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Exposição 'Artevida' traça paralelos entre criações
27/06/2014 | 10:00
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Um cubo vermelho suspenso sobre a piscina do palacete do Parque Lage reflete, dependendo da luminosidade do dia, uma forma geométrica vibrante na água. A obra da artista Tsuruko Yamazaki foi criada em 1956, quando a japonesa era expoente do grupo Gutai, mas, agora, a instalação que repousa e ativa o pátio interno do local, torna-se um dos destaques da mostra Arte Vida, que começa nesta sexta-feira, 27, e estende até 21 de setembro, no Rio.

"O Gutai tem várias conexões com o neoconcretismo, com a relação da cor com a geometria, com o corpo, com a interatividade", diz Adriano Pedrosa, curador, ao lado de Rodrigo Moura, da exposição que ocupará quatro espaços da cidade. Projeto de R$ 4 milhões, Arte Vida estabelece cruzamentos entre mais de 300 obras realizadas dos anos 1950 aos 80 por brasileiros e estrangeiros. É mostra de caráter histórico, que joga luz para a criação experimental, ligada, geralmente, a questões do corpo e da política.

O palacete do Parque Lage não apenas recebe, em seu pátio central, o cubo vermelho da japonesa Tsuruko Yamazaki. Lá estão também, em uma sala expositiva, as esculturas-vestidos geométricas negras da série Hábito/Habitante, da alagoana Martha Araújo. No local, ainda, fotografias registram a brasileira usando este trabalho já histórico, de 1985. "Buscamos alguns artistas que não têm a visibilidade e reconhecimento que merecem", afirma Adriano Pedrosa, que assina com Rodrigo Moura a curadoria da mostra artevida, a ser inaugurada hoje na cidade carioca.

Trata-se de um projeto grande, realizado pelos curadores a convite da Secretaria de Estado de Cultura fluminense. O palacete do Parque Lage, no Jardim Botânico, apresenta, na verdade, apenas um dos segmentos da exposição, que se espalha também, agora, pela Casa França-Brasil (Rua Visconde de Itaboraí, 78) e pela Biblioteca Parque Estadual (Av. Presidente Vargas, 1.261). Mais ainda, a partir de 19 de julho, outros dois locais da capital receberão partes da mostra - o Museu de Arte Moderna (Av. Infante Dom Henrique, 85), e as Cavalariças do Parque Lage, espaço que abrigará trabalho comissionado do escultor africano Georges Adéagbo, do Benin.

Está no título da mostra que ela trata de relacionar a arte e a vida, mas a exposição toma este partido por um olhar conceitual e histórico, centrando atenção, especialmente, para criações das décadas de 1960 e 70. "Relações, conexões, leituras, correspondências, comparações", enumera Pedrosa, são alinhavadas a partir da arte brasileira - e de alguns de seus artistas e obras - com trabalhos de estrangeiros - a maior parte, desconhecidos ou pouco vistos no País e de regiões como o Oriente Médio, o Leste Europeu e a Ásia.

Na Casa França-Brasil, onde ocorre nesta sexta-feira, 27, às 11 horas, a primeira inauguração do projeto, da mostra artevida (corpo), as esculturas da década de 1960 da artista libanesa Saloua Raouda Choucair, de 98 anos, são estruturas modulares de madeira e terracota que dialogam com os Bichos criados na mesma época por Lygia Clark (1920-1988). As geométricas peças escultóricas de alumínio e com dobradiças que a brasileira realizou como convite ao manuseamento - e participação - de uma obra já são tão fundamentais na historiografia que se tornam o mote de um núcleo central da exposição.

Convergências

Nesse segmento, ainda, réplicas das esculturas de Lygia Clark também inspiraram ligações, por exemplo, com frottages sobre papel de 1977 da húngara Dora Maurer e com os grandes volumes de aço que, em 1967, a alemã Charlotte Posenenske colocou como elementos a serem compostos livremente pelas pessoas. A participação do polonês Edward Krasinski - escalado também para a 31.ª Bienal de São Paulo - é outro destaque, como a exibição do escultórico Heptágono (1977) espelhado da iraniana Monir Shahroudy Farmanfarmaian.

"São convergências, afinidades de interesse, pontos de contato, mas sempre lidando com a ideia de que estamos tratando de contextos e cronologias diferentes", afirma Rodrigo Moura. "Do nosso caso, brasileiro, partimos de um contexto carioca de arte experimental mais voltada para processo e para a experimentação e que por isso é mais aberto à vida", continua o curador, que é diretor do Instituto Inhotim.

À luz do neoconcretismo, outra brasileira fundamental na pesquisa é Lygia Pape (1927- 2004), representada por xilogravura de sua série Tecelares (1957), registro fotográfico do trabalho Divisor e pelo vídeo Trio do Embalo Maluco, ambos de 1968. Hélio Oiticica (1937- 1980) torna-se também incontornável, com Parangolés, mas é importante citar as participações, do Brasil, de Anna Maria Maiolino, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Iole de Freitas e Antonio Manuel.

Em artevida (corpo), temas como o autorretrato, o corte e a linha orgânica vão ainda promovendo o diálogo entre criações como de Ana Mendieta, Geta Bratescu, Ulay, Annegret Soltau, Yoko Ono, Gego e Seung-Taek Lee - o coreano é um destaque, especialmente, pela obra Godret Stone (1958), em que uma barra segura pedras penduradas por cordas.

Mas o projeto ainda compreende dois outros segmentos importantes. O intitulado artevida (arquivo), na Biblioteca Estadual, traz a público, agora, boa parte do arquivo do artista pernambucano Paulo Bruscky - com curadoria de Cristiana Tejo - e em julho, apresenta, no local, as peças de Graciela Carnevale. Já o Museu de Arte Moderna do Rio apresentará, no próximo mês, a grande mostra artevida (política). Obras de seu acervo dialogarão com outras vindas de coleções de vários países, ressaltando as respostas que criadores diversos deram a questões como ditadura, censura e repressão. A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA PRODUÇÃO DA MOSTRA As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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