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Jungmann afirma que delegado Rivaldo Barbosa se dizia amigo de Marielle

Ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro foi preso suspeito de agir para proteger mandantes do assassinato da vereadora

24/03/2024 | 15:23
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Raul Jungmann, ex-ministro da Segurança Pública no governo Michel Temer, disse neste domingo (24) que Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, afirmava que era amigo de Marielle Franco. Barbosa foi preso preventivamente pela Polícia Federal suspeito de agir para proteger o deputado federal Chiquinho Brazão e seu irmão, Domingos Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora. Jungmann disse ainda, em entrevista à Globo News, que a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro em 2018 não demonstrou interesse ou demandava informações que a PF tinha sobre o caso.

O ex-ministro relatou uma reunião na Cidade da Polícia, que ocorreu após o crime. Na ocasião, estavam presentes o interventor Walter Braga Netto, que depois viria a ser ministro no governo Bolsonaro, Raquel Dodge, então procuradora-geral da República, e Rivaldo Barbosa.

Ele afirma que Barbosa disse na ocasião que era amigo de Marielle e que ela era a responsável por fazer a ponte entre o gabinete do então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), do qual era assessora, e a Delegacia de Homicídios da Polícia Civil, quando havia problemas ou conflitos envolvendo comunidades cariocas e os policiais.

"(Rivaldo Barbosa disse) que depois isso continuou acontecendo com a Marielle como vereadora. Que era amigo dela e ficou muito chocado com tudo aquilo (o assassinato)", afirmou Jungmann ao canal de televisão. "Por isso o choque que todos nós tivemos com essa denúncia envolvendo o delegado Rivaldo Barbosa", continuou.

O vínculo do delegado Barbosa com o caso surpreendeu as famílias das vítimas. Ele foi a primeira autoridade do estado a receber famílias e amigos de Marielle e Anderson, no dia seguinte ao duplo assassinato, e prestou solidariedade. Ele prometeu que a solução do caso seria "questão de honra".

O advogado Alexandre Dumans, que representa Barbosa, afirmou em entrevista na Superintendência da PF, que o delegado "não tem participação em crime nenhum" e que a defesa ainda não teve acesso aos autos e às acusações contra Barbosa.

Relação orgânica entre milícia e políticos fluminenses

Jungmann relatou ainda que Raquel Dodge tentou federalizar a investigação sobre o assassinato, mas que houve resistência da alta cúpula do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, que queria manter a apuração no âmbito estadual. A investigação ficou no Rio de Janeiro após decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

O ex-ministro também lembrou o depoimento do miliciano Orlando Curicica, que relatou a existência de ligações entre o crime organizado, a milícia e setores da Polícia Civil fluminense. A partir disso, Jungmann afirmou que, em conjunto com Dodge, determinou a realização da "investigação da investigação". Curicica chegou a ser apontado como um dos mandantes do assassinato de Marielle, acusação que depois foi retirada.

"O próprio Curicica nesse depoimento diz que o delegado responsável pelo caso, Giniton (Lages) propôs a ele que assumisse o crime", disse Jungmann. Giniton Lages foi alvo de busca e apreensão neste domingo. Ele foi o primeiro delegado a investigar o assassinato.

Na visão do ex-ministro, há uma relação orgânica entre a milícia e a política fluminense: os milicianos garantem votos dos eleitores onde dominam os territórios, enquanto os políticos atuam na defesa e para impedir a responsabilização dos criminosos, além de indicarem pessoas ligadas aos milicianos para cargos no governo estadual, sobretudo nas áreas de assistência social e da saúde.

"De um lado, a milícia tem a força e a violência e do outro também conta com os benefícios a dar a comunidade. Isso é uma aliança orgânica que hoje existe no Rio de Janeiro e precisa ser rompida. È como se houvesse uma espécie de septicemia (espécie de infecção) entre o crime organizado, o Estado e a segurança do Rio de Janeiro. Isso precisa ser rompido com o apoio do governo federal e da própria sociedade", concluiu Jungmann.




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