Economia Titulo
Prefeitura cruza os braços
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
26/08/2006 | 19:53
Compartilhar notícia


São Bernardo tem hoje quase 200 mil pessoas vivendo em favelas, bairros precários que, se já não contam com tantos barracos de madeira, ainda carecem de mínima infra-estrutura. A cidade viu a periferia explodir nos últimos 20 anos, quando as indústrias da região começaram a demitir funcionários aos rodos em nome da modernização. Mesmo depois de assistir ao crescimento caótico do município, a Prefeitura não apresentou nenhuma proposta para conter os estragos urbanos e sociais previstos por especialistas em gestão pública caso os 12 mil funcionários da Volkswagen fiquem desempregados.

Questionado inúmeras vezes pelo Diário durante a semana, o prefeito William Dib (PSB), eleito com 76% dos votos, não se manifestou sobre o possível encerramento das atividades da empresa. Dib também é presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que reúne as sete prefeituras. Em nota, a administração diz que “aguarda desfecho das negociações entre representantes do Sindicato dos Metalúrgicos e da Volkswagen antes de emitir qualquer opinião”. E define como “hipotético” o fechamento da indústria, enquanto a diretoria da montadora alemã ameaça publicamente baixar as portas a curto prazo.

A Prefeitura diz que pede “bom senso” aos “dois lados” na negociação. E sugere: caso as demissões sejam inevitáveis, que o processo se dê a longo prazo e que o plano de saúde dos funcionários seja mantido por “período razoável”. A preocupação é justificável: segundo a própria administração, cerca de 500 mil pessoas hoje dependem do SUS (Sistema Único de Saúde).

Das quase 50 mil famílias que podem ser prejudicadas diretamente se a Volks deixar o município, 30 mil vivem no Grande ABC. “Seria um impacto substancial. Não só para as sete cidades daqui, mas para toda a região metropolitana”, avalia o secretário de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André, Luís Paulo Bresciani. O serviço público sofreria um aumento significativo na demanda; as já concorridas vagas nas escolas e hospitais públicos seriam ainda mais disputadas.

Especialista em economia regional, ele diz que os municípios devem estar em alerta permanente para enfrentar crises provocadas pelo desemprego maciço, para evitar a asfixia do sistema gratuito de atenção. “Em nenhuma região do planeta, uma cidade estaria ilesa aos efeitos negativos do fechamento de uma empresa do porte da Volks. Mas, se houver planejamento, a retomada do equilíbrio é mais rápida. E mesmo assim, a médio prazo”, afirma Bresciani.

O Dieese estima que seria preciso investir quase R$ 14 bilhões para assistir as famílias do Grande ABC chefiadas por demitidos da Volks. O valor é o mesmo do PIB de São Bernardo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;