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Mercado aposta
em alta dos
juros para 9,5%

Alta de 0,5 ponto percentual na Selic deve gerar impacto pequeno na ponta, para o consumidor

Leone Farias
do Diário do Grande ABC
09/10/2013 | 07:07
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DGABC


O Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), define hoje se haverá mudança na Selic. A taxa básica de juros serve de referência para a economia brasileira e é usada nos empréstimos feitos entre os bancos. A perspectiva de grande parte dos analistas é que a taxa, que atualmente está em 9% ao ano, vai subir meio ponto percentual, para 9,5% ao ano. É o que aponta o relatório Focus, do BC, que coleta as projeções econômicas de instituições financeiras e consultorias.

Para muitos economistas, os índices de inflação continuam altos, e a intenção do governo federal é colocar a taxa inflacionária mais próxima do centro da meta (que é de 4,5%) e, por isso, há a necessidade de elevação de 0,5 ponto percentual.

Essa é a avaliação do professor Eduardo Becker, coordenador do curso de Economia da Esags (Escola Superior de Administração e Gestão) de Santo André. Ele acrescenta que a ascensão do dólar nos últimos meses é um agravante, pois ajuda a pressionar os preços dos produtos no mercado interno. No período de 12 meses terminados em agosto, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) está em 6,09%.

Por sua vez, o professor Claudio Gonçalves, que dá aula no curso de MBA em Gestão de Riscos da Trevisan Escola de Negócios, considera que, além da questão da inflação, a situação ainda é um pouco tensa no cenário econômico externo. Segundo ele, o alto deficit orçamentário norte-americano e as dúvidas se o Fed (o Federal Reserve, ou seja, o Banco Central dos Estados Unidos) vai reduzir ou não incentivos àquela economia são fatores que colaboram para a alta da Selic. A retirada de estímulos poderia gerar saída de dólares de países emergentes e pressionar para cima o valor dessa moeda no Brasil.

Há quem entenda, no entanto, que uma alta de 0,5 ponto percentual não seja necessária neste momento. O professor do Laboratório de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração) José Roberto Savóia vê espaço apenas para elevação de 0,25 ponto (para 9,25% ao ano) nesse momento. “Mas não vejo razão para deixar essa decisão (de alta) para mais tarde, é a hora ideal”, avalia. Ele acrescenta que seria uma sinalização importante para demonstrar interesse em ação sobre a taxa inflacionária. Savóia afirma ainda que dentro da política econômica formada por três bases – âncora cambial, controle da inflação e aspecto fiscal –, o governo tem mais dificuldade nessa última área e é importante não descuidar das outras. “Em um tripé, se você tira dois pés, você cai”, afirma.

CONSUMIDOR - A alta de 0,25 a 0,5 ponto percentual na Selic deve gerar impacto pequeno nos juros na ponta para o consumidor, de acordo com projeções da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Administração, Finanças e Contabilidade). Em compra de geladeira com preço à vista de R$ 1.500, financiado em 12 meses, o acréscimo, com a taxa básica a 9,5% ao ano – a taxa mensal do comércio subiria de 4,11% para 4,15% – seria de apenas R$ 4,47 no valor total, ou R$ 0,37 a mais na parcela <CF51>(veja mais na arte acima).

Isso se houver repasse apenas do encarecimento do crédito interbancário. Recentemente, o Diário mostrou que após o BC elevar a taxa básica de juros de 8,5% ao ano para 9%, seis grandes bancos subiram seus empréstimos pessoais bem mais do que o 0,5 ponto percentual da selic. A diferença chegou a até 9,84 pontos percentuais, aumento que supera em 19 vezes o da Selic.

Elevação da taxa não deve reduzir atratividade da caderneta

Mesmo se a Selic for elevada em meio ponto percentual, o rendimento da poupança continuará mais interessante do que fundos de renda fixa, segundo a Anefac. Isso porque a caderneta tem seu ganho garantido por lei – TR (Taxa Referencial) mais 6,17% ao ano – e não sofre qualquer tributação, diferentemente desses fundos, que têm incidência de IR (Imposto de Renda) sobre seus rendimentos. No caso dos fundos de renda fixa, quanto menor for o prazo de resgate, mais se paga ao Fisco e também maior é a taxa de administração cobrada pelos bancos.

Regra que entrou em vigor em 2012 estabeleceu que, quando a Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano, novos depósitos em poupança passam a ter rendimento de 70% da taxa básica mais a variação da TR. Tendo em vista que os juros que são referência da economia já ultrapassaram esse patamar, o rendimento dessa aplicação voltou a ter rendimento de TR mais 6,17% ao ano.

De acordo com simulação da Anefac, se uma pessoa poupa R$ 10 mil pelo prazo de 12 meses, com a Selic a 9,5%, teria R$ 719 de rendimento. Para superar isso, um aplicador que fizesse mesmo aporte em fundo de investimento teria de encontrar um banco com taxa de administração de 0,5% para conseguir ter retorno melhor (R$ 744). Esse fato pode provocar reduções nos custos das instituições financeiras, segundo a associação.

Por outro lado, o estímulo à caderneta deve beneficiar o crédito imobiliário, já que os bancos são obrigados a repassar parte dos recursos para o financiamento habitacional. 




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