Política Titulo Comissionado
Luiz Marinho acolhe
funcionário fantasma

Orlando Peixoto foi contratado para ser consultor de
obra na Prefeitura, mas passa dia na própria empresa

Raphael Rocha
Celso Luiz
01/12/2013 | 07:50
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Celso Luiz/DGABC


Candidato derrotado na eleição à Câmara de São Bernardo no leque de alianças do prefeito Luiz Marinho (PT), Orlando Peixoto (PSD) mantém rotina de trabalho no bairro Taboão, seu reduto eleitoral. Chega por volta das 10h em seu escritório de contabilidade, na Rua Bulgária, estreita travessa da Avenida Taboão. Sai ao meio-dia para o almoço, retorna às 14h, atende clientes, conversa com moradores. Às 17h30, costuma encerrar as atividades do local pessoalmente. Toda jornada diária seria normal não fosse pelo fato de Peixoto ocupar, desde o dia 8, cargo comissionado de consultor de obras no governo petista, explicitando caso de funcionário fantasma.

A portaria número 49.943/13 alocou Peixoto numa das principais vagas da Secretaria de Planejamento Urbano da gestão Marinho, chefiada por Alfredo Buso, no qual o setor está abrigado. O despacho informou que o pessedista tem de cumprir expediente de 40 horas semanais – oito horas diárias, de segunda-feira a sexta-feira – para receber salário mensal de R$ 8.079,17.

A equipe do Diário acompanhou a rotina de Peixoto durante a semana e constatou: o contador pouco ou nada fica na Prefeitura e muito permanece em seu escritório particular. O ex-candidato foi flagrado na terça-feira, quarta-feira e quinta-feira em frente à sala comercial, em horário que deveria fiscalizar obras públicas, para executar serviço pelo qual foi admitido pela gestão do petista.

Empregar funcionário fantasma é passível, ao prefeito e secretário responsável, de processo por improbidade administrativa, ferindo preceitos da moralidade administrativa, eficiência, impessoalidade – condenação que recai em inelegibilidade e perda de direitos políticos. Ao servidor, os crimes são de enriquecimento ilícito e desvio de dinheiro público, cuja punição pode ser a prisão.

Na segunda-feira, funcionária da Organização Contábil Peixoto & Silva Ltda confirmou que seu chefe trabalha no local das 8h às 17h30, com saídas para o almoço. No horário do contato, às 16h21, ela informou que Peixoto atendia cliente na propriedade, localizada a dez quilômetros do Paço de São Bernardo, onde, no oitavo andar, fica o setor de Obras da Secretaria de Planejamento Urbano. No dia seguinte, o servidor passou a tarde em atendimento particular, segundo seus empregados. Até fechou o estabelecimento, às 17h55.

Dois dias depois, o político estacionou sua Fiat Strada Adventure verde musgo em frente à sua contabilidade, num local onde a parada é proibida. Apareceu no local às 11h55, horário de almoço no Paço de São Bernardo, mas não cumpriu a hora da refeição: ficou 20 minutos a mais somente no escritório, sem levar em consideração o tempo do percurso entre sua propriedade e a sede do Executivo.

Na mesma quinta-feira, um servidor do departamento de Obras da Prefeitura confirmou que Orlando Peixoto nunca foi visto e que ninguém ouviu falar no ex-candidato a vereador pelo PSD, que recebeu 2.492 votos e está na primeira suplência. “Orlando Peixoto... Em obras públicas conheço todos (trabalhadores) e esse nome não tem”, comentou o funcionário público que não quis se identificar.

O ex-candidato ingressou na Prefeitura sob bênção de Marinho, que afagou aliados com cargos na administração para consolidar a base governista na Câmara. No Legislativo, o PSD tem dois vereadores: Rafael Demarchi e Fábio Landi, que preside o diretório municipal da legenda.

DIA A DIA DE CANDIDATO
Peixoto nasceu em Araraquara, interior do Estado, mas é no bairro do Taboão que se sente à vontade para fazer política. Entre um atendimento em sua contabilidade e saídas do escritório, o pessedista aflora seu lado candidato. Foram muitas as vezes que a equipe do Diário flagrou o contador do lado de fora de seu escritório particular, conversando com moradores.

Não à toa, o PSD quer lançá-lo a deputado estadual no ano que vem, numa dobrada com Rafael Demarchi, que concorrerá a uma cadeira na Câmara Federal.

A intenção foi externada em outubro, quando o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, veio ao Grande ABC para lançar candidaturas do partido na corrida eleitoral de 2014. E, mesmo faltando 308 dias para a eleição do ano que vem, Peixoto já segue à risca a ordem do comandante em difundir seu projeto político.


Contador nega ilegalidade: ‘É tudo intriga da oposição’

Funcionário fantasma no governo do prefeito Luiz Marinho (PT), em São Bernardo, Orlando Peixoto (PSD) negou cometer irregularidade na função do cargo comissionado e afirmou que a denúncia “é intriga da oposição”. Entretanto, admitiu: foi contratado por indicação estritamente política.

“Todo dia passo lá (no Paço) para pegar o serviço que tenho de fazer. É normal, é o trabalho que faço”, justificou o pessedista. “Não fico sentado dentro da Prefeitura. Sou consultor de obras, por isso fico fora um bom tempo. Não tenho horário específico para ficar na Prefeitura”, emendou o político, desconsiderando a portaria assinada por Marinho que estipula horário de serviço.

Peixoto disse que “dá uma passada no escritório somente no horário de almoço” e que “várias fezes ficou até à noite” na administração. “Só quando termino é que vou descansar”, discorreu o pessedista.

O ex-candidato salientou que sua função é vistoriar obras públicas, mas, na sexta-feira, quando conversou com a equipe do Diário, afirmou não ter feito nenhuma avaliação. “Estava lá com nosso secretário (Alfredo Buso, de Planejamento Urbano), conversando um pouco, verificando algumas coisas.”

“Não sei onde estão achando isso (que é funcionário fantasma). Passo num lugar, no outro, conheço a comunidade. Começo a bater papo com um, com outro. São perguntas que as pessoas fazem sobre obra, sobre a anistia, que o prefeito está acabando de sancionar. É algo que estamos explicando na rua”, alegou Peixoto, estendendo a lista de atribuições ao seu cargo.

O contador reconheceu também que ingressou no governo por indicação política. Questionado sobre quem o apadrinhou no Executivo, respondeu: “Foi a administração (Marinho)”. Nomeação essa que, segundo ele, era para ter saído antes, não fosse problemas com a documentação de admissão. “Tivemos de ajeitar essas coisas, agora está tudo normal.”

O governo Marinho, por nota, informou que vai averiguar o caso.
 




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