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Mentiras e verdades sobre os animais

Histórias assustadoras podem causar a extinção de espécies; é preciso cuidado para não se deixar enganar

Caroline Ropero
11/08/2013 | 07:00
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Quem nunca ouviu histórias de que lobos viram lobisomens, morcegos são vampiros e gato preto dá azar? Crendices como essas fazem a sociedade acreditar que alguns animais são malvados. Assim, há pessoas que, com medo, os matam, e isso tem levado muitas espécies ao risco de extinção.

É o caso do aye-aye, que vive só na ilha de Madagascar, na África. Tem olhos grandes e amarelados, pelagem rala, orelhonas, dedos finos, com um de cada pata mais comprido, usado para pegar larvas nos buracos das árvores.

Uma crença, que surgiu no passado, dizia que se a pessoa encontrasse o aye-aye na mata e o bicho apontasse para ela, significaria que a mesma morreria. Desse modo, muitos habitantes que veem o animal o matam antes que ele consiga fugir ou se esconder. Hoje, a espécie pode desaparecer.

HÁ MUITO TEMPO... - Na Idade Média, a partir do século 12, muitos animais, principalmente os de hábitos noturnos, como a coruja e o gato preto, eram mortos. Acreditava-se que estavam ligados a bruxarias e coisas más. O problema é que tem gente que ainda pensa assim. É um dos motivos pelos quais ocorrem tantos maus-tratos e abandonos. Funcionários do Centro de Zoonoses de São Paulo, por exemplo, acham com frequência gatos pretos machucados pelo homem.

Saber que as lendas são histórias de mentirinha para incentivar a imaginação é importante. Mais do que isso, o biólogo Guilherme Domenichelli acredita que precisamos conhecer e divulgar informações corretas para que os animais não sejam agredidos. Afinal, não são malvados e não desejam machucar as pessoas. 

“Quando o bicho ataca é porque o homem invadiu seu espaço e ele se sentiu ameaçado”, diz Maximo Alves Mota, 10 anos, de Santo André. Em geral, quando um animal silvestre encontra um humano na natureza, foge com medo. 

A gente também deve lembrar que animais carnívoros não são maus só porque se alimentam de outras espécies. Faz parte do ciclo da natureza, necessário para manter o equilíbrio do planeta. Veja nestas páginas outros bichos que sofrem por causa de ideias falsas.

Não existe bicho feio ou bonito

Não podemos dizer que um animal é feio ou bonito. Cada um tem características necessárias para sobreviver na natureza. O ornitorrinco, por exemplo, já foi considerado horroroso por muita gente por ter bico semelhante ao do pato, cauda que lembra a do castor e botar ovos como aves e répteis, mesmo sendo mamífero. 

Na época de sua descoberta, no fim do século 18, cientistas europeus pensaram que alguém havia costurado partes de diferentes bichos para enganá-los. Hoje, sabe-se que o ornitorrinco é assim porque sofreu adaptações no corpo ao longo de milhões de anos para conseguir realizar atividades como se mover na terra e na água e se alimentar.

É natural sentir insegurança ao encontrar um animal diferente. Mas ninguém tem o direito de machucar ou matá-lo. 

Muitos bichos ainda nem foram descobertos. Pode ser que os cientistas achem alguns deles. No entanto, por causa da poluição, incêndio, desmatamento e outros problemas, há espécies que serão extintas antes mesmo de as conhecermos.

Willian de Sousa, 9 anos, de Santo André, aprendeu que a caça para fabricação de roupas também contribui para o desaparecimento de animais. “Matam para fazer cinto e sapato. Desse jeito, os bichos podem entrar em extinção.” O menino sabe que é importante respeitar todos os seres. “Não podemos invadir o espaço que é deles.”

Saiba mais

Em países asiáticos existe a crença de que o chifre do rinoceronte tem poder de cura. Por isso, muitos caçam o animal para arrancar ou serrar a ponta, deixando o bicho sem defesa. O que poucos sabem é que o chifre é feito de queratina, substância também presente nas nossas unhas. Portanto, o poder de cura não existe. A crendice continua fazendo com que muitos rinocerontes sejam mortos. Em alguns lugares, o quilo do pó do chifre de rinoceronte é vendido por até R$ 7.000.

No século 19, o escritor Bram Stoker escreveu o livro Drácula, criando o vampiro mais importante da literatura. Desde então, novas obras foram baseadas no personagem, e o morcego tornou-se símbolo dele. “No desenho Hotel Transilvânia o vampiro se transforma em morcego, mas sei que não acontece na vida real”, afirma Luana Paulino, 8 anos, de Santo André. Por causa da lenda, muita gente ainda acredita que todos os morcegos sejam hematófagos (alimentam-se de sangue) e atacam o homem. Na verdade, apenas três, das cerca de 1.110 espécies do mamífero voador, ingerem sangue de animais. As demais comem insetos, pequenos invertebrados, frutos, néctar e pólen das flores.

Na Idade Média, acreditava-se que as corujas eram espíritos ruins. Por isso, eram mortas e pregadas na porta das casas para espantar outras almas do mal. O costume acabou. No entanto, há quem diga que quando a ave pousa no muro de uma casa e pia, alguém da família vai morrer. Claro que nada disso é verdade. O animal não é perigoso. Para muitos povos, representa a inteligência e o conhecimento. Em algumas regiões, ajuda a manter equilibrado o número de ratos, seu principal alimento. Se as corujas deixassem de existir, a reprodução dos roedores seria enorme; e os bichos, em grande quantidade, poderiam destruir plantações inteiras.

O filme Tubarão virou sensação no cinema e causou pavor em muita gente quando foi lançado em 1975. Conta a história do bicho que mata banhistas numa praia. No entanto, na vida real, o animal só machuca quem invade seu território. “Vi na TV que uma menina foi atacada em Recife porque estava nadando onde existiam tubarões. Tinham placas avisando que era perigoso, mas ela não obedeceu”, diz Gabrielle dos Santos Rios, 9 anos, de Santo André. Segundo especialistas, o bicho não gosta de carne humana. Às vezes, o tubarão confunde o surfista – que nada em cima da prancha movimentando braços e pernas – com focas, um de seus alimentos preferidos.

Já ouviu falar no filme Anaconda (1997)? Fala de uma sucuri (chamada anaconda em outros países, como os Estados Unidos) que é gigante e ataca pessoas. Apesar de ser mesmo bem grande, com até 10 metros de comprimento, a cobra não gosta de se aproximar de humanos e só vai machucar alguém quando se sentir ameaçada. As serpentes, em geral, comem pequenos animais, ovos e insetos. As que possuem veneno injetam os dentes na presa. As demais (caso da sucuri) esmagam o bicho até que morra asfixiado (sem ar). Há quem acredite que a cobra seja malvada por causa da história bíblica em que Eva é enganada por uma. Na religião hinduísta, na Índia, porém, o animal é considerado sagrado.

O lobo é considerado malvado porque ataca carneiros e porquinhos indefesos, certo? Na verdade, ele faz isso na natureza, pois precisa se alimentar. E os animais que vivem em rebanho são presas mais fáceis de capturar. Há muitos anos, o homem invadiu o espaço do lobo. Para proteger os bichos que criavam, as pessoas passaram a caçá-lo e premiar aqueles que o matavam. Por causa disso, o bicho aparece em histórias antigas como o vilão.

No passado, se um homem era mordido por lobo e contaminado por raiva (doença) passava a ter fortes tremores, medo de luz, além de gemer por causa das dores. Acredita-se que isso tenha contribuído para o surgimento da lenda do lobisomem.

A hipertricose é doença rara que causa excesso de pelos no corpo. Acredita-se que ela ajudou a espalhar a lenda de que o lobisomem é a mistura do homem com o lobo.

Antigamente, a sociedade acreditava no antropocentrismo – o homem como o centro do universo. Hoje, sabe-se que todos os seres, como plantas e animais, são tão importantes quanto as pessoas.




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