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Rosa Passos mostra suas composiçoes em novo CD
Do Diário do Grande ABC
01/12/1999 | 16:47
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Em quase dez anos de carreira irretocável, Rosa Passos produziu discos que dignificam a década - sao sua melhor trilha sonora, ao lado do pouco de Tons e Chicos e Jooes que tivemos e andamos perdendo. Sabíamos, no entanto, de Rosa, mais a intérprete cheia de bossa, violonista, baiana, na escola joaogilbertiana com um passo à frente e a feminilidade que torna tao mais agradável a audiçao.

Rosa é também compositora e queria mostrar isso. E é o que mostra em "Morada do Samba", seu sétimo disco, lançamento Lumiar, co-produçao da cantora e de Almir Chediak, dono da gravadora. Das 13 faixas, Rosa assina 8. Divide créditos com Djavan, Dorival, Jobim. Nao fica devendo a eles. Rosa alia delicadeza melódica a aguda percepçao harmônica e traz à luz brilhante pérolas - quando o trombone de Roberto Marques soa sobre o violao de Lula Galvao e a vassourinha de Erivelton Silva na introduçao de "Esmeraldas" (Rosa e Fernando de Oliveira), você tem a certeza de que está diante de um novo clássico.

Para tecer o bordado sofisticado do repertório, Rosa Passos foi buscar seus autores de fé. Reinventa "Beiral", samba, de Djavan, no canto aspirado, de impecável afinaçao e incomparável balanço. Um desatento pode achar, à primeira vista, que Rosa Passos tem daquelas vozes muito pequenas, que afinaçao e balanço sao sua força. Mas Rosa, rezando pela cartilha de Joao Gilberto, quando reduz a voz ao sussurro o faz como recurso estilístico, como quem lança a isca e puxa para perto o ouvinte. Os agudos de "Beiral" explicam tudo, para quem nao havia, ainda, entendido.

Outra reinvençao é a do pouco conhecido "Retiro", de Paulinho da Viola, obra-prima que Rosa baixa para o universo da bossa nova, seu campo de domínio. Faz coisa semelhante com o Dorival Caymmi de 'Saudade da Bahia" e surge uma palavra batida (como a música pode parecer batida e Rosa a revela nova, fresca): malemolência. Um langor, um certo abandono marcam a interpretaçao (o piano brilhante de Fábio Torres capta o clima e, quando chega sua vez de solar, mimetiza o dengo da cantora). "Lá Vem a Baiana" é o outro Dorival. Completa o repertório de alheias "Calmaria", de Walmir Palma, que, por sinal, é parceiro de Rosa em "Morada do Samba", a música que dá título ao disco, e em "Primavera".

Embora more no Brasil - em Brasília, de onde nao pensa em sair, Rosa Passos está ampliando carreira internacional e virando referência do novo canto brasileiro, contraponto às porcarias nacionais e internacionais de mercado. Aqui, só se ouve Rosa Passos tendo o disco. Tenha-se o disco.




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