O forte Sol de 33?°C não impediu que os foliões tomassem as ruas da região central de São Bernardo na tarde desta sexta-feira (15) com o bloco Eureca – Eu Reconheço o Estatuto da Criança e do Adolescente. Com o tema Educação Crítica para avançar no ECA, o samba-enredo busca chamar atenção da sociedade sobre a necessidade de mudança no sistema educacional brasileiro.

O desfile, promovido pelo Projeto Meninos e Meninas de Rua, teve concentração na sede da entidade, localizada na Rua Jurubatuba, e seguiu pela Marechal Deodoro. Entre os foliões estavam crianças e adolescentes atendidos, entidades e movimentos sociais da região, da Capital e também de São Vicente – cerca de 300 pessoas participaram do ato.

“Se a educação não liberta é o capacitismo, violência e machismo, discriminação que impera. Seja ela racial ou de cunho social, faz a classe virar cela. O sinal já vai tocar, grades, muros, vou quebrar isso, sim, é novo ensino. Vamos descolonizar”, diz o refrão do samba-enredo que ecoou pelas ruas do município são-bernardense nesta tarde.

A temática deste ano foi inspirada em dois importantes pensadores contemporâneos, Antônio Bispo dos Santos, filósofo, poeta, escritor, professor, líder quilombola e ativista político, e o patrono da educação brasileira, Paulo Freire. Segundo o coordenador do projeto, Marco Antônio da Silva Souza, o Markinhus, 54 anos, o tópico desta edição surgiu em conversas com os jovens atendidos pelo programa.

“As crianças trouxeram essa crítica ao sistema educacional, principalmente nesse retorno às aulas no período pós-pandemia. Sabemos que o ECA já avançou bastante na sociedade, então estamos defendendo a educação que queremos e provocamos a reflexão sobre o modelo tradicional da escola voltada a produzir mão de obra e não seres pensantes, ou como diria Paulo Freire, uma educação bancária em vez de uma crítica”, afirma o coordenador.

Sara Raylaine Elias Silveira, 17, participa desde os 7 anos do Eureca e das atividades no Projeto Meninos e Meninas de Rua. A jovem, que participou da banda tocando tamborim, explica que o desfile anual é importante para cobrar da sociedade e do poder público a garantia de direitos prevista no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

“Não basta ter as normas no papel, é preciso colocá-las em prática, queremos saúde e educação de qualidade. Não é o que o governo quer, é o que as crianças precisam, por isso que todo ano ocupamos as ruas de São Bernardo, para lutar pelas crianças e adolescentes, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade”, diz Sara.

Além do Grande ABC, o bloco se expandiu para outros locais do Estado, e neste ano sairá em outros dois municípios, sendo em maio no bairro Grajaú, em julho na cidade de São Vicente e em Sapopemba, na Capital.