Contemporâneo do tempo em que a censura era efetiva e institucionalizada no País, Mariano Amaral, entre suas andaças pelos ambientes culturais, viu florescer espécie de resistência nas livrarias. Achou nos locais espaço de transgressão intelectual e desafio ao pensar político e artístico. O período ganha esboço em Uma Certa Livraria, exposição que ele abre hoje no Gambalaia, em Santo André.

"As livrarias foram espécie de bastião de resistência à censura. Era uma época em que havia vários editores. O Brasil dos anos 1970 e 1980 viveu um período riquíssimo em produção cultural e crítica artística e política", conta o artista plástico, pernambucano que viveu em Santo André durante 20 anos e habita Ribeirão Pires há dez.

Os trabalhos feitos com desenhos criados a bico de pena e aquarelados sobre papel interpretam as vivências de jornalistas, estudantes, intelectuais e livreiros que compunham esse profícuo período da cultura brasileira. "É uma fusão de técnicas. Inicio espécie de estrutura linear com o bico de pena, com o qual indico o que quero fazer e dizer, e depois vou acrescentando a cor como soma de imagens", revela Amaral.

Com a mesma criatividade exigida no período para driblar o sistema, ele busca em suas imagens não ser óbvio ao traduzir os sentimentos e o contexto histórico do objeto retratado. "Não quis cair no chavão de ficar remoendo as dores desse período. Só não consegui ser muito brincalhão porque daí seria leviano. Tornei palatável, assimilável visualmente, um tema obscuro e rude de nossa história, uma suavização do dramático."

Uma Certa Livraria - Exposição. Abre hoje, às 19h. No Espaço de Convivência Gambalaia - Rua das Monções, 1.018, Santo André. Tel.: 6157-0306. Visitação. Até o dia 28 de outubro. Visitação sujeita à programação do local. Consulte o site www.gambalaia.com.br.