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Quase um terço da água potável é desperdiçada no Grande ABC

A cada 100 litros captados, tratados e prontos para serem distribuídos, 29,23 litros são perdidos; vazamentos e furtos são as principais causas

Thainá Lana
13/02/2024 | 07:45
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(FOTO: Claudinei Plaza/DGABC, 23/8/2023)


Quase um terço da água potável é desperdiçada em seis municípios do Grande ABC, com exceção de São Caetano. A região registrou um índice de perda de 29,23%, ou seja, a cada 100 litros de água captada, tratada e pronta para ser distribuída, 29,23 litros são perdidos no caminho. Os dados são do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), referentes à coleta de informações de 2023, com ano de referência de 2022.

A perda de água está associada à ineficiência da distribuição pelas companhias de saneamento básico do País, conforme afirma a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto. A empresa trata a água do rio, e nesse processo entre a saída da estação de tratamento de água e o hidrômetro que está na casa do consumidor, existe a perda do recurso.

A principal causa do desperdício é a perda física, ocasionada por vazamentos no sistema de distribuição de água, por meio de rompimentos de tubulações por debaixo do pavimento ou até mesmo vazamentos na superfície. Além disso, tem também a perda comercial, causada por furtos de água encanada, mais conhecidos como ‘gatos’.

“A ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) publicou uma portaria que até 2034 os municípios precisam chegar a 25% de perda de água. Esse é o nosso objetivo como País, entendendo que um pouco de perda é aceitável, tendo em vista que o Brasil tem um volume de recursos hídricos grande”, explica a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, organização formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do Brasil.

No País, a taxa de desperdício de água registrada em 2022 foi de 34%, enquanto em São Paulo o índice é de 37,7%. Em Mauá, quase metade, 46,7%, da água captada e tratada no município é perdida durante o processo de distribuição. Diadema e Ribeirão Pires também registram alto nível de desperdício, com 33% em cada cidade.

“Ao analisar as regiões com escassez hídrica, o desperdício de água é bem menor, isso porque as companhias tendem a não investir na redução de perda de água devido ao amplo recurso natural disponível. Com as metas estabelecidas, as empresas terão que se adequar. Quase todos os municípios do Grande ABC, precisarão baixar os seus índices de desperdício”, acrescenta Luana.

Atualmente, o único município da região que possui a taxa de desperdício abaixo do recomendado é São Caetano – a cidade é também a única a não ter o serviço de abastecimento operado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), e sim pelo Saesa (Serviço de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental).

CONSEQUÊNCIAS

A presidente executiva do Instituto Trata Brasil esclarece que as consequências do desperdício de água impactam o meio ambiente e o bolso do consumidor. “Estamos captando um volume muito maior de água dos rios do que estamos utilizando, e isso prejudica aquele manancial, porque a água é um bem finito. Além disso, essa ineficiência no sistema de distribuição vai diretamente para tarifa, porque a companhia está gastando com produtos químicos para tratar a água e com energia elétrica para enviar para as residências. Quanto menos perdas tivermos no processo, menos água vamos captar e tratar, e a distribuição será mais eficiente”.

Para reduzir as perdas durante o processo, Luana destaca que as companhias de saneamento básico precisam investir no monitoramento do sistema de distribuição, com sensores de vazão e pressão para identificar vazamentos ocultos, uso de aparelhos para localizar as lacunas abaixo da superfície, entre outros métodos.

AÇÕES E INVESTIMENTOS

Questionada, a Sabesp informou que investe constantemente no combate a perdas de água nos municípios que atende e que desde 2009 mantém o Programa Corporativo de Redução de Perdas, que atua na substituição de redes e troca de ramais e hidrômetros, na inspeção das tubulações para identificar vazamentos e fraudes e no aumento da eficiência operacional do sistema. Em 2023, a companhia investiu R$ 1,03 bilhão em ações para combater as perdas.

Sobre o alto índice de desperdício em Mauá, a companhia ressaltou que assumiu o abastecimento de água no município em dezembro de 2020, e que investiu R$ 7,7 milhões no combate a perdas na cidade.

MORADOR DA REGIÃO CONSOME MAIS DO QUE A MÉDIA NACIONAL

 Diariamente, cada habitante do Grande ABC utiliza 154,57 litros de água. O volume é acima da média nacional, com 148,19 litros gastos por pessoa, por dia, e abaixo do utilizado no Estado, de 178 litros de água. 

São Caetano é o município da região com maior volume de água consumida por dia, com 229,29 litros. Na sequência aparecem Santo André, com 165,84 litros, e São Bernardo, com 163,59 litros de água. (Veja dados na arte acima)

Segundo a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, o mínimo necessário para um ser humano viver é de 100 litros por dia, e a conscientização e a eficiência na distribuição influenciam no volume consumido.

“Regiões onde existe ineficiência no sistema de distribuição, o consumo diário acaba sendo menor. No Nordeste, por exemplo, o volume utilizado por cada morador é de 121 litros, porque tem dias que a água não chega na casa do cidadão e não tem como fazer suas atividades. O recurso pode não chegar por conta de problemas na distribuição ou por conta de escassez hídrica”, destaca. 

A especialista explica que o consumo em São Paulo é um dos maiores do País por conta da abundância hídrica, e que o Estado não investe em campanhas de conscientização para reduzir o consumo. 

“O senso de escassez traz maior conscientização para a população. O Estado passou por um problema pontual em 2014, mas não vive uma crise hídrica, então as pessoas pensam que a água é um bem infinito, sendo que não é. Promover campanhas de conscientização é importante para provocar pequenas mudanças de hábitos”, alerta Luana. 

Entre as dicas para reduzir o consumo diário estão: acumular roupa suja para lavar de uma vez, fechar o chuveiro enquanto ensaboa o corpo, lavar o carro e o quinta com bacia ao invés de mangueira, entre outras ações. 

“Com essas atitudes, estamos ensinando nossos filhos e netos sobre a importância da conscientização. Eles serão os mais impactados no futuro caso a gente não cuide desse bem que é finito”, finaliza. 




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