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Cai o número de crianças que dormem nas ruas de SP
Do Diário do Grande ABC
22/01/2000 | 15:59
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O número de crianças e adolescentes que, além de circular, dormem nas ruas de Sao Paulo está diminuindo, mas a porcentagem dos que usam drogas aumentou. Os dados fazem parte do relatório de 1999 do SOS Criança, vinculado à Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado. Feito com base em 2.765 entrevistas, o trabalho confirma a tendência de dispersao dos meninos de rua, do centro em direçao aos bairros.

No ano passado, 22% dos meninos e meninas que perambulavam pela cidade de dia dormiam sob viadutos e marquises à noite. Em 1998, esse índice tinha sido de 28%. Em compensaçao, 21% dos menores declararam ter usado drogas em 1999 - outros 57% nao quiseram responder à pergunta. Em 1998, esse total era de 18%. Na comparaçao entre os dois anos, o SOS constatou diminuiçao no uso de crack, de 27% para 19%, e aumento no de solventes, de 48% para 62%.

A maioria dos dependentes tem entre 13 e 15 anos. Mas há meninos de 7 a 9 anos fazendo uso ocasional de entorpecentes.

Os assistentes sociais e psicólogos constataram que a maioria dos menores de rua (53%) tem entre 10 e 15 anos e é composta por meninos (63%). Do total, 1.790 (64%) sao da capital 457 (17%) vieram da Grande Sao Paulo, 43 do interior e 12 de outros Estados. As cidades que mais "exportaram" jovens para Sao Paulo em 1999, segundo a pesquisa, foram Osasco (100), Santo André (50) e Diadema (35). Fora da regiao metropolitana, a maior parte dos meninos em situaçao de rua saiu de Campinas (12) e Santos (10).

Dos paulistanos, 221 eram do Campo Limpo, 152 de Santo Amaro (ambos na Zona Sul) e 149 da regiao da Sé, no centro. No ano passado, o SOS encaminhou de volta para casa, em Sao Paulo ou nas cidades de origem, 3.604 jovens e crianças.

Periferia - Especialistas lembram que, antigamente, os menores de rua concentravam-se na regiao central. Atualmente, sao vistos até em bairros da periferia. "De 1998 para cá, houve uma desconcentraçao e as crianças e adolescentes passaram a optar por outros espaços de mendicância", observa Francisca de Oliveira Pini, conselheira do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua.

Francisca diz, por exemplo, que diminuiu a aglomeraçao de garotos nas praças da Sé e República e no Vale do Anhangabaú. "Com a retirada dos camelôs do centro e o aumento do policiamento, eles passaram para outros lugares, de maior poder aquisitivo e menos policiais, como os Jardins, as avenidas Paulista e Rebouças".

Entre os que, além de perambular, dormem na rua, 58% o fazem na companhia de outras crianças, 13% com a família e 8% sozinhos. As regioes preferidas sao Pinheiros, onde dormem 20,5% dos menores, e o centro (14,8%). Da regiao central, porém, foram desmembradas áreas como a Sé, preferida por 12% dos jovens. Chama a atençao o fato de um bairro como Santana ser mais procurado por menores que dormem nas ruas que a Praça da República - na pesquisa, os porcentuais de cada um sao, respectivamente, 7,85% e 3%.

O coordenador do SOS Criança, Paulo Victor Sapienza, destaca que as crianças que estao atualmente na rua representam apenas 10% das que vivem nos bairros de Sao Paulo e de outros municípios sem ter o que fazer - ou estao fora da escola ou nao desenvolvem nenhum tipo de atividade depois que a aula acaba. Assim, há alguns outros milhares sob o risco de se tornar os próximos meninos e meninas de rua.

Motivos - A pesquisa do SOS revelou que os motivos que levam uma criança ou jovem a viver nas ruas sao variados: 75% têm problemas de álcool ou drogas em casa, dificuldades financeiras, perderam os pais ou nao têm moradia. Outros 5% reclamaram de abandono, ausência de cuidados ou negligência e 1% queixou-se de violência física.

Boa parte dos menores vai à escola (57%) e já teve alguma experiência profissional. Entre as atividades que desenvolvem nas ruas, a principal é pedir esmolas, citada por 51 7% dos ouvidos pelo SOS. A seguir, estao a de vendedor ambulante (21,8%), guardador de carros (12,9%) e limpador de pára-brisas (7,6%). A prática de furtos foi admitida por 2,1% dos entrevistados.

O relatório do SOS apurou ainda que a maioria das crianças e adolescentes ajuda a família com o dinheiro que consegue nas ruas. Essa alternativa da pesquisa foi apontada por 46% dos entrevistados; 27% disseram fazer uso próprio do dinheiro. Um quarto dos pesquisados nao forneceu informaçoes, mas 4% admitiram empregar os ganhos em drogas.




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