Acusado de abusar de pacientes e com duas prisões no currículo (em 2012 e 2019), o médico Rogerio Pedreiro dava expediente na Policlínica Alvarenga, em São Bernardo. Até importunar sexualmente uma enfermeira. Isso gerou uma denúncia e, posteriormente, uma demissão: a da vítima! O caso tem falhas tão gritantes que são até difíceis de serem enumeradas ou colocadas em sequência lógica. A primeira delas é a contratação de profissional com antecedentes criminais tão graves para atuar como ginecologista em unidade de saúde pública. Ninguém fez checagem prévia?

A segunda é a demissão da vítima. Ela sofreu importunação sexual, teve coragem de fazer a denúncia e ganhou o olho da rua, enquanto o autor do crime seguiu sua vida tranquilamente – só sendo desligado depois de reportagem deste Diário provocar indignação generalizada na cidade. Questões sociais talvez expliquem os fatos, cujo encadeamento deixa nítido que naquela unidade de saúde a palavra de um médico vale muito mais que a de uma enfermeira. Mesmo ele sendo um contumaz abusador.

A terceira é a manifestação do prefeito Orlando Morando (PSDB), que em transmissão em redes sociais se empenhou em xingar o criminoso, mas foi incapaz de dirigir uma palavra sequer de apoio à vítima. Não menos decepcionante foi a postura da Fundação ABC, que mantinha um abusador dentro de equipamento por ela gerido e, quando o problema veio à tona, procurou rapidamente se eximir de culpa transferindo a responsabilidade a empresa terceirizada. Segundo a instituição, o médico pertencia aos quadros de prestadora de serviços e agora ele está proibido de atuar nas unidades controladas – um pouco tarde.

Falharam todos, com exceção da vítima. Ela fez o que estava ao seu alcance, procurou os superiores e denunciou o criminoso. Essa inacreditável sequência, que terminou no erro crasso da demissão da enfermeira, certamente será investigada pelo Ministério Público. Este jornal espera que todos os culpados sejam apontados. E punidos com rigor.