Cultura & Lazer Titulo De Ribeirão à Amazônia
Desvendando a Fordlândia

De Ribeirão, Muzeli é roteirista e diretor de filme sobre criação da cidade de Henry Ford na Amazônia

Jaque Corrêa
28/03/2024 | 11:06
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FOTO: André Henriques/DGABC


“A Fordlândia tinha 5.000 homens trabalhando. Por semana eram trocados 2.000. Por semana morriam 300. Então enterrar gente naquele lugar era uma prática comum, você via a pessoa morrer, não existia mais o compromisso de falar assim, ‘poxa morreu’. Você acaba perdendo as emoções, virou praticamente um campo de guerra em que você toma um tiro, é da lida, ‘puxa tava lutando, morreu como herói’. Fordlândia se tornou esse lugar, de opressão, um lugar quase militar, um lugar de sofrimento”, explica Emerson Muzeli, 52 anos, diretor e roteirista ribeirão-pirense, que está à frente do filme que contará a história da cidade operária que foi construída em plena floresta amazônica.

Em um período em que a indústria automobilística estava em constante crescimento, na década de 1920, Henry Ford, o fundador da Ford Motor Company, se viu refém do preço da borracha, controlado pelos europeus. Assim, um megaprojeto do empresário, que prometia uma solução para o problema, foi colocado em prática, a chamada Fordlândia. 

Era uma cidade voltada ao cultivo racional de seringueiras, visando a transformação na maior produtora de látex e borracha do mundo. Com um enorme investimento, 14,5 mil quilômetros quadrados foram ocupados às margens do Rio Tapajós, na Amazônia, onde trabalhadores brasileiros e gestores da Ford iriam morar. Porém, com os conflitos culturais, a proliferação de doenças, e a descoberta da borracha sintética na Malásia, o que era um sonho se tornou um enorme pesadelo. 

Muzeli conta que o filme acompanha a história do indígena Kmaue, do povo Munduruku, que nasce no momento em que está se queimando a floresta para a construção da cidade utópica. “Quando se queima a floresta, o céu fica escuro e tem-se um presságio, nasce a mitologia desse indígena. Ele fica meio que predestinado e vai em busca de descobrir a sua história. Porque ele está tão ligado a essa cidade e às questões de Fordlândia”, explica o diretor. 

Ribeirão Pires, cidade natal do cineasta, terá um papel importante no projeto de Muzeli, a Estância Turística do Grande ABC será cenário de 60% da obra, que utilizará principalmente as margens da Represa Billings para as gravações. “Olhamos para o filme, e falamos assim: Ribeirão Pires conversa com a Amazônia? E por incrível que pareça, conversa. Porque quando a gente olha para a nossa parte florestal, para a parte da água que é a Billings, lá na Amazônia, estaríamos olhando para o Rio Tapajós. Olhamos para a profundidade do campo cinematográfico, é muito similar”, explica Muzeli. “A gente percebe que grandes produtores, pessoas que trabalham com cinema e profissionais que são ligados à área de cinematografia, são todos da região. O nosso diretor de fotografia, Alziro Barbosa, é um grande expoente da região. Além do Paulo Schmidt, que é um grande nome do cinema. Esse casamento com Ribeirão Pires é para realizar uma megaprodução”, afirma o diretor.

Ele revela que a ideia de produzir o filme surgiu há 15 anos, de uma visita à Fordlândia. “Em determinado momento da vida que eu estive nesse lugar, falei ‘como ninguém contou essa história ainda?’. Como ninguém se aproximou disso ainda para fazer algo no cinema?’ Pouco tempo depois, lançaram um documentário, e depois um livro nos Estados Unidos. E nós, brasileiros, ainda não contamos essa história, então quando eu estive naquele lugar como cineasta, como autor e como roteirista, fiquei com a responsabilidade de fazer. Se nós, que somos brasileiros, proprietários e com a possibilidade total para contar isso, e não contamos, estamos deixando os outros contarem, vamos inverter esse jogo, vamos contar a nossa versão de Fordlândia”. 

Atualmente, o filme está em processo de pré-produção, as filmagens estão programadas para serem iniciadas em 2025 e o lançamento em 2026, nos cinemas do Brasil e do mundo.




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