Parecia que todas as obras-primas da arte ocidental encontravam-se já em museus e palácios, aguardando visitantes e pesquisadores. Nem todas. Um possível trabalho de Leonardo Da Vinci (1452-1519) ainda está por ser descoberto, oculto sobre um afresco em Florença, na Itália, segundo trabalho do italiano Maurizio Seracini, o único pesquisador vivo citado por Dan Brown no livro O Código da Vinci, que virou filme homônimo.

Seracini faz parte de um movimento interdisciplinar que alia ciência e estética na busca pelo patrimônio artístico oculto na Europa. Ao contrário do filme e livro O Código Da Vinci, esta busca não é por segredos místicos, mas por fundamentos intelectuais e discurso artístico. O misticismo a respeito de códigos ocultos seria uma mera inverossimilhança.

A solução do misterioso sorriso de Mona Lisa, fruto de maternidade da modelo que posou para Da Vinci, é um dos resultados neste sentido. A meta atual é encontrar a obra-prima das obras-primas do artista, mencionada pelo pintor, arquiteto e escritor Giorgio Vasari (1511-1574) em As Vidas dos Artistas (1550) como a mais excelente mostra da genialidade de Leonardo.

A primeira pista surgiu há 30 anos, e estava oculta sobre uma pintura de Vasari. Maurizio Seracini reparou na mensagem “Cerca, trova” (procure, encontre), pintada no afresco A Batalha de Marciano, no hall do Palazzo Vecchio, em Florença. Acredita-se que no local havia o mural A Batalha de Anghiari, de Leonardo Da Vinci, que teria sido destruído em meados do século XVI, quando Vasari, por mudanças políticas, renovou o hall que passou a abrigar o trono de Florença. Ele cobriu as paredes com sua própria pintura.

Leonardo começou o afresco em junho de 1505, aos 53 anos. Lado a lado com o colega e rival Michelangelo (1475-1564), contratado para pintar a parede oposta. Michelangelo não passou da fase preparatória da Batalha de Cascina, mas Leonardo pintou o centro da sua obra – uma violenta cena de homens e cavalos – conhecida por esboços. Leonardo abandonou a obra e foi a Milão, em 1506.

Investigando o hall, Seracini descobriu uma cavidade na parede do afresco. Raios-X tirados entre 2002 e 2003 mostram a mensagem no centro da cavidade que está por trás do afresco. Seracini acredita que a obra de Da Vinci está protegida por uma parede construída por Vasari, admirador de Da Vinci, e por isso não teria destruído o afresco. Técnicas com laser, cintilografia e estratigrafia estão sendo usadas, e podem revelar outra Mona Lisa ou Última Ceia, mas demoraria anos.

O Código Da Vinci gerou falatório desproporcional a respeito de segredos cristãos ocultos por Da Vinci em suas pinturas e desenhos. O artista teria muito mais a revelar, sobre sua intelectualidade e sobre o Renascimento, do que segredos a esconder. Quando se elimina o que é improvável em uma investigação, restam os fatos. Portanto, está sobrando sensacionalismo em O Código Da Vinci.