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Viagem à China sinaliza foco de negócios em 'emergentes'
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
22/05/2004 | 20:42
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A missão brasileira à China, que se estende até a próxima quinta-feira, dia 27, faz parte do esforço do governo federal e das empresas para ampliar exportações não só para os países industrializados, mas também para os chamados emergentes ou países em desenvolvimento. Estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), com base nos dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) do Ministério do Desenvolvimento, mostra que esse esforço de diversificação tem dado resultado: no ano passado, em que as exportações brasileiras cresceram 21% em relação ao ano anterior, as vendas externas aos mercados em desenvolvimento tiveram alta de 30%.

Para um bloco formado por África do Sul, Irã, Argentina e China, a expansão foi de 86%. Já as exportações direcionadas às economias avançadas – que representam 58,2% do total exportado pelo Brasil – expandiram 15%. Ainda segundo levantamento do Iedi, entre 2000 e 2003, as vendas do Brasil à China cresceram, em média, 62%.

Números da Secex do primeiro quadrimestre de 2004 reforçam essa atuação: das vendas brasileiras ao exterior (US$ 26 bilhões), as realizadas aos emergentes tiveram destaque, como, por exemplo, Egito (103% de alta, para o total US$ 205,4 milhões em vendas), Polônia (443%, para US$ 152,4 milhões), Argentina (79,3%, para US$ 2 bilhões) e China (58,5%, para US$ 908 milhões).

A visita à terra de Mao Tsé-tung também se explica, já que se trata hoje do terceiro maior parceiro comercial brasileiro, com compras que somaram US$ 4,53 bilhões em produtos brasileiros em 2003 – salto de 319% em relação a 2001. O Brasil fica atrás apenas dos EUA e da Argentina em vendas para Pequim. Já as importações de itens chineses também cresceram, embora em ritmo menor, 61,7% nos últimos três anos, para o total de US$ 2,15 bilhões no ano passado.

Para o diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Maurice Coustin, no comércio exterior, o Brasil vai bem, também no que se refere a valor agregado, pelo fato de que 54,7% das nossas exportações já são de produtos industrializados. “Não queremos só mercado de preço baixo, mas também de qualidade”, afirmou.

Na avaliação do diretor executivo do Iedi, Júlio Gomes de Almeida, o país foi tímido durante dez anos na promoção dos produtos nacionais no mercado externo. Segundo ele, é importante uma atuação de governo tanto nos grandes temas, como a negociação de acordos com União Européia e a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), quanto nos contatos com países que têm problemáticas (e nível tecnológico) semelhantes, e que têm muito a oferecer e a comprar.

Outros especialistas têm avaliação semelhante. “A aproximação com os países em desenvolvimento é importante para podermos ganhar escala de produção com o maior fluxo recíproco de comércio com nações cujo padrão tecnológico é mais semelhante ao nosso”, avalia André Nassif, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Nassif acrescenta que a aproximação com os chineses é vital, “ainda mais se lembrarmos que a China tem sido uma máquina para exportar mas também um vulcão para importar”. “Só em 2003, suas compras externas cresceram à taxa de 41%.”

Entraves – Mas há críticas em relação ao ritmo da retirada de entraves para as empresas brasileiras exportarem. “Nossos produtos não conseguem entrar em alguns mercados não por protecionismo alheio, mas por deficiências em infra-estrutura e impostos elevados”, disse a pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), Marta Castilho. “O governo está lento para reduzir gargalos, precisa focar em investimento para melhorar estradas e portos com um miniplano de emergência”, afirmou Almeida.

Nassif considera ainda que para uma maior inserção o país precisa voltar a crescer de forma sustentada, o que dependeria, segundo ele, de se superar restrições, como a elevada relação dívida pública versus PIB (Produto Interno Bruto) e a alta taxa de juros real, “que mantém o país refém das expectativas do mercado financeiro”.




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