Diarinho Titulo Já escutou vinil?
Discos fazem sucesso novamente

Após anos de sumiço, bolachões voltam e
conquistam a geração dos fones de ouvido

Caroline Garcia
Do Diário do Grande ABC
29/06/2014 | 07:00
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Divulgação/Daryan Dornelles


Eles são grandes, antigos, difíceis de manusear e não dá para ouvi-los em qualquer lugar. No entanto, muita gente garante: são apaixonantes. Os discos, também chamados de LPs, vinis e bolachões, estão de volta e, ainda por cima, conquistam a geração superconectada a novidades tecnológicas.

“Além de ter dois lados, a cor é bonita, o encarte vem com desenhos e letras, e o som é bem melhor”, afirma Luzia Barros, 13 anos, integrante do Pequeno Cidadão, que acaba de lançar seu segundo vinil.

Apaixonada por LPs, a mãe de Luzia, Taciana Barros, 49, que também faz parte do grupo, sempre leva a vitrola nos shows. “Alguns não sabem como usar ou que existe a agulha (necessária para o som sair), mas acham interessante. Tem também o lado educativo.”

José Victor Freire Librais, 10, sabe tudo quando o assunto é vinil. Os 30 discos do pai são a “mina de ouro” que, segundo o menino, o inspirou a começar sua própria coleção. “Uso o dinheiro da minha mesada para comprar. Já tenho o Cabeça Dinossauro, dos Titãs, e o Tributo a Randy Rhodes, do Ozzy”, conta o aluno da School of Rock, de São Caetano, que faz aulas de bateria há cinco anos.

Agora, a alegria de José Victor se resume apenas a comprar os bolachões, já que o toca-discos que tinha em casa quebrou. “Quando coloquei Randy Rhodes para tocar, não funcionou, e meu pai levou para o conserto. Enquanto isso, procuro álbuns que quero ouvir e coloco no Virtual DJ (programa de computador). Vou ainda na casa de um amigo do meu pai que tem uma vitrola muito boa, feita na Inglaterra.”

Os LPs da família também atraíram Gustavo Gallinare Toledo, 10, que estuda bateria desde o ano passado. “Gosto da forma, de abrir (o encarte) e tirar o disco do plástico. É um CD enorme que dá trabalho, mas é um trabalho gostoso. Meu preferido é o vinil do Kiss.”

Com o sonho de ser produtor musical, José pensa na trabalheira que dá fabricar um disco. “Não sei exatamente como se faz, mas não é só apertar o rec e gravar. Deve ser um processo mais complicado e legal, que dá orgulho depois.”

LPs desapareceram nos anos 1990

Os vinis dominaram o mercado da música até os anos 1980, quando os CDs começaram a tomar conta do pedaço. São mais práticos, menores, fáceis de levar para qualquer lugar, ocupam menos espaço e comportam mais faixas do que o LP.

Durante bom tempo, foi difícil encontrar vinis para comprar. Eram vendidos só em alguns sebos e feiras especiais. Viraram objeto de colecionador. Mas voltaram nesta década, e as lojas de discos começaram a ressurgir. O mercado ainda é pequeno por causa do alto custo de produção. No entanto, quem gosta afirma que manusear o LP, colocá-lo no toca-discos, ler o encarte com belas estampas e a qualidade do som são as principais razões para essa paixão estar de volta.

A Polysom, única fábrica de discos na América Latina, produziu 59 mil unidades em 2013. Desde que reabriu, em 2010 (ficou fechada por três anos), fez mais de 135 mil vinis. As vendas por aqui estão aumentando, mas ainda é difícil alcançar os números dos Estados Unidos, que comercializaram nos primeiros seis meses do ano passado 2,9 milhões de LPs.

Pequeno Cidadão já lançou dois bolachões

CDs, DVDs, livros, jornal e dois vinis (o segundo acaba de ser lançado) no currículo. No grupo Pequeno Cidadão, formado em 2008, os filhos ajudam os pais Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto a fazerem músicas com muito rock’n’roll.

Estela Scandurra, 10 anos, já é compositora. “Criei Ficar Estranho em uma viagem. Pedi para o meu pai fazer o beatbox (barulho com boca que reproduz o som da bateria) e fui inventando a letra. Foi fácil. Dormi e quando acordei, meu pai já tinha postado no YouTube.”

A maioria das canções é criada de forma bem descontraída. “A gente compõe no dia a dia. Canta indo para a escola e cozinhando. Arrumamos horários que ficam bons para todos e gravamos”, conta Luzia Barros, 13. “Gosto também de ouvir meu pai me incentivando no estúdio, dizendo que estou fazendo tudo certo”, diz Estela.

O segundo CD foi lançado três anos após o primeiro. Conforme o tempo passa, dá para ousar mais, pois a segurança aumenta. “Estamos melhor. As músicas estão menos infantis e crescendo com a gente”, diz Estela.

Para o vinil ficar pronto, o disco de alumínio recebe o acetato (substância parecida com o esmalte) e é colocado num aparelho chamado torno de gravação. Por meio de agulhas, ele faz com que a música produza ranhuras (como riscos) no disco. Desse modo, as faixas são gravadas no objeto. Então, o disco, ainda frágil, passa pelo processo de galvanização. É quando recebe banhos de prata e sulfamato de níquel (substâncias químicas) para formar a matriz do LP, que dará origem aos exemplares que serão vendidos. Para isso, a matriz é levada até a prensa onde receberá o PVC (tipo de plástico preto que forma o LP). As rebarbas são tiradas, e o disco está pronto. Só precisa ser testado e embalado.

Fonte: João Augusto, consultor da Polysom.




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