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Vila Assunção, em Santo André, oferece passeio pelo mundo

Globalizado, bairro apresenta cultura típica de diversos países; tradição vai da gastronomia a aulas de mangá e artes marciais

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
10/06/2014 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Ao passar em frente ao número 283 da Rua Santo André, e ouvir uma conversa aqui, outra ali, você pode pensar que turistas estrangeiros se reuniram para um happy hour no barzinho. No entanto, a maioria dos frequentadores é de brasileiros que vão até o espaço, na cidade homônima, não apenas para descontrair, mas, principalmente, para treinar o inglês. Essa é a proposta do estabelecimento do canadense Rusty Russell Roy Coulson, 43 anos, também conhecido como Gringo.

A chegada ao Brasil aconteceu há quatro anos e por motivo muito especial. “Morei por 14 anos no Japão, onde montei um bar e conheci uma garota maravilhosa, que hoje é minha esposa. Ela estava trabalhando no país e é de Santo André e, então, cá estou”, conta.

Em solo brasileiro, Rusty começou a dar aulas da língua estrangeira. Foi então, que teve uma percepção. “Tenho muitos alunos que gostam de fazer happy hour e praticar o idioma. Como eu já havia tido um bar e entendia do negócio, pensei: ‘Por que não criar um espaço onde as pessoas que estão estudando inglês possam praticá-lo em um ambiente relaxante?’”, recorda.

O estabelecimento foi inaugurado em dezembro e tem as características de um iglu. Porém, o aspecto gelado fica só na aparência, já que o lugar é caloroso e receptivo. “Tento criar uma atmosfera de bar canadense, com um balcão onde os clientes possam entrar e falar comigo e com as outras pessoas que estão lá. Recebo profissionais e estudantes e tenho feito um monte de novos amigos. É um lugar acolhedor”, comenta ele, que está aprendendo a falar português. “Mas meus clientes preferem que eu fale em inglês”, ressalta.

E se o seu idioma está more or less (mais ou menos, em inglês), Rusty frisa que isso não é problema. “Por favor, não seja tímido. Entre e tente. Nós todos podemos nos comunicar uns com os outros de alguma forma”, diz aos visitantes.

Nascido em Prince Edward Island e já tendo morado no Japão e na Austrália, ele adotou a Vila Assunção como lugar do coração. “Eu amo este bairro. As pessoas são amigáveis, o lugar é bonito e tranquilo. Além disso, Santo André como um todo tem grandes parques, bons bares e restaurantes, shoppings centers, enfim, as pessoas têm tudo aqui. Amo essa cidade e acho que ela tem um grande potencial”.
 

Bar mantém tradição da culinária portuguesa

A cultura dos descobridores da nossa Pátria amada tem raízes fixadas na Vila Assunção. Ela se faz presente em um dos pontos mais marcantes da terra dos patrícios: a culinária portuguesa.

Estabelecimento situado à Avenida Doutor Alberto Benedetti reproduz as mais variadas iguarias lusitanas.

Tudo começou quando o já falecido português José Teixeira chegou com a família ao Brasil, em 1952, vindo da cidade de Aveiro. Ele trouxe na bagagem a arte da culinária. Depois de muito trabalhar em diversos comércios, Teixeira montou o seu próprio negócio, em 1996, transformando a cozinha em laboratório. Foi lá que surgiram inúmeras “experiências”. “Ele ia testando receitas e as que não davam certo, jogava fora e iniciava outras misturas”, conta Maurício da Silva Ferreira, 41 anos, que adquiriu o espaço há um ano.

Embora não seja português nem tenha descendência, ele manteve a cultura viva nos pratos típicos como o bacalhau, a alheira (linguiça portuguesa e miolo de pão com bacalhau), batata aos murros (batata recheada), além de croquetes. O antigo proprietário, inclusive, ficava irritado quando alguém pedia bolinho ao invés de croquete. “Quase não se veem no Brasil lugares dedicados à culinária portuguesa. É uma cozinha muito interessante, mas que o brasileiro não conhece muito”, ressalta.

Se as iguarias são apresentadas aos brasileiros, aos lusitanos elas são uma forma de estarem mais perto de sua terra natal. “No bairro moram alguns moradores portugueses que sempre vêm aqui para ficarem mais próximos de suas raízes. É um pedacinho de Portugal na Vila Assunção”, conclui Ferreira.


Praça Presidente Vargas é um pedacinho do Japão

Nem o “outro lado do mundo” fica distante da Vila Assunção. Há 60 anos, a Sociedade Cultural ABC Bunka Kyokai, localizada na Rua Santo André, compartilha a riqueza da cultura japonesa, por meio dos mais variados cursos. Além do idioma, são ministradas aulas de mangá, aikido (tradicional arte marcial), tênis de mesa e até karaokê. Cerca de 180 famílias são atendidas pela associação, sendo descendentes a maioria. “Mas brasileiros são muito bem-vindos”, frisa o vice-presidente da entidade, Eiki Kolokawa, 77 anos.

Uma alusão ao Japão também se faz presente na Praça Presidente Vargas, situada na mesma via. Em 2012, foi inaugurado no local o Tori, um pórtico monumental que representa, para os orientais, a divisão entre o céu e a Terra, o espírito e a matéria. O monumento de aço estrutural pesa mais de três toneladas e pode ser observado a distância devido aos seus 5,64 m de altura e 7,57 m de largura. O projeto foi enviado ao Executivo andreense diretamente pela prefeitura japonesa de Takasaki, cidade-irmã de Santo André há mais de 30 anos.

A área verde, que é preservada pela Sociedade Bunka, ganhará outro grande símbolo japonês: a árvore cerejeira.“Em março, plantamos 18 mudas e, quando começar a florir, vai ficar muito bonito”, disse Kolokawa. Após seu plantio, a primeira florada demora no mínimo de três a quatro anos para brotar.

A presença marcante da colônia nipônica, por meio de todos esses instrumentos, proporciona à Vila Assunção importante troca de conhecimentos. “Por meio de nossas atividades, não só fortalecemos nossa comunidade, como também promovemos um intercâmbio cultural entre Brasil e Japão”, finaliza.

O Brasil representado pela Cidade Maravilhosa

Entre tantas culturas que integram o cenário globalizado da Vila Assunção, claro que o Brasil não poderia ficar de fora. O País é representado pelo Rio de Janeiro e sua boemia. Em um trecho da Rua Santo André, a calçada de um botequim, assim como o teto, reproduzem o famoso piso mosaico em preto e branco que compõe o cenário dos calçadões cariocas.

A característica calorosa do Estado vizinho – em todos os seus aspectos –, fez com que o empresário Melchior Neto, 42 anos, trouxesse um pedaço da Cidade Maravilhosa à Vila Assunção. “Não sou carioca, mas tenho familiares que moram lá. Vou ao Rio de Janeiro desde pequeno e minha paixão por aquele lugar fez com que eu fizesse um estabelecimento com essa temática”, lembra.

Na opinião do comerciante, a leveza com que o carioca leva a vida deveria ser incorporada ao cotidiano dos paulistas, conhecidos pela pressa. “Lá, as pessoas não saem apenas no fim de semana. É possível se divertir sem precisar voltar muito tarde para casa”, fala.

É a alegria que a vida tem de ter, bem representada pela brasilidade. 




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