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Planos de Saúde: entre culpas e prejuízos
Antonio Carlos do Nascimento
22/04/2024 | 09:56
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Seri


Em Um ato de coragem, filme de 2002, o ator Denzel Washington interpreta John Quincy Archibald, marido e pai exemplar, cujo filho é diagnosticado com grave doença cardíaca, para qual, a única alternativa terapêutica é o transplante do órgão, conduta que não possuía cobertura para o plano de saúde daquela família.

Embora o drama que se derrama por todas as cenas seguintes exponha a concepção americana para a saúde de seu povo, com o Estado sem qualquer obrigação sobre custos hospitalares, vê-se que por lá, médicos subordinados a empresas de saúde privada são influenciados a evitar a solicitação de exames caros, fato que levara o filho de John Quincy ao tardio diagnóstico.

No Brasil, um quarto da população possui planos ou seguros de saúde, os quais são classificados pelos serviços diagnósticos, hospitais e tipo de hotelaria que o contratante pretenda, porém, todos estes contratos estão submissos às regras da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), no que tange a vários compromissos, incluindo o rol de procedimentos e tratamentos obrigatórios.

O fato da medicina diagnóstica e terapias inovadoras avançarem a passos largos e a preços exorbitantes, coloca os planos de saúde em dilema óbvio, pois, suas despesas ambulatoriais e hospitalares ascendem brutalmente.

Porém, tal qual nos Estados Unidos, grande parte destes grupos criam redes próprias de atendimento, nas quais podem gerir seus gastos e fugir de superfaturamentos de terceirizados, contudo, podem induzir seus profissionais a restringirem pesquisas diagnósticas e ações terapêuticas.

Como recurso para diminuir seus gastos, parte delas dificulta o acesso ao fluxo de consultas e agendas de exames, entregando ao paciente uma verdadeira batalha, de empenho cansativo, na busca da solução de seus problemas médicos.

Em outra frente, mas no mesmo setor, estão as seguradoras de saúde, que permitem a liberdade de escolha para seus usuários, mas sofrem incessantemente com fraudes, seja com cobranças hospitalares por serviços não realizados, ou, pagando intervenções, habitualmente estéticas, falsamente cobradas como itens contidos no rol obrigatório.

Muito embora este cenário seja ainda agravado pelo envelhecimento populacional brasileiro, carteiras de clientes deste modelo de negócio são disputadas em cifras bilionárias, fazendo crer ser interessante e rentável, se não para beneficiários e trabalhadores da saúde, seguramente o é para seus investidores.

Então, em nosso país, o filho de John Quincy Archibald teria condução igualitária para seu transplante cardíaco, pois tal processo é totalmente tutelado pelo SUS, mas a depender da assistência contratada muitas resultantes poderiam ser geradas, desde a solução precoce de sua doença, até a morte sem diagnóstico.

Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
 




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