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Estudante de engenharia aeroespacial da UFABC sonha em ser astronauta

Vitória Marques apresentará pesquisa em conferência internacional no México; meta é arrecadar R$ 10.500 para custeio das despesas

Thainá Lana
24/03/2024 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Aos 21 anos, a jovem de Rio Grande da Serra, Vitória Marques da Silva, é uma aspirante a astronauta. Para alcançar esse sonho, a estudante de engenharia aeroespacial da UFABC (Universidade Federal do ABC) dá os primeiros passos rumo ao espaço, e participa no próximo mês da sua primeira conferência internacional.

A pesquisa acadêmica Confiabilidade do Pouso em Marte do Rover Perseverance foi selecionada pelo comitê organizador para participar da XIV Colage (Conferência Latinoamericana de Geofísica Espacial), a ser realizada entre os dias 8 e 14 de abril, em Monterrey, no México. O congresso reúne cientistas e estudantes de diversos países para debater projetos da área aeroespacial.

A seleção no evento foi apenas uma das etapas. Após conseguir o visto mexicano nesta semana, Vitória agora corre contra o tempo para pagar as despesas da viagem, que incluem passagem, hospedagem e alimentação. Para arrecadar o dinheiro, ela criou uma vaquinha on-line que tem R$ 3.405,46 doados – a meta é R$ 10.500. 

“As pessoas não enxergam a atividade de astronauta como uma profissão. Associam muito a um desejo de criança, então falam que devo desistir e escolher algo que seja rentável e mais possível de alcançar”, diz Vitória. A estudante sabe das dificuldades para alcançar seu propósito, principalmente no Brasil, onde não há curso de formação de astronauta – o atual senador Marcos Pontes (PL) é o primeiro, e até o momento, o único astronauta e cosmonauta brasileiro.

Os estímulos negativos e a falta de apoio são utilizados pela jovem como combustível para alcançar seu principal objetivo. Cursando o terceiro ano, Vitória já desenvolveu duas pesquisas: a primeira foi sobre a reutilização das estruturas aeroespaciais após seu fim de vida, e o segundo estudo é o que será apresentado no congresso. Neste ano, ela começou a iniciação científica no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre a atomização de sprays de combustíveis para foguetes.

Um dos maiores orgulhos de Vitória é o de participar do Rocket Design da UFABC, primeira equipe de foguetemodelismo do Brasil. “Sempre sonhei em trabalhar nessa área, mas só decidi por esse curso após uma visita à universidade enquanto estava no ensino médio. Assim que conheci a equipe Rocket me encantei pelo trabalho, e foi minha maior motivação para fazer engenharia aeroespacial. Tinha que fazer parte desse time, que é um dos mais avançados da América Latina”, revela a estudante, que desenvolve e coordena pesquisas, além de gerenciar projetos e participar de competições.

UM DEGRAU POR VEZ

Para ser um astronauta são necessários diversos requisitos, como graduação em áreas relacionadas, vivência na profissão, curso de mestrado, experiência em pilotar algum tipo de aeronave, treinamento de natação e mergulho, entre outras exigências. Mesmo com uma enorme lista para preencher, a sorridente e sonhadora Vitória já celebra as primeiras conquistas.

“São apenas dois anos para me formar, então já terei subido um degrau. Logo em seguida pretendo iniciar um mestrado e também quero investir na questão física, que é muito importante, além de fazer alguns cursos de mergulho, piloto, entre outros”, diz.

Além do objetivo pessoal, a estudante quer contribuir com o setor aeroespacial nacional. “Somos o futuro do País, e estamos empenhados para que o Brasil avance cada vez mais. Quando pensamos em astronautas logo vem a Nasa ou a SpaceX em mente, mas seria incrível se tivéssemos o nosso próprio centro de treinamento”, afirma. “Quem sabe não me torno a primeira astronauta negra brasileira”, sonha a estudante do Grande ABC.

Aluna cria vaquinha para pagar viagem ao México

Vitória Marques da Silva, 21 anos, estudante de engenharia aeroespacial da UFABC (Universidade Federal do ABC), foi selecionada para participar de um congresso sobre geofísica espacial no México. A jovem, que sonha em ser astronauta, pretende apresentar sua pesquisa acadêmica sobre a confiabilidade de pouso em Marte do Rover Perseverance (veículo robótico desenvolvido pela Nasa).

O evento acontece de 8 a 14 de abril, em Monterrey, e reúne cientistas e estudantes de diversos países. Apesar da oportunidade para seu desenvolvimento profissional, a presença da moradora de Rio Grande da Serra ainda não está confirmada.

O alto custo da viagem impede que Vitória comece a preparar as malas. Ela recebe cerca de um salário mínimo por mês (R$ 1.412), sendo R$ 700 de auxílio permanência da universidade e R$ 700 da bolsa de iniciação científica que realiza no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O valor que a estudante ganha é o mesmo da renda mensal da sua casa, onde moram quatro pessoas, ela, a mãe e mais dois irmãos.

Por causa da condição financeira, a estudante criou vaquinha on-line para arrecadar doações e conseguir pagar as passagens aéreas, hospedagem e alimentação (acesso pelo QR-Code abaixo). A meta é chegar a R$ 10.500. Até o momento 79 contribuíram com o financiamento coletivo e doaram R$ 3.405,46 – 32% do total necessário.

“O congresso ajudará com a hospedagem, mas os voos estão mais baratos indo um pouco antes dos dias que eles irão financiar, apesar de ainda assim estarem bem caros. Na soma sai mais em conta ir alguns dias antes, e com algumas conexões. Sou intolerante a lactose e tenho doença celíaca (reação imunológica à ingestão de glúten), condições que encareceram os custos com a minha alimentação”, explica.

Apesar das dificuldades, Vitória se mantém confiante e acredita que irá conseguir atingir a meta da vaquinha. Comparecer à conferência internacional é um dos passos para realizar o seu principal objetivo: entrar na seleta lista de astronautas brasileiros. Marcos Pontes, senador do PL, é o primeiro e, até o momento, o único astronauta e cosmonauta do Brasil. 

“Participar da conferência é uma excelente oportunidade para conhecer profissionais da área, fazer contatos, aprender sobre novas pesquisas e, claro, representar a minha região e a UFABC”, revela Vitória.

OUTRAS BARREIRAS

Devido à situação socioeco-nômica da sua família, a trajetória de Vitória até o ensino superior foi marcada por diversos obstáculos, e a estudante precisou contar com a ajuda de algumas pessoas no caminho. “Recebi muito apoio de muita gente para pagar matrícula de vestibular, meus óculos de grau, entre outras coisas. Reconheço que sem esse suporte talvez não estaria aqui lutando pelo meu sonho”, revela.

O acesso à universidade federal foi apenas a primeira etapa; o desafio é a permanência. Além da bolsa de iniciação científica e do auxílio financeiro oferecido pela UFABC, Vitória também recebe o benefício alimentação, que permite que a estudante faça as refeições, sem nenhum custo, no refeitório da instituição.

De segunda-feira a sábado, ela enfrenta uma verdadeira maratona para estudar. Saindo da Vila Niwa, em Rio Grande da Serra, até o campus São Bernardo, são quatro horas no transporte público, sendo duas horas na ida e duas na volta. “Além disso, quando chego na sala de aula encontro uma turma majoritariamente de homens brancos. Engenharia aeroespacial é um curso muito elitista. Então, como mulher negra, preciso ser duas, até três vezes melhor, porque o meu erro parece que pesa muito mais”, pontua.

“Já ouvi que quero viver uma vida que não me pertence, que não é para pessoas como eu. Com tantos obstáculos, poderia desistir, mas escolho continuar e ocupar cada vez mais espaços. Já sou muito grata e feliz por tudo que conquistei, e ansiosa pelo que está por vir”, finaliza.

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