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Especialistas debatem futuro da Billings de olho no centenário

Aniversariante da semana, represa completa 100 anos em 2025 com temas como habitação, qualidade da água e vida animal em discussão

Renan Soares
29/03/2024 | 10:10
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FOTO: Celso Luiz/DGABC


A Billings, represa que fez aniversário na quarta-feira (27) e que completa 100 anos em 2025, desperta reflexões de especialistas sobre seu futuro. Juliana Azevedo, do departamento de Ciências Ambientais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), alerta para a necessidade de preservação da qualidade da água, enfatizando estudos sobre a saúde dos peixes.

Para Luís Felipe Xavier, professor na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), o foco está na habitação, com ênfase no planejamento urbano sustentável do entorno do reservatório. Marta Marcondes, bióloga da USCS, destaca a importância da qualidade da água tanto para produção de energia quanto para consumo.

Roseli Benassi, pesquisadora na UFABC (Universidade Federal do ABC), chama atenção para a presença de gases de efeito estufa no local, ressaltando a necessidade de medidas para reduzir essas emissões. Virgílio Alcides de Farias, advogado ambientalista e assessor jurídico do MDV (Movimento em Defesa da Vida), do Grande ABC, enfatiza a importância da legislação e da mobilização social para garantir a proteção do reservatório.

As visões descritas abaixo ressaltam a complexidade dos desafios e a necessidade de ações integradas e sustentáveis para garantir um futuro próspero e equilibrado para a Represa Billings e o seu entorno.

Juliana Azevedo 

Membro do departamento de Ciências Ambientais e do grupo de Toxicologia Aquática e Ecofisiologia de Peixes da Unifesp

"Estamos focados na atividade pesqueira, porque muitas pessoas dependem da pesca artesanal na Billings. Temos múltiplos fatores que impactam a saúde dos peixes, como a poluição, qualidade de água e quantidade de metais. Tem uma estratégia, usada pelo governo estadual na década de 1940, que se chama peixamento. Consiste em introduzir o peixe dentro do reservatório. Naquela época o problema é que introduziram espécies que não eram nativas, como a tilápia. Uma estratégia seria introduzir peixes nativos, e trabalhar com espécies que chamamos de base de cadeia, que vão alimentar o topo da cadeia alimentar".

Luís Felipe Xavier

Professor no curso de arquitetura da USCS e orientador do Escritório Modelo de Arquitetura

"A habitação demanda uma política em âmbito federal até casando com a política municipal. A União em relação ao subsídio. Já o município vai se basear nos artigos 182 e 183 da Constituição e do Estatuto das Cidades, que trata das Zonas Especiais de Interesse Social. Então, não dá para fazer produção habitacional em áreas frágeis no aspecto ambiental. Nesse caso, temos que reivindicar renaturalizar as áreas. Não se pode colocar essas famílias em exposição de déficit qualitativo agravado. Historicamente, o poder público cria uma condição de habitação longe do centro e a pessoa perde qualidade de vida".

Marta Marcondes

Bióloga e professora da USCS 

"Posso falar hoje que 40% do reservatório corre sérios riscos, não só pela questão da ocupação, mas também por empreendimentos, e esses acabam colocando em risco a qualidade da água da represa. Para ter qualidade é preciso ter vegetação, não se pode jogar esgoto, além de garantir também a capacidade de armazenamento, não só para abastecimento, mas para a geração de energia. Em relação à Billings, será que temos um futuro? Se nós começarmos agora, a partir deste ano, a atingir algumas das metas propostas na lei específica, com certeza vamos melhorar a qualidade da água. Mas precisamos de vontade política e da sociedade civil, além de nós, como universidade, propondo soluções".

Roseli Benassi

Professora-pesquisadora na UFABC

"A Represa Billings hoje emite gases de efeito estufa. Quanto mais poluída ela estiver mais gases são emitidos. O futuro vejo tratando os esgotos que entram no reservatório, que hoje temos muitos clandestinos. Os que não são já sabemos. Não se trata nitrogênio e fósforo, o que leva ao processo que chamamos de eutrofização, quando se tem aquela nata verde. E isso aumenta a emissão de gases. Se tratarmos isso, melhorando a questão do saneamento ao redor do reservatório, paramos de emitir os gases e melhoramos a qualidade de vida e da água. Podemos melhorar isso com políticas públicas ou melhorando as que já existem".

Virgílio Alcides de Farias

Advogado ambientalista e assessor jurídico do MDV do Grande ABC

"Sou advogado, conheço a legislação da Billings. Os itens da lei que não estejam sendo respeitados necessitam ser mostrados para passar a ser. Qual o dever do Estado? É saber do problema ambiental e resolver. No caso dos esgotos, por exemplo, a lei diz que não podem ser jogados nem se estiverem tratado em certos trechos da Billings. É essa a luta. É preciso que os prefeitos entendam que não podem ficar calados. Os municípios não se manifestam, porque não podem se posicionar contra certos políticos. Este ano, nós da sociedade civil, vamos fazer uma carta ambiental, indicando problemas e soluções, para entregar a partidos políticos".




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