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Quem é a vítima

Quantas pessoas já não fizemos vítimas de nossos erros...

Carlos Ferrari
Do Diário do Grande ABC
07/08/2013 | 07:00
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Quantas pessoas já não fizemos vítimas de nossos erros? Um julgamento equivocado, uma resposta de mau humor, uma intolerância por capricho, um ‘não’ por pura preguiça ou falta de vontade. O ser humano, por vezes, nos faz ser injustos, mas salvo lamentáveis exceções, essa acaba não sendo a escolha de conduta que elegemos para pautar nossas vidas. Por valores herdados, princípios declarados e, por que não dizer, pelo simples orgulho de fazer parte do lado bom do mundo, buscamos ser gentis, agradar com pequenos gestos e, por vezes, até presenteamos, buscando assim superavit do bem na composição de um pseudobalanço de nossas atitudes cotidianas.

Diferente do que acontece com os números, a conta que nos apresentam os resultados de nossas relações, caminha distante de qualquer possibilidade de avaliação que a rotule como exata. Ao contrário do senso comum, não depende apenas de nossa vontade ter uma relação do bem com outra pessoa. Assim, alguém pode achar que foi decisivo para a vida de um amigo, visto que se colocou com toda a sinceridade. Já o amigo, por sua vez, avalia que foi ofendido, humilhado e pode até recorrer à Justiça contra seu ‘algoz’ por tamanha ‘ofensa moral’.

Trago-lhes estas reflexões, sob forma de um convite para pensarmos o quanto temos permitido que nos façam parecer cruéis. Se colocar como vítima acaba, para muitas pessoas, sendo a saída ideal para transformar uma situação que, se avaliada a partir de parâmetros lógicos e éticos, seria dada quase que por irreversível. Se você ficou com dúvidas sobre como de fato isso funciona é fácil buscar bons exemplos. Basta puxar na memória aquela novela ou filme onde o vilão que lhe causava raiva e, de repente, se transformou no meio da trama em vítima de suas próprias vítimas. A receita acaba sendo quase sempre a mesma, ou seja, o algoz troca de lugar com a vítima, conquistando o perdão coletivo e, às vezes, até provocando uma comoção pública.

Vale a pena ficar alerta. Como já disse anteriormente, temos erros de sobra para nos arrepender. Pessoas em grande quantidade que merecem nossos pedidos de desculpas, somados a um esforço pessoal para reparar falhas pequenas, porém com grandes impactos para determinadas relações. Não podemos permitir que figuras mal-intencionadas entrem para esse passivo de forma voluntária. Quando isso acontece, acabamos tendo, além de nossas vítimas reais, aquelas propositais. Estas, estrategicamente, acabam ganhando força, graças à piedade provocada por uma leitura injusta dos fatos distorcidos, feita por desavisados de plantão. Me despeço deixando o pensamento de Pierre Nicole: “Não é a injustiça em si mesmo que nos fere, é sermos vítimas dela.”

Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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