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Cusco celebra Festa do Sol

Ritual inca, chamado de Inti Raymi, será realizado
no dia 24, no sítio arqueológico de Sacsayhuamán

Heloísa Cestari
Enviada ao Peru
21/06/2012 | 07:26
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Depois de passar 2011 celebrando o centenário da descoberta de Machu Picchu com vários eventos, o Peru se prepara para realizar um dos festejos mais emblemáticos do seu calendário: o Inti Raymi, ou Festa Inca do Sol. No dia 24, quando os últimos raios do astro-rei desaparecerem no horizonte, cerca de 50 mil pessoas, entre turistas arqueólogos e historiadores, darão início ao ritual sagrado, que prossegue madrugada adentro com muita música, dança e comidas típicas andinas, até que os primeiros raios de luz despontem na manhã do dia 25, indicando que o Sol, principal divindade do império inca, mais uma vez optou por não abandonar seus filhos na Terra.

Celebrada há mais de 800 anos na fortaleza de Sacsayhuaman, a cerca de dois quilômetros de Cusco, a cerimônia tem o intuito de atrair o Sol, já que a data coincide com o solstício de inverno no Hemisfério Sul, dia em que o astro encontra-se mais distante do eixo da Terra. Como tão antiga civilização já dispunha de conhecimentos astronômicos deste nível, ninguém sabe ao certo. Mas a precisão é tão exata que a tradição mantém-se até os dias de hoje.

O ritual tem início ao anoitecer, quando os participantes começam a pedir pelo retorno do Sol, assim como os incas faziam no auge do império de Atahualpa. Antes de começarem os festejos propriamente ditos, é feita uma cerimônia na qual a estátua do Inca é levada do Qoricancha (Templo do Sol) até Huacaypata (praça maior da cidade). Depois, todos seguem para Sacsayhuamán, onde realiza-se o sacrifício simbólico de uma lhama branca e outra preta. As vísceras e a banha dos animais são, então, entregues a dois sacerdotes: os intestinos são oferecidos a Callpa Ricuy para que promova os vaticínios do ano, e o Wupariruj toma o sebo para fazer previsões observando o fumo. As informações fornecidas pelos dois mestres são interpretadas pelo Wíllac Umo, sumo sacerdote, que as comunica ao Inca para que este ordene o início da festa.

Em agradecimento ao retorno do deus solar, cerca de 50 mil participantes se vestem com máscaras, véus, roupas coloridas e, munidos de lanças, se põem a fazer preces e a dançar ao ritmo das flautas e tambores típicos dos Andes.

Um ótimo aperitivo ao imaginário dos turistas que visitam a região ávidos por desvendar os segredos da mística cidade perdida de Machu Picchu, descoberta em 1911 pelo professor norte-americano Hiram Bingham (leia texto na página 3). Mas os atrativos vão muito além das famosas ruínas. Começam no próprio percurso ferroviário, de 114 quilômetros, entre Ollantaytambo e Águas Calientes, a bordo do luxuoso Inca Rail.

O belo cenário das águas do Rio Urubamba em meio a vales, campos agrícolas seculares, desenvolvidos pelos incas na forma de degraus em círculo, picos, casinhas rústicas, lhamas e uma ou outra árvore dos alucinógenos copos-de-leite descortina-se pela janela enquanto, no interior da locomotiva, são servidos pratos refinados e, como não poderia deixar de ser, taças de pisco sour - espécie de versão peruana da nossa caipirinha, feita com aguardente de uva, limão, açúcar e clara de ovo.

Tudo ao som de música internacional tocada com instrumentos típicos dos Andes peruanos, como charanga e zamponia. O repertório é repertório eclético e de muito bom gosto, incluindo os hits Wonderful World, de Louis Armstrong; Yesterday, de Paul McCartney, e nossa eterna Garota de Ipanema - principalmente se descobrirem que algum passageiro é brasileiro. E os passageiros da primeira classe ainda podem folhear livros sobre o Peru no decorrer do trajeto, que possui três saídas diárias às 6h40, 11h35 e 16h36.

O tempo de percurso varia de uma hora e 20 minutos a duas horas, conforme a locomotiva. E pode acreditar: passa rápido em meio a paisagens tão diferentes de tudo o que há no Brasil. Incluindo o destino final: Águas Calientes, charmoso vilarejo espremido entre a montanha, o rio e a via férrea. O vilarejo serve de base para quem quer seguir a Machu Picchu bem cedo, antes que o sítio arqueológico seja tomado por turistas vindos de Cusco. O primeiro ônibus sai às 6h e o último parte das ruínas ao entardecer.

Não há muito o que se fazer em Águas Calientes, mas vale aproveitar a estada para comprar lembranças na tradicional feira de artesanato da estação ferroviária e conferir as fontes termais, de água sulfurosa, situadas a 700 metros da aldeia. São elas que batizam o vilarejo, mas sua temperatura não é tão ‘caliente' quanto o nome sugere. Na melhor das hipóteses, você sentirá águas mornas em meio ao frio andino.

 

SACSAYHUAMÁN

Embora seja o palco principal da Festa do Sol desde o século 15, a imensa edificação de Sacsayhuamán merece visita em qualquer época do ano. Segundo historiadores, este sítio arqueológico que muitos acreditaram ser uma fortaleza inca, era um local sagrado dedicado ao culto do deus Sol e teria sido erguido por ordem do rei inca Pachacútec (1438-1471). Mas a obra só foi concluída por Huayna Cápac (1493-1527), exigindo o trabalho de 20 a 30 mil homens. Parece muita gente, mas até hoje  não se sabe ao certo como eles conseguiram ajustar blocos de até 350 toneladas com total precisão. Diversas pedras foram trazidas de locais situados a mais de 20 quilômetros dali, e o conjunto resistiu a vários terremotos ao longo dos séculos. Já transportar as rochas de tão longe já é uma proeza, imagine o que deve ter sido encaixá-las como peças de um quebra-cabeça. As muralhas chegam a 300 metros de comprimento e 9 metros de altura! Não à toa, Francisco Pizarro instalou-se ali quando tomou Cusco. Afinal, além de resistente, o local oferece uma vista espetacular de Cusco e seus arredores.

Dá para ir da Praça de Armas no centro de Cusco até Sacsayhuamán a pé, pegando a Calle Suécia, mas a subida cansa ao longo dos dois quilômetros de caminhada - lembre-se do mal de altitude! Por isso, vale pegar um táxi e combinar o preço antecipadamente para não ter surpresas na hora de pagar.




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