Um aviso para quem deseja assistir a 12 Anos de Escravidão: é preciso ter estômago forte. O tom do longa-metragem do diretor britânico Steve McQueen (responsável por Shame, de 2011) que acaba de chegar aos cinemas brasileiros é pesado do início ao fim. Agressões físicas e psicológicas, medo, tensão e a quebra da humanidade em diversos momentos estão espalhados por pouco mais de duas horas de duração. Trata-se de um filme histórico com informações o bastante para se tornar o título definitivo quanto à escravidão no século 19 nos Estados Unidos.

O roteiro busca inspiração em livro homônimo escrito pelo protagonista Solomon Northup (interpretado com qualidade por Chiwetel Ejiofor) sobre sua própria história. Em 1853, ele é um homem livre que acaba sendo sequestrado e vendido como escravo. Sua vida como violinista profissional é deixada para trás e começa um período recheado de situações repugnantes em cenas de serviços obrigatórios para senhores de escravos que não enxergam nada de errado nessa divisão de classes.

Ao contrário de outras histórias que buscam trabalhar com centelhas de esperança, a produção não tem medo de mergulhar em um universo de desgraças. McQueen parece querer testar os limites nervosos do público, principalmente em cena em que Solomon – aqui já adotando a nova identidade Platt – sofre durante longos minutos em um enforcamento no qual ninguém ao seu redor pode se intrometer. É o exemplo de que a violência não é tão curta quanto é mostrada em obras do gênero.

Em 12 Anos de Escravidão não há um mocinho a ser admirado. A todo o instante, Solomon precisa lidar com algum tipo de antagonista, desde seu ‘dono’ Edwin Epps (Michael Fassbender), à impossibilidade de ajudar ao próximo e até a mágoa pessoal de ter se deixado enganar. Ele só quer compreender esse inferno, e não só o dele. Um drama de qualidade com potencial de brilhar no Oscar deste ano, ao qual concorre em nove indicações, incluindo a melhor filme.