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‘Prédios Velhos’ seduzem BIA
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
09/10/2005 | 08:53
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A 6ª BIA (Bienal Internacional de Arquitetura e Design) abre para o público no próximo dia 22 e terá uma amostra de como um sonho pode virar realidade, com impacto social e sem fortunas envolvidas. Sonho este nascido em Santo André, especificamente no Conjunto Habitacional IAPI, na Vila Guiomar, próximo do Centro. Em um dos apartamentos vive e trabalha o casal Laura Cestari Delboni e Marcus Vinicius Carrasco, que pretende realizar uma mudança física no espaço com seu projeto de sinalização e mobiliário urbano e, com isso, garantir a auto-estima dos moradores.

Laura tem 28 anos e é designer gráfica; Carrasco, com 32, é arquiteto e urbanista. Ambos nasceram em Santo André e ambos se formaram na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, atual Centro Universitário. A idéia é usar material de baixo custo mediante doação, como tintas, chapas e perfis metálicos e mão-de-obra local. Os próprios moradores, a maioria formada por idosos, se encarregariam de fazer as novas placas para sinalizar as ruas, cada uma de uma cor diferente para facilitar a localização de ruas e prédios – não têm nomes apenas números – e das dependências do conjunto. O mobiliário do espaço também, como bancos, pontos de ônibus e latas de lixo com coleta de recicláveis. E tudo teria manutenção igualmente local.

O projeto andreense foi selecionado junto com outros 250 trabalhos entre 3 mil inscritos. Ficará exposto em uma sala num dos principais corredores da Bienal, espaço onde o projeto será mostrado em um painel de 5 m x 3 m, com uma maquete do IAPI e alguns modelos de sinalização e mobiliário.

A região tem mostrado presença constante no evento. Em 2003, o arquiteto Jorge Bomfim apresentou o edifício Calder, em construção no bairro Jardim, em Santo André. O projeto de revitalização do Centro de Mauá também teve destaque na BIA passada, bem como o projeto de cobertura do calçadão da rua Cel. Oliveira Lima, em Santo André. O projeto Eixo Tamanduatehy, revitalização do entorno da avenida dos Estados em Santo André, foi apresentado na 4ª BIA.

‘Prédios Velhos’ – O conjunto IAPI é conhecido pelos moradores como “Prédios Velhos”. A logomarca criada por Laura e Carrasco leva exatamente este nome e foi o ponto de partida do projeto, embutidos nela todos os conceitos pensados pela dupla. O principal é “nada grandioso, tudo singelo”.

“Utopia talvez seja fazer os moradores enxergarem e entenderem o lugar onde moram. Queria algo urbano, não um edifício em si”, diz Carrasco. “Esse é um início. O fim é social, fazer um lugar bonito e agradável, que os moradores percebam que é de verdade, não uma utopia”, afirma Laura.
 
Custo zero – A preocupação com o caráter social e urbanístico do projeto empurrou para longe a noção de custo. “Não temos idéia de quanto custaria por pretendermos fazer tudo com doação e apoios”, diz Carrasco. Dinheiro também não é a meta do casal na BIA, pois a premiação não prevê quantias em dinheiro, apenas diplomas de participação e a divulgação dos trabalhos. “Nunca participei de uma BIA. Só de estar lá já acho bom. Mas se vier menção honrosa, por exemplo, vai ser o máximo”, afirma Laura.

Carrasco está em sua terceira BIA. Nas duas participações anteriores, em 2000 e 2003 – a Bienal levou um ano a mais para se realizar – mostrou dois projetos, ambos para São Paulo. O primeiro, Megacidades, o polêmico prédio de 100 andares na região do Parque Dom Pedro juntamente com outros arquitetos; o outro, Projeto Reluz, integraria a revitalização do centro da metrópole com a transformação da rua Santa Ifigênia num mezanino, sem as lojas de eletroeletrônicos embaixo, e com habitação e escritórios na parte superior. “Esses eram projetos utópicos. Acho que o papel desta Bienal é justamente mostrar que arquitetura não é só para elite”, diz.




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