Economia Titulo Gastos
Remédio e convênio levam
70% da aposentadoria

Na região, metade dos aposentados voltam à
labuta para complementar benefício do INSS

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
09/07/2013 | 07:23
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André Henriques/DGABC


Judite Azevedo, 75 anos, é pensionista e tem como única fonte de renda o benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no valor de um salário-mínimo, R$ 678. Todos os meses ela recorre ao posto de saúde perto de sua casa, em Santo André, para pegar gratuitamente alguns dos medicamentos que toma para controlar doenças como hipertensão e trombose. Quando não consegue, é obrigada a deixar quase 30% de seu rendimento mensal na farmácia, ao desembolsar em torno de R$ 200 para cuidar da saúde.
 
 A realidade de Judite é a mesma de muitos dos aposentados brasileiros que, exatamente por essa dificuldade, se vêem obrigados a encarar o mercado de trabalho em plena terceira idade. Na região, conforme estimativa da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, a metade dos trabalhadores que ‘penduram as chuteiras’ (130,5 mil dos 261,1 mil) voltam à labuta para complementar o benefício do INSS.
 
 “Só os gastos com medicamentos comprometem cerca de 30% da renda de aposentados e pensionistas. Se considerarmos plano de saúde, esse percentual passa de 70%”, afirma o diretor da entidade Luís Antonio Ferreira Rodrigues. “A maioria não aguenta pagar convênio médico. Ou recorrem aos filhos para pagar o plano ou passam a depender do SUS (Sistema Único de Saúde).”
 
 Conforme o planejador financeiro Silvio Paixão, apenas 2% dos cerca de 30 milhões de aposentados do País conseguem se manter sem a ajuda de parentes. Ou seja, 98% dependem de filhos, irmãos ou amigos.
 
 Judite mais uma vez integra a estatística. Não fosse pelos dois filhos, que revezam o pagamento de seu plano de saúde, ela ficaria desassistida. “Eles pagam R$ 285 por mês”, conta. O convênio, mais popular, não oferece ampla cobertura dos serviços médicos que ela precisa e, graças à inserção de seu nome como subsidiária do plano funerário da sogra de seu filho, que se tornou sua amiga, ela paga mais barato pela fisioterapia. “Quando meu marido morreu, há 26 anos, eu ganhava pensão que equivalia a uns três salários-mínimos. Não sei o que houve com esse dinheiro, que encolheu”, lamenta.
 
 A resposta está na correção da aposentadoria adotada pelo governo federal. Valores equivalentes ao piso são reajustados com base no INPC (Índice de Preços ao Consumidor) do ano anterior mais o PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos atrás. Acima disso, têm apenas a reposição da inflação. Por isso mesmo muitos retornam ao mercado de trabalho.
 
 A aposentada andreense Valdenice Gonçalves Rovere, 68 anos, que ganha os mesmos R$ 678 que Judite, afirma que conta com a sorte quando o assunto é saúde. “Ganhando o que ganho não dá para pagar um bom convênio. Então eu passo no posto, faço tratamentos de dermatologia e oftalmologia na Fundação Santo André e usufruo dos atendimentos gratuitos oferecidos pela Associação dos Aposentados e Pensionistas (do Grande ABC)”, conta. “Lá, a consulta com a clínica geral é gratuita, assim como a terapia, que faço a cada 15 dias. É muito bom porque a sessão nos prepara melhor para a terceira idade.”
 

 Valdenice revela ainda que, todo mês, separa parte do benefício para pagar eventuais exames ou consultas. “Às vezes guardo R$ 50, às vezes R$ 100, depende. Por fazer parte da associação, consigo desconto nos exames na rede credenciada. Fiz uma colonoscopia recentemente e, em vez de pagar R$ 700, desembolsei R$ 270. Faço o mesmo com consultas que não consigo passar gratuitamente”, explica.

Preços de maiores gastos dos idosos sobem mais que inflação

Aposentados e pensionistas têm muitas dificuldades em se manter porque os preços de duas das coisas que eles mais precisam, medicamentos e plano de saúde, aumentam mais do que a inflação. E os benefícios acima do piso, ou seja, do salário-mínimo, são corrigidos somente pelo INPC (Índice de Preços ao Consumidor), índice oficial de inflação.
 
 Conforme o INPC, que considera a inflação para famílias que ganham de um a cinco mínimos (R$ 3.390), em maio houve aumento de 0,35% nos preços, sendo que os gastos com Saúde e cuidados pessoais subiram 0,94%, ou seja, quase três vezes o total da inflação.

 

9,62% na composição do indicador (sendo 1,39% referente aos planos de saúde), o que é contestado por centrais sindicais e entidades representantes de aposentados e pensionistas.

 “O convênio levado em conta para essa faixa salarial é muito mais barato do que para um idoso. Sem contar que gastos com medicamentos para uma família de dois filhos (considerado pelo INPC) são bem menores”, afirma o diretor da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC Luís Antonio Ferreira Rodrigues. Para ele, não é certo reajustar a aposentadoria por esse índice. “Por isso queremos que pelo menos a correção seja igual à do salário-mínimo.”
 

 Semana passada representantes de sindicatos e associações entregaram ao governo pauta com 20 reivindicações, entre elas a criação de índice nacional de preços aos aposentados. Embora hoje exista o IPC-3i, calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), com base em sete capitais, eles querem que abranja todo o País. O pedido não entrou na pauta da reunião com o governo. 




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