilde para aceitar opiniões e ouvir um pouco mais”, disse o treinador da Locomotiva. 

Paulo Roberto, do São Caetano, também elogiou. “Ao meu ver, temos de quatro a cinco profissionais capacitados para o cargo e dentre eles Dunga, um profissional sério, trabalhador e com bom retrospecto à frente da Seleção. Os números mostram, com ele não tem oba-oba e frescuras no ambiente”, analisou. 

Há porém, quem seja contra o retorno de Dunga ao comando da Seleção pentacampeã mundial. “Não era o nome certo. Existem treinadores que estão mais bem preparados. E um deles é o Muricy (Ramalho, atualmente no São Paulo). Ele sim mandaria de verdade na Seleção. Desse jeito, vai continuar tudo a mesma coisa”, esbravejou Ataliba, comandante do CAD. 

O técnico do São Bernardo, Edson Boaro, que jogou com Dunga na década de 1980, disse que o treinador precisa se preocupar e muito com a comissão técnica que estará ao seu lado na CBF. “Na Seleção, ele vai ser questionado o tempo todo, com a mídia querendo sempre saber o que está acontecendo. E ele precisa passar tranquilidade aos atletas. Não pode ter essa situação de bronca. Para dar certo, ele precisa ser bem assessorado, ter um bom auxiliar técnico e equipe bastante competente por trás, para que ele possa confiar e não cometer os mesmos erros”, afirmou. 

Boaro, entretanto, faz ressalva em relação ao coordenador de Seleções da CBF, Gilmar Rinaldi. “Acho que ele (Gilmar) não seria um nome para estar à frente da Seleção. É muito difícil se desligar imediatamente de um ou outro atleta, após ser empresário por tanto tempo. Ele pode estar preso por amizade, contrato ou por convivência. Acho difícil ter isenção nesse caso”, avaliou o treinador do Tigre. 


Com pouco espaço, imprensa estrangeira cita títulos e perfil do novo comandante

A imprensa internacional deu menos destaque do que o costume para a mudança no comando técnico da Seleção Brasileira, evidenciando que o futebol canarinho já não goza de tanto prestígio após a humilhante goleada de 7 a 1 sofrida em casa para a Alemanha na semifinal da última Copa do Mundo.

O diário Marca, um dos principais da Espanha, e o argentino Olé, deram pouco destaque nas suas edições virtuais, mas ressaltaram o bom retrospecto de Dunga quando dirigiu a Seleção Brasileira, principalmente pelas conquistas da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2009.

O L''''''''Équipe<, da França, chamou atenção para a falta de apoio dos torcedores brasileiros e a pouca confiança depositada pela imprensa, além de questionar a eficiência do estilo de jogo defensivo apresentado pela Seleção Brasileira na passagem do treinador pela equipe entre 2006 e 2010.

Por fim, o Mundo Deportivo, também da Espanha, ressaltou o estilo militar de Dunga e diz que sua escolha foi feita com intenção de colocar ordem no vestiário brasileiro e readiquirir o respeito das demais seleções




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