Eva Wilma volta aos palcos para celebrar 80 anos
de vida, 60 de carreira e discutir o ofício teatral
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Sessenta anos de carreira, quase 80 de vida, e Eva Wilma, quando faz teatro, costuma dizer: ‘estou indo para a escola’. De volta às aulas, depois de cinco anos longe dos palcos, ela retorna à cena ao lado do diretor Renato Borghi em 'Azul Resplendor', que estreia sábado no Teatro Renaissance, em São Paulo. “Se você fica só na imagem, corre o risco de cristalizar seu trabalho. Eu gosto de televisão, cinema, mas preciso voltar ao exercício teatral, é a escola do ator. No teatro, na hora do vamos ver o ator é absoluto em cena”, conta a atriz.
A peça dentro da peça, além de ser um tributo às efemérides da trajetória da atriz, é uma homenagem ao exercício do ator. O texto do peruano Eduardo Adrianzén se passa nos bastidores de uma produção teatral. Tito (Pedro Paulo Rangel), um velho ator de papéis inexpressivos, depois que a mãe morre, decide escrever um texto em sua homenagem. A ideia é que Blanca Estela (Eva Wilma), grande atriz do passado, afastada há quase 30 anos do palco – e seu grande amor –, o encene.
Para aceitar, ela faz uma exigência: ter a seu lado o maior diretor teatral da atualidade, Antônio Balaguer (Dalton Vigh), um cara acostumado a ouvir que é gênio. Junto deles, e dos personagens de Luciana Borghi, Luciana Brites e Felipe Guerra, que fazem, respectivamente, uma assistente de direção e dois atores, os bastidores da montagem do espetáculo são a peça em questão.
Os dilemas da criação, os jogos de poder de uma cambada de artistas de ego inflado, as carências de cada ser, tudo vem exposto junto, graças a vários apartes, que traduzem a todo instante o que cada um pensa sobre as situações que vivem durante os ensaios. “De um lado caminhamos com certo enredo, de outro, isso é quebrado para o público”, comenta Borghi, que assina a direção ao lado de Elcio Nogueira Seixas.
“Há o choque entre os que entram e saem de cena. Vemos através da peça como eles se espelham. Às vezes você está cheio de ambições, quer fazer, acha que vai chegar ao Olimpo e fica onde está”, diz Seixas, que acredita que o texto é cruel com os atores.
“A minha impressão foi ‘ninguém presta’”, fala Pedro Paulo Rangel sobre a primeira leitura do texto. “Fiquei triste, achei todos uns desgraçados. No dia seguinte, na leitura do texto, tomei uma surra do elenco. O que parecia triste se tornou risível, estamos rindo das nossas próprias deformações. Vamos ganhando máscaras, mas tem alguém no fim da máscara que é ser humano”, diz Luciana Brites.
“A essência desse autor contém muito humor crítico. E também tem poesia. Durante os ensaios, tivemos ataque de risos em algumas cenas, rindo das nossas fragilidades, dos obstáculos todos”, completa Eva, que assume o segredo de estar há tanto tempo trabalhando: “o segredo da persistência é ter sempre mantido minha liberdade de escolha. É uma dureza, mas vale a pena.”
Para Borghi, outra atitude de Eva é essencial para o exercício no teatro. “A gente faz trabalho de mesa. É fundamental que o ator leia, descubra o que está por trás das letras. Depois que eu pedi para que todos decorassem o texto, a Eva disse: ‘eu vou estudar’. Isso é bonito, revela que a atriz tem ciência para criar um personagem, entrar em sua alma e desvendar.”
Azul Resplendor – Teatro. No Teatro Renaissance – Alameda Santos, 2.233, São Paulo. Tel.: 3069-2286. 6ª, às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 18h. Ingr.: R$ 80. Até 6 de outubro.
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