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Prefeitura de S.Bernardo derrubou 18 imóveis na Vila São Pedro

Agentes da GCM utilizam bombas e gás de pimenta contra moradores em ação não notificada pelo Paço; pelo menos quatro pessoas ficam feridas

Thainá Lana
06/03/2024 | 07:56
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FOTO: Celso Luiz/DGABC


Moradores da Vila São Pedro, em São Bernardo, foram surpreendidos na manhã de ontem por tratores e equipes da GCM (Guarda Civil Municipal) em ação de despejo na comunidade Grotão. No total, as equipes da Prefeitura derrubaram 18 imóveis em construção ou recém-construídos e só não avançaram porque os munícipes fizeram barricada com pneus queimados para impedir outras demolições.

Segundo os moradores, a operação foi marcada por violência dos guardas da Romu (Ronda Civil Municipal), com uso de bombas, gás de pimenta e cassetetes. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas durante a ação, incluindo um bebê de 1 ano que teve irritação nos olhos por causa do efeito do gás. Um homem foi atingido por uma bala de borracha no rosto e outro teve ferimentos leves nas costas em decorrência de um golpe de cassetete.

Raimunda Pereira Cruz, 61 anos, desmaiou durante a ação de despejo com medo de que a sua casa fosse demolida. Moradora há 23 anos do local, ela revelou que ficou muito nervosa quando o trator começou a avançar contra as casas próximas à sua. “Se tivéssemos condições, iríamos morar de aluguel em outro lugar. Pensei que fosse perder tudo que construí ao longo desses anos, fiquei com medo”, afirmou a moradora, bastante abalada.

O advogado Hevelton Colares da Silva, que representa a comunidade, explica que o local é uma área de proteção ambiental, habitado por 220 famílias há mais de 30 anos. No terreno público, alguns imóveis estão caracterizados em situação de risco iminente por estarem localizados no curso da água.

Na semana passada, equipes da Defesa Civil de São Bernardo teriam notificados 23 imóveis que estão em área de risco, após uma igreja desabar por causa das fortes chuvas no município. Silva ressalta que as casas demolidas na terça-feira não foram notificadas previamente pela Prefeitura.

“A GCM veio de forma truculenta com uma ação não programada e sem nenhuma notificação, porque os imóveis comunicados estão na parte de baixo da comunidade, e eles demoliram os que estão em cima. Conseguimos dialogar com os funcionários da habitação, e três famílias já notificadas vão deixar suas casas de forma pacífica por causa do risco iminente”, afirma o advogado.

Após a notificação na semana anterior, a Prefeitura ofereceu auxílio aluguel de R$ 315 por três meses às famílias com aviso de despejo. Silva pontua que o valor é muito baixo e busca negociação com o Executivo. “As pessoas não estão se recusando a sair da área de risco, mas é preciso oferecer um auxílio para que elas consigam se recompor em outro local de forma digna, é preciso inserir as famílias em um programa habitacional. Caso contrário, elas vão mudar de uma área para outra, pois não têm condições”, esclarece.

Linderson Rodrigues de Oliveira, 40, morador há 17 anos da comunidade, revela que após a notificação da Prefeitura, algumas famílias procuraram a Promotoria Pública de São Paulo solicitando uma reunião com a unidade de São Bernardo e com a Defesa Civil para tentar encontrar uma solução diante da ordem de despejo dos moradores.

“Justo no dia em que a reunião foi marcada com a Defensoria Pública e com representantes da Prefeitura, essa ação ocorre. Estamos buscando uma liminar na Justiça para tentar impedir que as famílias notificadas sejam despejadas. A operação que ocorreu hoje (ontem) foi administrativa, e não judicial, então poderia ter sido avisada, feita com calma. Eles vieram avançando, com violência. Não teve nenhuma conversa. Só não destruíram mais casas porque não conseguiram passar pelos moradores”, disse Oliveira.

Procurada, a Prefeitura de São Bernardo não respondeu aos questionamentos sobre o episódio até o fechamento desta edição.




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