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Casos de Aids caem
60,8% em dez anos

Hoje é celebrado o dia mundial de combate à doença;
diagnóstico precoce ainda é desafio para a população

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
01/12/2013 | 08:48
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Andréa Iseki/DGABC


O número de novos casos de Aids no Grande ABC teve queda de 60,8% em dez anos. Em 2003, 618 pacientes tiveram a confirmação da doença, contra 242 em 2012 – último dado disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Apesar da diminuição, especialistas salientam que ainda é preciso estimular o diagnóstico precoce. Hoje é celebrado o Dia Mundial de Combate à Aids.

A estatística não diz respeito ao número total de pessoas contaminadas pelo vírus HIV. Isso porque, mesmo após o contágio, a pessoa só é considerada portadora da Aids quando a contagem de células CD4 – responsáveis pela defesa do organismo – é inferior a 250 por milímetro cúbico de sangue ou quando as infecções oportunistas começam a se manifestar. O ideal é que a presença do vírus seja detectada antes da manifestação da doença, o que aumenta a eficácia dos medicamentos retrovirais no combate aos sintomas.

O professor Hélio Vasconcellos Lopes, titular da disciplina de Infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), afirma que cerca de 40% dos diagnósticos são feitos tardiamente. “Nesses casos, o paciente já está muito doente, o que dificulta o tratamento.” Quando os exames apontam carga de células CD4 inferior a 500, já é iniciada aplicação dos medicamentos retrovirais.

A descoberta da doença também evita o contágio. “Alguns países, como Estados Unidos e Brasil, iniciaram tratamento com infectados que mantêm relacionamento sexual com soropositivos. A pessoa negativa faz uso da droga, e isso reduz substancialmente o risco de ele se infectar. Se o vírus chega a ele, é destruído. Isso chama-se profilaxia para parceiros discordantes”, acrescenta.

PERFIL

A maioria (62,4%) dos moradores do Grande ABC contaminados pelo vírus HIV em 2012 tem entre 30 e 49 anos. Os homens representaram 64,9% do total, enquanto as mulheres somaram 35,1%. Na região, a incidência é de 9,37 pessoas com Aids a cada 100 mil habitantes. No Brasil, o último Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2011, apontou que a taxa era de 20,2 casos por 100 mil habitantes. De 2003 até o ano passado, 11.677 registros da doença foram computados nas sete cidades.

Dos 242 pacientes que tiveram diagnóstico de Aids em 2012, 74 (30,6%) se declararam heterossexuais, contra 38 (15,7%) homossexuais e 14 (5,9%) bissexuais. A orientação sexual foi ignorada em 108 (44,6%) dos casos. Foi computado apenas um registro de transmissão vertical, quando a gestante passa o vírus para o feto.

Pacientes têm melhora na qualidade de vida

O aperfeiçoamento das medicações para soropositivos tem proporcionado aumento gradativo no bem-estar dos pacientes. Atualmente, é possível passar décadas com o vírus HIV sem perder qualidade de vida. Morador de Santo André, o aposentado José Ramos de Queirós, 47 anos, recebeu o diagnóstico da infecção há 22 anos. A descoberta ocorreu após tentativa de doar sangue. “Fiz o teste e deu positivo. Minha casa caiu. Tive medo da morte e do preconceito”, lembra.

Passadas pouco mais de duas décadas, Queirós leva vida normal. Pratica esportes e já está há cinco anos com a carga viral indetectada. “O tratamento evoluiu muito. Antigamente só havia uma opção de medicamento.” Ele lembra que, no início, tomava 22 comprimidos diariamente. Hoje são 12 cápsulas. Ele garante que a aposentadoria não tem relação com o vírus, mas com doença cardíaca que desenvolveu.

Queirós é fundador de ONG de apoio aos portadores do vírus. Um dos principais objetivos estabelecidos foi a luta contra a discriminação. “O preconceito sempre existiu, mas precisamos tirar de letra.” Na empresa metalúrgica onde trabalhava, ele recebeu apoio e até deu palestras para colegas.

Por outro lado, o paciente teme que a melhora da qualidade de vida desestimule a prevenção, principalmente entre os jovens. “A juventude acha que coquetel é cura”, lamenta. Na avaliação de Queirós, o poder público também relaxou na divulgação de campanhas de conscientização. “Hoje, só se fala disso no Dia Mundial de Combate à Aids e no Carnaval”, critica.

Os testes para detecção do vírus HIV podem ser feitos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da região. Em caso de diagnóstico positivo, o paciente é encaminhado para centros especializados de tratamento.

Estado registra queda de mortalidade

O Estado registrou queda no índice de mortalidade por Aids. Em 2011, a taxa era de 7,2 mortes a cada 100 mil habitantes. No ano seguinte, a incidência caiu para 6,6 por 100 mil habitantes. Em números absolutos, a redução foi de pouco mais de 3.000 para 2.706, aponta o coordenador adjunto do programa estadual de DST Aids, Artur Kalichman. As transmissões verticais – da gestante para o bebê – caíram de 16% na década de 1980 para 2%.

Kalichman salienta que, apesar da redução global, os casos voltaram a ter aumento entre homens homossexuais. “Acho que está havendo diminuição no uso do preservativo. O fato de ter tratamento, embora não haja cura, pode ter causado falsa despreocupação.”

No Brasil, a compra de medicamentos para soropositivos é feita pelo Ministério da Saúde. As substâncias são enviadas para os Estados e repassadas para os municípios. Pacientes diagnosticados em clínicas particulares também podem utilizar remédios fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), desde que apresentem guia especial.

A infectologista Mariliza Henrique da Silva, coordenadora do programa de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), Aids e Hepatites de São Bernardo, informa que, além dos preservativos, a rede oferece a chamada profilaxia pós-exposição. “A pessoa que passou por situação de risco, como sexo desprotegido ou contato acidental com sangue infectado, será avaliada. Se for constatada necessidade, será aplicada medicação por 28 dias. O paciente seguirá em acompanhamento por seis meses”, detalha. O uso dessa medicação deve ser controlado, pois provoca efeitos colaterais.

A psicóloga Debora Vichessi, responsável pelo Ambulatório de Referência para Moléstias Infecciosas de Santo André, avalia que o preconceito ainda é responsável pela baixa procura pelos exames. “É preciso quebrar estigmas e a resistência das pessoas por saber seu estado sorológico.”
 




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