Setecidades Titulo Ação despejo
GCM de S.Bernardo retorna à Vila São Pedro e moradores ficam feridos

Pelo quarto dia consecutivo, guarda utiliza violência para tentar demolir imóveis; ação é frustrada por barricadas instaladas pelas famílias

Thainá Lana
09/03/2024 | 07:01
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


 Pelo quarto dia consecutivo a GCM (Guarda Civil Municipal) de São Bernardo tentou demolir imóveis na comunidade Grotão, na Vila São Pedro. Durante a ação realizada ontem, pelo menos cinco pessoas ficaram feridas por causa do emprego de violência pela guarda, sendo que três moradores precisaram de atendimento médico.

A operação de despejo começou por volta das 5h, quando guardas da GCM e funcionários da Secretaria de Habitação do município chegaram ao local. Os moradores já estavam esperando novas investidas, e durante a madrugada instalaram quatro barricadas na comunidade, com van e pneus queimados. A iniciativa conseguiu impedir que a guarda avançasse pelo local e que novos imóveis fossem derrubados.

Os moradores afirmaram que assim como nas demais ações realizadas durante a semana, a GCM agiu de maneira truculenta, e chegou ao local jogando bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, além de disparar tiros de borracha contra as famílias que resistiram à investida. Imagens gravadas pelos munícipes mostram crianças com irritação nos olhos e na garganta em decorrência do efeito do gás. Elas foram socorridas por PMs (Policiais Militares) que acompanhavam a ação de despejo.

“Os guardas já chegaram atirando com bala de borracha na direção de quem estava dentro de casa ou gravando a ação. Foi muita truculência. Meu marido ficou ferido no braço e precisou ser socorrido. Foi levado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) São Pedro, onde tomou medicação e fez um curativo no machucado”, afirmou a moradora Jaqueline Silva de Oliveira, 26 anos.

Desde a terça-feira (5), quando foi realizada a primeira ação de desapropriação, já foram derrubados cerca de 24 imóveis, casos de barracos, garagens e residências em construção ou recém-construídas. 

Para tentar conter o despejo das famílias, Hevelton Colares da Silva, advogado que representa os moradores da comunidade, solicitou uma reunião com representantes da Secretaria de Habitação, realizada no início da manhã de ontem na sede da pasta, no bairro Rudge Ramos.

“O encontro não foi produtivo. Eles disseram que pretendem tirar todas as famílias do terreno, e que as ações de despejo irão continuar nos próximos dias. Os funcionários informaram que ali é considerada uma área de risco, e que em decorrência do desabamento de uma igreja em fevereiro, após fortes chuvas, a ordem é para retirar todas as moradias. Irão oferecer os três meses de auxílio aluguel, de R$ 325, valor insuficiente para que as famílias se restabeleçam em outro imóvel”, informou o advogado. 

Participaram da reunião representantes da habitação, da Defesa Civil, o comandante da GCM, e seis pessoas da comunidade.

Além de pessoas feridas, moradores relataram outros problemas ocasionados pelas operações de despejo promovidas pela gestão de Orlando Morando (PSDB). A iluminação pública foi afetada, os fios teriam ficado enroscados nos tratores e posteriormente teriam sido cortados pelos funcionários. “Nesses dias eles bloquearam a entrada da comunidade e não deixaram ninguém passar, nem mesmo quem ia trabalhar ou quem precisava de atendimento porque estava passando mal”, disse a moradora Jaqueline Silva.

A Prefeitura de São Bernardo, a exemplo do que tem feito desde o início das operações, não respondeu os questionamentos do Diário a respeito das ações truculentas da GCM e sobre a demolição de imóveis sem notificação.

No Dia da Mulher, moradoras são machucadas

O Dia Internacional da Mulher de 2024, celebrado ontem, ficará marcado na vida das moradoras da comunidade Grotão, na Vila São Pedro, em São Bernardo. E de forma não agradável. Pelo menos duas delas estavam entre os cinco feridos na tentativa de despejo promovida pela GCM (Guarda Civil Municipal).

Juliana Conceição, 36 anos, foi atingida na perna direita por uma bala de borracha. Ela afirmou que filmava a investida da guarda quando um agente mirou a arma em sua direção e atirou. A região atingida ficou em carne viva, com hematomas e inchada.

Moradora há três anos da comunidade, Kethellyn Mendonça dos Santos, 19, também foi atingida durante a ação de despejo. Ela, o marido e as duas filhas, uma de 10 meses e outra de 3 anos, inalaram a fumaça da bomba de efeito moral disparadas em direção à sua residência.

“Estávamos todos em casa, filmando da laje, quando o guarda mirou e saiu atirando sem necessidade nenhuma. Estávamos longe, sem tumultuar. Eles (guardas) não queriam que filmassem a ação por qual motivo”, questionou ela. “A bomba acertou no meu marido, em mim, em todos nós, inclusive nas crianças. Tivemos irritação por causa do gás. Muita violência sem necessidade”, lamentou.

Kethellyn revelou ainda que, durante a semana, as equipes da GCM informaram que iriam entrar na comunidade para recolher os entulhos deixados depois da demolição, porém, o argumento foi utilizado como pretexto para a guarda derrubar mais imóveis.

Procurada, a Prefeitura de São Bernardo não quis se manifestar.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;