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Dólar pesa no bolso e eleva exportações

Valorização da moeda estrangeira pela fuga de capital do País tem lados positivo e negativo

Pedro Souza
do Diário do Grande ABC
13/06/2013 | 07:29
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O dólar está mais caro para os brasileiros, triste para o bolso das famílias e bom para as empresas. Ontem, a moeda norte-americana comercial teve a maior valorização frente ao real, com R$ 2,154, desde 30 de abril de 2009, quando atingiu R$ 2,182.

A situação, no ponto de vista do BC (Banco Central), parece alarmante. A autoridade máxima monetária nacional vem realizando vários leilões da moeda estrangeira para tentar segurar o câmbio. Mas o dólar está resistente e saindo do País.

Quanto menos investimentos em dólar o Brasil tiver, mais cara ficará a moeda norte-americana no País. E uma das principais consequências disso é a inflação, destacou o professor de Finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Adriano Gomes.

MOTIVO- Os investidores do mundo inteiro, institucionais, ou seja, bancos, gestores de fundos de investimentos e corretoras, estão de olho em novo horizonte dos Estados Unidos. A economia daquele país está cada vez mais dando sinais sólidos de que está em caminho de crescimento.

Essa expectativa positiva gera mais confiança nos investidores. Desta maneira, destemidos em relação a um possível risco de prejuízo, eles começaram a realizar uma retirada de capital dos países emergentes, que apresentam taxas de juros mais elevadas, e direcionaram os seus recursos para os Estados Unidos.

Como ocorre em todos os mercados, a lei da procura e da oferta impera. Quanto menos dinheiro aplicado no Brasil, menos dólar disponível, e com uma demanda contínua, mais caro ele fica.

Nos primeiros dias de janeiro, por exemplo, a moeda oficial custava R$ 2,034. Ontem, segundo o BC, estava em R$ 2,142, alta de 5,3% no ano.

 “A maioria do dinheiro que está sendo retirado do País é especulativa, investimento de curto prazo”, avaliou o economista Felipe Queiroz, da agência classificadora de risco de crédito Austin Rating.

EFEITO NO BOLSO - O impacto mais nítido e imediato do dólar mais caro no País é o aumento dos preços dos importados. Mesmo sem mudanças de qualidade ou quantidade, um perfume francês era vendido nas importadoras, no começo do ano, por R$ 203. Hoje, ele custa R$ 214, por exemplo. São R$ 11 a mais sem alterações na mercadoria.

A empresa que compra matéria-prima em dólar também começa a pagar mais caro. Naturalmente, após um processo de aumento de custos, há repasse para o preço final dos produtos e serviços. Desta maneira, as famílias terão que gastar mais para continuar comprando os mesmos itens, que não são o total da cesta de consumo mensal, mas estão inseridos nela.

Essa inflação encarada pelas companhias, proporcionada pela valorização do dólar, acaba refletida no IGPM (Índice Geral de Preços – Mercado), que tem 60% de sua composição de preços no atacado, ou seja, às empresas. Quanto mais esse balizador subir, maior o impacto no bolso de vários consumidores. Ele é o indexador mais utilizado para os reajustes dos contratos de locação imobiliária. E os aluguéis também pesam na inflação geral às famílias.

Gomes, da ESPM, destaca que os valores dos combustíveis tendem a subir quando o real está desvalorizado, uma vez que o petróleo é negociado em moeda norte-americana. Confirmada, essa alta se espalha por várias cadeias produtivas, já que aumenta o custo dos transportes e utilização de algumas máquinas. “Os preços dos combustíveis estão presentes em todos os produtos no País”, argumentou Gomes.

LADO BOM - A indústria é um dos setores que sempre comemoram a valorização do dólar frente ao real, principalmente aquelas companhias que atendem outros países. “Não somos competitivos internacionalmente pela produtividade. Ela é baixa se comparada com outros países como Inglaterra e Japão. Mas somos competitivos via preços”, explicou Queiroz. Portanto, quanto mais o dólar está superior ao real, mais condições de as empresas venderem no mercado externo. “E quando está mais valorizado, aquelas que atendem à demanda interna também comemoram, já que é criada uma barreira contra os produtos importados, que ficam mais caros.”

Ele concluiu que isso proporciona a manutenção da produção das empresas e do nível de emprego. “Macroeconomicamente, o dólar alto é interessante ao Brasil, com exceção da inflação. Mas ela não depende apenas do câmbio”, pontuou Queiroz. 




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