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Polícia dá batida em bairro de Santo André
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
21/06/2003 | 19:10
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Seis viaturas da Polícia Militar ocuparam na madrugada deste sábado um trecho da rua Padre Manuel de Paiva, entre a rua dos Gusmões e Esmeraldas. Armados com espingardas calibre 12, metralhadoras portáteis e pistolas automáticas, os PMs revistaram dezenas de pessoas que estavam na rua. Ninguém foi preso. Um repórter-fotográfico do Diário, que registrava a ação policial, foi intimidado e teve sua integridade física ameaçada por um homem de barba e cabelo grisalho, não identificado, que portava um copo de cerveja na mão. "Pára de fotografar, senão vai sobrar pro seu lado. Você fica marcado e a gente te arrebenta."

O policial que comandava a ação pediu para o homem ir para o outro lado da rua. Mesmo assim, ele continuava ameaçando: "Você está agindo na maldade com o bar", referindo-se a uma casa noturna que reúne roqueiros e adeptos do reggae, que fica nesse trecho da rua e que poderia ter saído na foto. "Eu sou comerciante. Aqui não tem bandido, não."

O ambiente ficou tenso. As pessoas que se encontravam do outro lado da calçada xingavam e faziam novas ameaças: "Se sair foto nossa, a gente te processa"; "vai embora de mansinho, senão a gente te acerta"; "se manda, trouxa", além de palavrões.

Antes da batida policial, o fumódromo da rua Padre Manuel de Paiva estava bastante movimentado. Grupos de rapazes enrolavam cigarros de maconha e fumavam tranquilamente, mesmo depois de duas blitze de agentes da Dise (Departamento de Investigação sobre Entorpecentes), ocorridas na quarta e quinta-feira.

Brigas – Com exceção da revista em massa, o bairro Jardim viveu uma madrugada rotineira. Na esquina das rua das Esmeraldas com Padre Manuel de Paiva, um grupo de seis rapazes trocaram socos, pontapés e xingamentos.

Um guardador de carro, que fica em um ponto da rua das Esmeraldas, recebeu neste sábado a visita de um ladrão. O sujeito perguntou se ele poderia "puxar" um determinado veículo. O guardador pediu para o ladrão "realizar o trabalho em outra rua" e foi atendido.

Nem sempre o ladrão respeita a vontade do guardador de carro. Há duas semanas, G.F.S.S., 39 anos, estava olhando veículos nas proximidades da rua das Esmeraldas, quando chegaram dois bandidos. "Eles sacaram o revólver e disseram que iriam roubar o toca-CD de um carro." G. conta que eles realizaram o roubo e foram embora. "Quando o dono voltou, achou que eu era cúmplice. Até fiquei doente por causa disso."

Um outro guardador de carro contou à reportagem do Diário que um casal, que circula de madrugada pelo bairro, em um Monza branco, é responsável por vários arrombamentos de veículos: "Eles têm pé-de-cabra e um picador pra quebrar o vidro". O casal costuma vir acompanhado por duas crianças. "Para disfaçar", segundo informou o flanelinha.

Cone – O morador M.S., 69 anos, construtor aposentado, precisa colocar diariamente um cone na porta de sua casa. Ele mora na rua das Figueiras e freqüentemente não consegue entrar (ou sair) com seu veículo, porque há carros estacionados na porta de sua garagem. "A partir das 20h, isso aqui vira um inferno", ele conta. S. é vizinho do bar Casa da Mãe Joana.

Yves Certier, um dos proprietários do bar, disse que faz o possível para se dar bem com a vizinhança: "Nosso bar tem serviço de valet (manobrista que estaciona os carros), mas não é todo mundo que usa. Alguns preferem deixar na rua".

Certier considera a situação de algumas ruas do bairro Jardim "caótica", por causa de roubos e da presença de usuários de drogas. "Felizmente, eu sou um privilegiado. Tenho policiais civis que fazem a segurança do meu bar."

Por volta de 0h25, duas viaturas da polícia de trânsito encostaram na rua das Figueiras. Os veículos que estavam estacionados irregularmente (debaixo da placa de estacionamento proibido) foram multados.

O comerciante J.C.V., 54 anos, diz que o bairro Jardim "virou o Bronx", comparando o mais valorizado bairro de Santo André a uma área barra-pesada de Nova York. V. conta que nasceu e ainda mora na rua das Esmeraldas. "Para mim, isso que aconteceu no bairro provoca um impacto muito grande. Eu atravessava a rua das Figueiras, que era de terra, e ia jogar bola do outro lado. Agora, parece que estou num outro mundo."

V. é pessimista: "Isso aqui só tende a piorar". Ele vê a ação de ladrões de carro, de ladrões de toca-CD e é assediado por usuários de drogas. "Eles me pedem isqueiro, essas coisas. Eu dou. Se quiser tênis, eu dou. Estou com 54 anos, não vou ficar bancando o valente."




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