Número cresceu de 787 em 2023 para 1.406 no ano passado; doença deve aumentar 500% no País nos próximos 25 anos
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A moradora de São Caetano Yvonne Savioli Canaes, 86 anos, parou no tempo. Devido ao Alzheimer, ela muitas vezes não reconhece a família e até a si mesma. “Como envelheci”, diz, ao olhar-se no espelho. Sua mente passeia por momentos no presente, mas está firme em décadas passadas, época em que se formou no magistério, seu falecido marido estava vivo, os filhos eram jovens e os netos nem existiam.
Assim como Yvonne, muitos idosos vivem com a doença – que é um tipo de demência – e suas alterações neurocomportamentais no Grande ABC. Foram realizados 1.406 atendimentos ambulatoriais de pacientes com Alzheimer, de janeiro a novembro do ano passado, somente nas unidades estaduais de saúde na região, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O número quase dobrou em relação a 2023, quando ocorreram 787 atendimentos nos 12 meses do ano.
Segundo a Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer), em 2023 cerca de um milhão de pessoas tinham Alzheimer no Brasil, o que corresponde a 55% dos casos de demência no País. Até 2050, a projeção é que, com o aumento da população idosa, 5,6 milhões de pessoas sejam diagnosticadas, crescimento de mais de 500%.
A rede municipal também realiza tratamento de pessoas com a doença ou é responsável por encaminhar o paciente para uma unidade de saúde estadual. Yvonne, por exemplo, realiza seu tratamento em um dos sete Cises (Centros Integrados de Saúde e Educação para a Terceira Idade) de São Caetano. Diadema também atua pela rede municipal, onde, somente em janeiro deste ano foram realizadas 40 consultas nas 20 UBSs (Unidade Básica de Saúde) da cidade, além de 40 visitas domiciliares para atendimento de pacientes com Alzheimer.
A idade é um dos fatores de risco para desenvolvimento da doença. Segundo a médica geriatra Aline Saab, que atende pelo Cise, sedentarismo, tabagismo, alimentação inadequada e isolamento social também podem desencadear o Alzheimer.
SINTOMAS
Os primeiros sinais da doença costumam ser sutis. A médica geriatra explica que o esquecimento é um dos sintomas mais comuns. “É como se o paciente não tivesse mais espaço para armazenar informações novas. Então, lembra de coisas lá de trás e não lembra do que almoçou”, exemplifica. “Além do esquecimento de fatos recentes, o paciente apresenta repetição de perguntas e pequenas dificuldades para organizar tarefas”, cita a médica.
A nora de Yvonne, Jaqueline Canaes, 44, conta que a idosa começou a ter episódios de esquecimento há cerca de oito anos. A manifestação da doença veio após a morte do marido, que enfrentou uma difícil jornada de tratamento de um câncer. Os fortes impactos emocionais desencadearam o aparecimento da doença.
“Percebemos que ela esquecia reuniões que marcava com a gente e datas. Porém, há dois anos a situação piorou. Ela morava sozinha em Santos e vizinhos falavam que ela descia de roupão na garagem do prédio. Teve um episódio em que ela ficou três dias sem atender à campainha e o telefone porque errava os remédios e acabava dormindo. Tivemos de chamar o chaveiro e a trouxemos para morar conosco em São Caetano”, conta Jaqueline.
Nos últimos dois anos, a doença avançou rapidamente e, hoje, Yvonne depende de cuidadores para tarefas de rotina, como comer e tomar banho. “De lá para cá, hoje ela não consegue se locomover mais. Tem dificuldade para comer porque não lembra mais como faz. Fala de viagens que fez há muitos anos, como a de Poços de Caldas (MG), local para onde foi quando casou, em 1961”, revela a nora.
Jaqueline diz que Yvonne lembra do filho quando era mais jovem e confunde o neto com ele. “Minha filha parece com a mãe dela, então ela também confunde. Muitas vezes nem me reconhece. Estamos casados há 19 anos e ela às vezes acha que meu marido ainda está com a primeira esposa. Preciso até mostrar as fotos nos álbuns de família para provar quem sou, porque ela nos vê juntos e acha que sou uma amante”, afirma.
Apesar de alguns episódios parecerem engraçados, a situação traz muita tristeza para a família, pois a paciente era muito ativa e foi professora por 30 anos. “É muito triste vê-la assim”, diz sua irmã caçula, Leopoldina de Almeida Couto. A única característica que ela não perdeu, de acordo com Jaqueline, foi a vaidade. “Faz as unhas e no dia seguinte quer fazer de novo porque esquece que já fez”, conta.
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