As organizaçoes nao-governamentais do continente americano e principalmente do Brasil, que durante várias décadas apoiaram a luta pela independência do Timor, anexado há 25 anos pela Indonésia, se encontraram pela primeira vez, cara a cara, com o líder que passou parte de sua luta na prisao, sendo libertado em setembro passado.

``Elegemos o Parlamento Latino-americano porque esta é a primeira visita de Xanana à América Latina, e esse é o lugar onde estao representados os países irmaos do continente', explicou o organizador do encontro, pertencente à ONG ``Clamor por Timor', Joao Xerri.

Os brasileiros compareceram em maior número, por terem sido os que mais se mobilizaram aos seus ``irmaos de língua' asiáticos: ``colonizado por portugueses, o povo do Timor Leste tem características muito similares às do brasileiro: católico, de língua portuguesa, vê as telenovelas brasileiras e escuta Roberto Carlos', defende a ONG Clamor por Timor.

Xanana Gusmao, que sempre foi mais apontado como comandante e poeta que como presidente da aliança dos partidos comprometida com a transiçao para a independência que preside, convidou a todos os simpatizantes da causa a passar da ``fase da solidariedade' para a da reconstruçao do país.

``Saímos de um processo de luta para um totalmente diferente, que exige uma visao diferente da dos tempos de luta. Chamo as Organizaçoes Nao Governamentais (ONG) para que se transportem para uma nova conjuntura', declarou, ao explicar que a CNRT tenta viabilizar a ajuda, irmanando cidades (até agora da Austrália e de Portugal) com municípios timorenses.

Xanana Gusmao iniciou esta quinta-feira uma visita oficial ao Brasil, carregada de compromissos e cerimônias programadas pelo governo, de quem o líder timorense espera um compromisso futuro de apoio.

Uma das vias para essa ajuda será a educativa, já que os dois países compartilharao de uma mesma língua oficial, o português. Esse foi o tema principal da reuniao de Gusmao este sábado, em Sao Paulo, com os reitores das principais universidades.

Numa coletiva, Gusmao delineou as linhas gerais do futuro governo do Timor: será laico, apesar de a Igreja ter um papel fundamental; e vai usar o português como língua oficial. Mas ele nao quis adiantar mais nada, nem mesmo se será candidato a presidente.

As conflituosas eleiçoes de 30 de agosto, que puseram fim a 24 anos de colonizaçao Indonésia, levaram o lugar às primeiras páginas da imprensa de todo o mundo, por causa da violência das milícias pró-indonésias que nao aceitaram o voto dos timorenses pela independência.

O território, numa pequena ilha do Oceano Pacífico, é administrado por uma autoridade da Organizaçao das Naçoes Unidas (ONU), até sua independência completa prevista para dentro de três anos.