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Guerra: perda de vidas e tempo
Bispo Dom Pedro Cippolini
07/03/2024 | 09:11
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Gilmar


No momento atual a humanidade se vê às voltas com vários conflitos, são dezenas espalhados pelo planeta. Guerra na Síria, Sudão, Yemen, na Ucrânia, na Facha de Gaza etc. No dizer do Papa Francisco é uma terceira guerra em pedaços. 

Com a guerra todos perdem e ninguém ganha. Mesmo os fabricantes de armas perdem. Isto porque, com a paz multiplicam-se as pequenas coisas necessárias do dia a dia; com a guerra, dispersam-se as grandes! 

Apesar deste panorama de violência, fruto da ambição desmedida de pessoas e grupos, pois é a ambição, a ganância, a sede de poder e a vaidade que geram as guerras, os cristãos têm a convicção de que é possível chegar à paz onde há conflitos.

Jesus foi da paz, pregou e defendeu a paz: “Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Um seguidor de Jesus Cristo, filósofo e teólogo, estudado até hoje, Santo Agostinho, deixou escrito que “é tal o bem que chamamos paz, que nas coisas humanas não é possível desejar outro mais alegre ou mais útil”.

Condição para a paz, em primeiro lugar é colocar fim á corrida armamentista, realizando um desarmamento geral em especial quanto aos grandes artefatos nucleares e atômicos. O velho ditado troglodita que diz: Se queres a paz prepare a guerra, é cínico e não funciona, a não ser como intimidação provisória. Está aí a escalada armamentista fundada na competição, no medo e na morte.

Outra condição para a paz é compreender que o equilíbrio das relações internacionais passa pelo aprendizado da convivência fraterna, fundada na justiça. A paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17).

Outra condição para a paz é a renovação das convicções morais e espirituais. É preciso romper com a mentalidade do domínio do mais forte, conforme a lei da selva. É preciso levar a sério a ordem querida por Deus. Os dez mandamentos entregues por Deus a Moisés, no monte Sinai, são plenamente válidos, é um código de ética de convivência com Deus e com o próximo.

Saber conviver é essencial. O filósofo Byung-Chul Han em seu livro, “A expulsão do outro”, mostra que o tempo no qual havia o outro, passou. Desaparece o outro como mistério, sedução, como eros, como dor... A negatividade do outro dá lugar, hoje, à positividade do igual. A proliferação do igual gera a patologia que aflige o corpo social: a depressão. A depressão destrutiva não vem do outro, mas de dentro.

Sem a amizade social, a convivência pacífica com o outro, com o diferente, nossa sociedade adoece e estabelece a agressividade, a violência e por fim a guerra como modus vivendi. Triste!

Sem dúvida que para se alcançar a paz necessitamos de superar a desigualdade social e econômica. É vergonhoso que em um mundo com capacidade de produzir alimentos como nunca, ainda existam milhares de pessoas passando fome. Enquanto houver fome não alcançaremos a paz.

Neste período quaresmal, convém recordar que o desígnio de Deus é desígnio de paz. Quem crê em Deus tem obrigação maior de promover a paz, falando de paz e promovendo a paz. Isto, porque sabe que a guerra é uma perda de tempo que atrasa o sonho de Deus que um dia se realizará: “as armas de guerra se transformarão em instrumentos de paz (cf. Is. 2,1-5): “justiça e paz se abraçarão” (cf. Sl 85,11).




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