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Sociedade freak show

Artistas do teatro e do audiovisual do Grande ABC
unem forças para montagem do espetáculo Monga

Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
04/11/2013 | 08:04
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Andréa Iseki/DGABC


A figura da mulher macaco, que ficou conhecida em parques de diversão e circos ao redor do mundo, é o ponto de partida para o espetáculo Monga, que discute as clausuras física e psíquica que a imagem pode construir. A estreia é na quarta-feira, às 21h, e segue em temporada até 11 de dezembro no teatro do Sesc Santo André.

A produção remonta ao fascínio que a atriz andreense Maria Carolina Dressler tem pela personagem desde a infância. Há três anos, ela começou a pesquisar para transpor essa história aos palcos e, entre literatura e tristes acontecimentos reais, encantou-se pelo cinema do diretor Marco Ferreri (1928-1997), que lhe rendeu viagem de pesquisa à Itália, país do cineasta. leia mais no texto à direita). “Depois de muito tempo pesquisando e tentando captar patrocínio, às vezes sem sucesso, decidi que em 2013 o texto seria montado, com dinheiro ou sem”, afirma.

Apesar de ter começado como um projeto extremamente pessoal, Monga ganhou caráter coletivo no decorrer da produção. Tudo por conta do histórico de formação de Maria Carolina, que fez parte de companhias teatrais que criavam dessa maneira colaborativa.

Ao texto da idealizadora se juntaram os do dramaturgo Pietro Floridia, do Teatro Dell’Argine, de Bolonha e da são-bernadense Juliana Sanches, do Grupo XIX de Teatro, que assina também a direção da peça. “Cada um tinha uma visão a respeito da história e fomos escrevendo, nós aqui e o Pietro lá da Itália. Como eram muitas referências, nas últimas semanas ainda demos uma última limpada no texto”, afirma Juliana.

Aline Gaia, Andréa Iseki e Edson Costa, da Corja Filmes, produtora de cinema de Santo André, também colaboraram, ao lado de Jonatas Marques, na criação de toda a parte audiovisual que é inserida na narrativa. Andréa, fotógrafa do Diário, também assina a iluminação do espetáculo.

VIDA REAL - Uma das inspirações para a montagem foi a história trágica da mexicana Julia Pastrana (1834-1860), que sofria de hipertricose, condição que fazia com que seu rosto fosse coberto por pelos. Morta aos 26 anos, ao dar à luz, Julia foi explorada pelo marido, Theodor Lent, que a ‘empresariava’ em apresentações. Seu bebê, que não sobreviveu ao parto, também tinha a doença. Ambos os corpos foram embalsamados e expostos muitos anos após suas mortes. Como homenagem à mexicana, a personagem do solo de Maria Carolina, uma bela mulher enjaulada que espera por sua transformação em um símio, também se chama Julia.

Monga – Teatro. Estreia quarta-feira (6), às 21h. No Sesc Santo André (Rua Tamarutaca, 302, Vila Guiomar. Tel.: 4469-1200). Ingr.: R$ 10 (meia-entrada) a R$ 20. Todas as quartas-feiras (exceto dia 20), às 21h. Até 11 de dezembro.

Atriz quer difundir obra do cineasta Marco Ferreri

Durante as pesquisas para a montagem de Monga, Maria Carolina Dressler cruzou com a cinematografia de Marco Ferreri, morto há 16 anos. “Ele criticava a sociedade do espetáculo e teve Julia Pastrana como inspiração para o filme La Donna Scimmia. Foi muita coincidência com o que queríamos fazer”, conta a atriz andreense.

Em julho do ano passado, ela pôde ficar imersa no universo de Ferrari. Foi para a Itália e trocou ideias com pessoas que trabalharam com ele ou o conheciam. Nesse intercâmbio, passou também pelo Museo Nazionale del Cinema, em Turim, o Centro Sperimentale di Cinema, em Roma, e a Università degli Studi di Verona.

A intenção agora é de que esse contato com a obra do cineasta de filmes como L’ape Regina (1963), La Cagna (1972)e La Grande Bouffe (1973) permita que sua obra possa ser mais difundida por aqui, já que seus títulos, de elevado tom ácido, não são exatamente conhecidos, mesmo em sua terra natal.

“Pretendo fazer uma mostra com seus filmes, entre outros trabalhos inspirados por ele. Quando cheguei a uma universidade na Itália, um professor ficou admirado e feliz que eu tivesse saído do Brasil para pesquisar sobre o Ferreri, já que muitos dos estudantes de lá não se interessavam”, conta.
 




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