A região de Cuzco, no sudeste do Peru, autorizou a partir desta terça-feira o cultivo de folha de coca em três vales, com o argumento de que esta planta deve ser reconhecida como um produto tradicional da região. A medida, assinada pelo presidente regional, Carlos Cuaresma, na Plaza de Armas de Cuzco, reconhece como áreas de produção tradicional de coca os vales de La Convención, Yanatile e Qosñipata. Argumenta-se que a folha milenar destina-se ao uso medicinal, cerimonial, religioso-cultural e ao consumo dos camponeses andinos, que mastigam a folha. Será estabelecido em Cuzco um instituto regional de pesquisa científica que apontará os benefícios (quando utilizada pela indústria) e malefícios (quando transformada em cocaína pelos narcotraficantes) da coca.

Cuaresma, que pertence à FIM (Frente Independente Moralizadora), partido aliado do governo, assegurou que a decisão adotada pelo governo regional não será revertida e que o que está em jogo não é apenas "a folha de coca, mas o processo de descentralização supostamente incentivado pelo governo central".

O especialista em narcotráfico Jaime Antezana considera a nova medida preocupante, pois "uma quantidade cada vez maior de coca destina-se a atividades ilícitas". De acordo com seus cálculos, das 17,5 mil toneladas produzidas nos três vales do departamento do Cuzco, 2,5 mil são compradas pela Enaco (Empresa Nacional da Coca), órgão oficial encarregado de comercializar a coca, e a mesma quantidade destina-se ao consumo tradicional dos camponeses. Ou seja, sobram 12,5 mil toneladas, que supostamente iriam parar nas mãos dos narcotraficantes.