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Dia de luta

Comemoramos o Dia Internacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência

Carlos Ferrari
Do Diário do Grande ABC
04/12/2013 | 07:00
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Ontem, dia 3 de dezembro, comemoramos o Dia Internacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. Costumo, há algum tempo, sempre próximo desta data, escrever algum texto que reforce a importância de nos mobilizarmos, buscar mais aliados, enfim, fazer com que nossas bandeiras ganhem força por meio do reconhecimento da sociedade e, claro, principalmente por conta de nosso protagonismo cidadão.

Neste ano, penso que não pode, muito menos deve, ser diferente. Temos inúmeras frentes que demandam olhar urgente de toda a sociedade, porém paradoxalmente vivemos em tempos permeados por uma percepção social de que já temos tudo resolvido.

Não podemos desconsiderar os avanços e conquistas, da mesma forma que não devemos esmorecer diante de uma realidade que nos coloca em alguns casos, ainda muito longe de patamares aceitáveis de civilidade. Temos ações bem-intencionadas de governo, que nos permite acessar crédito, viabilizar alguns programas de capacitação profissional, caminhar com maior celeridade para inserção de pessoas com deficiência no ambiente escolar e vislumbrar algumas possibilidades de melhor qualidade de atendimento no âmbito do SUS. Contudo, ainda estamos longe de uma política de Estado. O Brasil não debate no seio de seus partidos políticos nem dentre seus gestores dos três entes federados qual o melhor modelo de gestão para uma política que deveria existir na perspectiva de dar respostas para dezenas de milhões de pessoas.

Ainda temos que nos sujeitar ao calvário pela busca de laudos para provar o tempo todo que somos cidadãos de direitos. Sofremos sem perspectivas de mudanças ao ver, após 20 anos de Loas, pessoas com deficiência tendo que comprovar um quarto de salário-mínimo per capta, para ter acesso a um direito constitucional como o BPC, mesmo tendo inúmeras deliberações de conferências nacionais apontando para uma mudança radical neste sentido. Deixamos de ser portadores de deficiência, graças a um avanço na compreensão semântica, porém temos que ficar amealhando carteirinhas para comprovar nossa deficiência em diferentes equipamentos públicos.

Espero que esse não seja encarado como um texto pessimista, ou injusto, com as tantas coisas boas que já foram feitas. Trata-se apenas de um alerta para a necessidade urgente de rompermos com a letargia que nos leva a testemunhar uma retração na inserção de pessoas com deficiência na ordem de 5% no mundo do trabalho entre 2007 e 2012.

A sociedade civil organizada precisa ser protagonista mais uma vez. Retomar sua capacidade de mobilização e ajudar o Estado brasileiro encontrar caminhos inovadores e bem mais arrojados dos que hoje temos trilhado.

Despeço-me cumprimentando tantos companheiros de luta que ganhei nesses quase 20 anos. Aproveito para homenagear tantos que já se foram, e saudar aos que constroem o futuro por meio de suas ações presentes. Gestores, trabalhadores, e todos nós, pessoas com deficiência, que com todos nossos erros e acertos, chegamos até aqui com a certeza de que podemos ir muito mais além. Nada sobre nós sem nós!

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria-executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde).
 




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