Cultura & Lazer Titulo Teatro
Balada triste
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
06/07/2012 | 07:13
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Uma apoteose invade a cena e vira Quarta-Feira de Cinzas em plena avenida - ou melhor, palco - em 'Adeus À Carne ou Go To Brazil', que estreia hoje no Sesc Santana. O texto de Michel Melamed (que também assina a direção e atua na montagem)chega para temporada paulistana depois da estreia em solo carioca.

Um desfile de escola de samba desbaratina os problemas do Brasil. Comissão de frente, abre-alas, velha guarda e a transmissão do evento pela televisão alegorizam temas como violência, individualismo, comunicação e religião.

Quase sem palavras, o espetáculo foi lapidado depois do assombro da notícia de que o Brasil havia superado o Reino Unido e se consolidado como a sexta economia do mundo. "É claro que o País cresceu e se desenvolveu nesses tempos, mas isso não se reverte necessariamente em qualidade de vida. As informações são gravíssimas. Uma mulher é espancada a cada cinco minutos no Brasil. Esse dado é medieval. O Nordeste ainda vive séculos atrás, é terra de caciques e coronéis. São situações que não podem cair na normalidade", conta Melamed.

O projeto surgiu depois de estadia de seis meses nos Estados Unidos, onde ele montou, com sucesso, 'Seewatchlook'. E não foi, como muita gente publicou - conta o artista -, fruto de "deslumbre". "Minha crítica à brutalidade da dívida social do Brasil existe desde o meu primeiro trabalho. Não houve choque por eu ter ficado no Exterior. A relação com Nova York é mais sutil. A peça de lá tinha algo sobre apreciar e se relacionar com as coisas. O ponto de partida é que não existem coisas ordinárias no mundo. Tudo depende de quem está olhando."

AS PALAVRAS
A mudez do espanto assume os espasmos do grito. O corpo encontra outras formas de dizer. As fronteiras das linguagens não assumem contornos, não delimitam os territórios explorados na montagem.

"Acho que na verdade esse é o acirramento das linguagens com as quais eu vinha trabalhando. Meu desejo nunca foi defender uma verdade única, sempre trabalhei com procedimentos como a linguagem fragmentada. O desejo é a provocação para que a pessoa faça a síntese."

Corpo, luz e objetos são o meio e a mensagem. "O que a gente sentia era que as coisas todas são palavras, signos, sinais, códigos, significantes. O discurso está em tudo, menos na palavra propriamente dita", explica Melamed.

O Carnaval foi escolha movida pela paixão que Melamed sente pela maior festa brasileira. E por "achismo". "Em algum momento achei que existe tráfego pequeno entre o Carnaval e o teatro, principalmente se compararmos a relação dele com a música brasileira ou com o cinema."

O tema não partiu da ideia de o ‘Carnaval é o ópio do povo'. "Não é o Carnaval que anestesia, é a falta de educação em sentido pleno. Se você está informado de que existem ciclos e as coisas são mutáveis, você vive a história. Existe a sensação de que o mundo é imutável, principalmente nas pessoas de nível sócio-econômico mais baixo, dá a ideia de que sempre foi assim."

Metafórica e objetivamente, na palavra e em sua ausência, no corpo, na celebração e no lamento, entre todas as linguagens a explorar, o lance é modificar. "Transformando os procedimentos, mudando o olhar, você reinventa as coisas", arremata Melamed.

Adeus à Carne ou Go To Brazil - Teatro. No Sesc Santana - Av. Luiz Dumont Vilares, 579, São Paulo. Tel.: 2971-8700. 6ª e sáb., às 21h e dom., às 18h. Ingr.: R$ 6 a R$ 24. Até 19 de agosto.




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